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Irmã Mirta: ‘nossa vocação realiza a caridade de salvar almas’

“A vida consagrada está no coração da Igreja, como elemento decisivo para a sua missão, pois exprime a íntima natureza da vocação cristã.”
(Citação extraída da exortação apostólica Vita Consecrata, de São João Paulo II, número 3)

Tatianna Porto

Irmã Mirta Angélica nasceu em uma pequena cidade rural no Paraguai. Aos 14 anos, despediu-se da famí­lia e ingressou em uma congregação missionária. “Desde o início, porém, eu sentia um desejo pelo claustro, por essa oração escondida. Mas tinha medo, medo de perder o contato com minha família, principalmente com meus pais”, recordou.

A confirmação desse chamado veio aos 24 anos, de forma inespera­da. “Descobri que estava com câncer nos ossos e precisei passar dois anos em tratamento, recolhida” O tempo de fragilidade e silêncio aprofundou a escuta interior. Com a cura, veio também a certeza: era hora de se en­tregar à vida contemplativa. Assim, ingressou na Ordem da Visitação de Santa Maria, fundada em 1610 por São Francisco de Sales e Santa Joana Francisca de Chantal, uma congrega­ção de clausura, dedicada à oração, ao silêncio e à entrega total.

A obediência ao chamado, porém, não foi simples. Como filha mais ve­lha de sete irmãos, Mirta enfrentou a resistência do pai, que sonhava vê­-la jornalista e constituindo família. A mãe, embora sempre ao lado da filha, não escondia a dor da separa­ção que a vocação exigia. “Durante quatro anos, meu pai não falou comigo. Foi um período difícil.”

O reencontro veio como graça inesperada. No dia de sua profissão religiosa no Brasil, a família, de ori­gem muito simples, só pôde enviar um representante. E quem veio foi o pai. Durante a missa, as palavras do rito tocaram profundamente o coração dele. Ao final, levantou-se, atravessou a igreja, foi até a filha e a abraçou longamente, chorando. Pe­diu perdão a Mirta e à superiora, com quem havia sido ríspido anos antes, quando a congregação buscava auto­rização para que ela, ainda menor de idade, pudesse viajar ao Brasil.

“Deus tinha seus planos”, repete hoje a Monja, com serenidade. E es­ses planos a conduziram ao silêncio do mosteiro, onde encontrou sentido e plenitude. “Durante meu discerni­mento, li uma frase de São João Paulo II que foi uma resposta clara de Deus para mim. Ele dizia que a vida mo­nástica é como o coração da Igreja, escondido atrás das costelas, que se parecem com as grades do claustro, mas que bombeia vida para todo o Corpo.”

Muitas vezes, religiosas de vida contemplativa são questionadas so­bre a “utilidade” desta vocação, com­parando com as religiosas de vida ativa que atuam em escolas, hospitais e tantas realidades de necessidade humana. Com um sorriso doce, Irmã Mirta responde com firmeza serena: “Nossa vocação também realiza ca­ridade, a caridade de salvar almas. A oração pela Igreja é um suporte para a missão. E eu sou plenamente reali­zada nesse chamado”.

“A clausura evoca, assim, aquela cela do coração, onde cada um é chamado a viver a união com o Senhor. Acolhida como dom e escolhida como livre resposta de amor, aquela é o lugar da comunhão espiritual com Deus e com os irmãos e irmãs, onde a limitação dos espaços e dos contatos ajuda à interiorização dos valores evangélicos.”
(Citação extraída da exortação apostólica Vita Consecrata, de São João Paulo II, número 59)

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