‘Madre Assunta viveu a sintonia da fé unida à missão de amar e acolher o irmão sofredor’

Destacou o Cardeal Scherer na missa na memória litúrgica da beata italiana que viveu em São Paulo na primeira metade do século XX

Wellington Barros/Comunicação Scalabrinianas

Em missa na noite do domingo, 30 de junho, a Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu (Scalabrinianas) festejou sua cofundadora, a Beata Assunta Marchetti, cuja memória litúrgica é celebrada em 1º de julho.

A Eucaristia foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, na Capela Assunta Marchetti, na Vila Prudente. Participaram as Irmãs Scalabrinianas, voluntários, crianças e famílias atendidas nas obras sociais da Congregação.

Madre Assunta foi beatificada há quase dez anos, em 25 de outubro de 2014, em solene cerimônia na Catedral da Sé.

VOCAÇÃO EM FAVOR DAS CRIANÇAS E MIGRANTES

Assunta Marchetti nasceu em Lombrici, de Camaiore, Itália, em 15 de agosto de 1871. Era a terceira dos 11 filhos do casal Angelo Marchetti e Carolina Ghilarducci. Toda a família se dedicava ao trabalho da moagem de cereais. Como meeiros dos proprietários, dependiam do moinho não só para o sustento, mas também para a moradia. Ela sonhava em se tornar uma religiosa clarissa, de vida contemplativa.

Aos 24 anos de idade, a pedido de seu irmão mais velho, o Padre José Marchetti, Assunta veio ao Brasil. Aqui chegou em 27 de outubro de 1895, juntamente com sua mãe, Carolina, e duas jovens, para zelar pelas crianças do orfanato feminino no bairro da Vila Prudente. Era o início de uma trajetória marcada pelo cuidado aos órfãos dos imigrantes italianos, aos doentes e aos migrantes em situação de pobreza.

A Madre foi missionária nas Santas Casas de Misericórdia de Monte Alto e Mirassol, no interior paulista, e em um asilo em Jundiaí. Também atuou em escolas nas cidades gaúchas de Nova Bréscia, Bento Gonçalves e Farroupilha.

A Religiosa atendia a todos os que batiam à porta do pequeno ambulatório instalado no orfanato de Vila Prudente. Nos hospitais, os enfermos sempre a queriam por perto. Madre Assunta ouvia com atenção a necessidade de todos e costumava dizer que “o Cristo presente na Eucaristia era o mesmo presente nos sofredores”.

Madre Assunta morreu em 1º de julho de 1948. Seus restos mortais estão sepultados na capela do antigo orfanato, que em 2014 se tornou um memorial, com objetos pessoais, fotografias e documentos que contam um pouco da história da Religiosa.

AÇÃO DE DEUS

Irmã Jaira Oneida Mendes Garcia, MSCS, Vice-postuladora da causa de canonização de Madre Assunta, enfatizou que a Beata confiou na ação de Deus para o bom funcionamento de suas obras e dedicou-se aos mais pobres, doentes e para a expansão do carisma missionário das Scalabrinianas.

“Madre Assunta viveu na humildade e simplicidade sua consagração e missão, no serviço generoso aos migrantes, aos órfãos e aos enfermos. Viveu sua fé de forma coerente, trilhando um caminho de santidade nas situações ordinárias do dia a dia”, enfatizou Irmã Jaira, afirmando que essas virtudes impulsionam as quase 600 religiosas Scalabrinianas na missão que desempenham até hoje em São Paulo e em 27 países.

Irmã Jaira recordou que Madre Assunta “é um modelo de missionária autêntica, que se deixou moldar por Cristo, pela Palavra e pela Eucaristia, legando um profundo e autêntico senso de fidelidade ao carisma Scalabriniano, especialmente entre os migrantes, órfãos e doentes”.

A Vice-postuladora mencionou que as atitudes de colocar os outros sempre em primeiro lugar, a constância na oração e as virtudes da acolhida e do cuidado com a vida sofrida dos migrantes deram a Assunta o título de “Mãe dos Órfãos”.

“Antes de resolver alguma situação, ela ia diante do sacrário confiar a Jesus; incentivava as irmãs a estudarem para a missão. Seu carisma e exemplo solidificaram a Congregação como ‘Missionárias com os Migrantes’”, finalizou a consagrada.

A MISSÃO CONTINUA

Assunta Marchetti deixou as marcas de sua presença missionária e de santidade. Atualmente, o Projeto Conviver oferece atividades de formação humana e cristã, música, artesanato, dança esportes entre outras oficinas, para 104 crianças e adolescentes de 6 a 15 anos no contraturno escolar. Já o Projeto Casa da Acolhida proporciona hospedagens provisórias para até seis famílias venezuelanas, que permanecem no local entre três e quatro meses.

Irmã Celina Lessa Nazário, diretora dos projetos Madre Assunta, frisou que “no tempo da Fundadora as necessidades eram outras e que as ações da congregação sempre beneficiaram pessoas em situação de vulnerabilidade. Atualmente, os Projetos Conviver e a Casa da Acolhida continuam a ajudar a quem precisa”.

Claudio, 43, e Elma Xavier Farias, 37, são pais do Kauê, 15, e Valentina, 9. Os filhos frequentam o Projeto Conviver. “Meu esposo e eu trabalhamos e encontramos no projeto um espaço seguro para nossos filhos. Podemos trabalhar tranquilos, sabendo que eles estão em segurança e aprendendo”, afirmou a mãe.

Andreina Gomes, 40, veio da Venezuela há 4 meses com os filhos Javier, 6, e Victoria, 10. “Fui acolhida, tive um lar para meus filhos e agora consegui uma vaga de emprego de costureira. Eu estou feliz”, disse, emocionada.

Milca da Silva, 46, fisioterapeuta, participou do projeto dos 8 aos 11 anos de idade, na década de 1990: “Minha mãe precisava trabalhar e não tinha com quem deixar minhas duas irmãs e eu. Aqui, passei por três anos, um período de aprendizado que moldou minha personalidade. O projeto me deu a possibilidade de estudar e me abriu portas”. Hoje ela atua como voluntária, ajudando na captação de recursos para manter as ações.

A BEATIFICAÇÃO

O milagre reconhecido pela Igreja que a levou à beatificação da Madre Assunta Marchetti, em 2014, foi a cura de Heraclides Teixeira Filho. Em 1994, ele sofreu paradas cardíacas e precisou ser internado no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre (RS). Uma dessas paradas se prolongou por mais de 15 minutos, fazendo com que a equipe médica considerasse a possibilidade de sequelas, devido à falta de oxigenação no cérebro.

A família rezou à Madre para que intercedesse junto a Deus por Heraclides e ele recobrou a saúde, sem sequelas. Após a análise dos médicos do Vaticano, a cura foi considerada um milagre.

O Papa Francisco em sua carta apostólica de beatificação de Madre Assunta a definiu como “testemunha da caridade de Cristo para com os migrantes e órfãos, dos quais foi ‘mãe’ terna”.

FÉ APOSTÓLICA

Na homilia da missa do dia 30 de junho, ao refletir sobre o Evangelho, extraído do relato de São João, Dom Odilo recordou a fé de São Pedro e São Paulo, colunas da Igreja, e fez menção à Beata.

“Pedro e Paulo, bem como Madre Assunta, viveram a fé e a caridade fiéis aos ensinamentos de Jesus Cristo”.

O Purpurado ainda salientou que “nossa fé é uma herança apostólica, e Madre Assunta é um exemplo de fé. Ela viveu a sintonia da fé unida à missão de amar e acolher o irmão sofredor”, disse. “O testemunho da Beata revigora a força para a missão e para a caridade”, enfatizou.

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