Celebração realizada na Catedral da Sé integra tradição cristã e espírito patriótico

Na manhã da segunda-feira, 7, a Catedral da Sé ganhou ornamentos diferentes, anunciando uma celebração especial. O presbitério, marcado pela sobriedade litúrgica, foi suavemente colorido pelas bandeiras dispostas atrás da cátedra, sinalizando que fé e civismo ‘comungavam’ ali em perfeita harmonia. O canto gregoriano encontrou eco na musicalidade da banda militar. Era a Páscoa dos Militares da Guarnição Militar de São Paulo, que reuniu membros das Forças Armadas, Forças Auxiliares e autoridades políticas em um momento solene de piedade, comunhão e festa.
MEMÓRIA DE GUERRA, SINAL DE ESPERANÇA
A celebração, embora fora do calendário litúrgico, carrega raízes históricas. As Forças Armadas e Auxiliares passaram a realizar, após a Semana Santa, a chamada “Páscoa dos Militares”, uma data simbólica e institucional que permite reunir os efetivos muitas vezes impossibilitados de participar das celebrações pascais por estarem em serviço.

A tradição teve origem ao fim da 2ª Guerra Mundial, cujo término completa 80 anos em 2025. Na época, muitos militares brasileiros estavam em campanha no exterior e, ao retornarem ao País após a Páscoa, receberam da Igreja a concessão para celebrar a Ressurreição de Cristo em solo nacional. A motivação era dupla: agradecer a Deus pelo retorno seguro e oferecer, em memória, a vida dos que não voltaram. O gesto, marcado pela fé, pela gratidão e pelo sentimento de vitória, transformou-se ao longo dos anos em um rito anual que reafirma os valores de honra, serviço e esperança que definem a vocação militar à luz do Ressuscitado.
AUTORIDADES CIVIS E ECLESIÁSTICAS
A celebração, coordenada pela Polícia Militar do Estado de São Paulo, foi presidida por Dom Marcony Vinícius Ferreira, Arcebispo do Ordinariado Militar do Brasil, e concelebrada por capelães militares. Na assembleia de fiéis esteve o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e sua esposa, Cristiane Freitas; e oficiais e autoridades das Forças Armadas e Auxiliares, entre as quais o Tenente-Brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, Comandante da Força Aérea Brasileira (FAB); e o General Pedro Celso Coelho Montenegro, comandante do Exército no Comando Militar do Sudeste (CMS).

Antes da celebração, às portas da Catedral, o Cardeal Odilo Pedro Scherer saudou e deu as boas-vindas a todos, com destaque para os militares perfilados sob a sombra dos coqueiros imperiais da Praça da Sé.
Em sua breve saudação, o Arcebispo Metropolitano destacou: “Além da celebração da Páscoa, que para nós, católicos, é o centro do ano litúrgico, este ato também marca o momento da peregrinação jubilar. A família militar, de muitas maneiras, é chamada a contribuir com esperança para a construção de um Brasil melhor, por meio do serviço que presta em suas diversas especialidades. Que esta celebração seja também uma renovação da alegria no servir e da generosidade das vidas oferecidas em prol do bem comum, da defesa, da segurança e das tantas áreas em que atuam para o bem da sociedade.”
A PAZ QUE NASCE DO RESSUSCITADO
Logo no início da celebração, a entrada das imagens de Nossa Senhora da Defesa e de Nossa Senhora Aparecida traduziu a confiança dos fiéis na proteção da Mãe de Deus, invocada sob dois títulos caros à espiritualidade militar e nacional.
Na homilia, Dom Marcony destacou o sentido da celebração: “A Páscoa se torna uma solene liturgia, na qual fazemos uma pausa em nosso exercício de entrega para dizer a Deus o nosso muito obrigado e pedir bênçãos e graças para a continuidade da nossa missão”.

Ao refletir sobre o Evangelho, o mesmo da liturgia da Solenidade da Páscoa da Ressurreição de Jesus, que relata aparição de Cristo aos discípulos e Sua saudação de paz, o Arcebispo Ordinário Militar do Brasil acrescentou: “A paz não é simplesmente o fim da guerra. Podemos estar no meio de um conflito e, ainda assim, viver em paz. Ou, ao contrário, estar em tempos pacíficos e travar uma guerra interior, porque a verdadeira paz é a presença do Ressuscitado, é a certeza de que a vida vence a morte”.