Na missa em ação de graças por este reconhecimento, presidida pelo Cardeal Scherer, 76 membros renovaram suas promessas de entrega de vida em favor dos mais pobres
A Catedral da Sé estava lotada na tarde de sábado, 13, para a missa em ação de graças pelo reconhecimento definitivo do estatuto da Missão Belém.
Na Eucaristia, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, 76 pessoas fizeram a renovação das promessas como membros desta associação privada de fiéis, reafirmando sua entrega em favor dos mais pobres, sobretudo da população em situação de rua. Nos próximos meses, outras 30 pessoas farão esta promessa na Itália e no estado do Pará.
COM CRISTO JUNTO DOS POBRES
Criada em 2005, a Missão Belém recebeu a aprovação na Arquidiocese de São Paulo como associação privada de fiéis de direito diocesano em 2010. Em 2016, foi concedida a aprovação “ad experimentum” ao estatuto da entidade. Em seguida, houve o reconhecimento civil como organização religiosa, seguindo as orientações da Arquidiocese de São Paulo. Finalmente, em 2023, a Missão obteve a aprovação do estatuto canônico e, em 2024, a aprovação definitiva.
“A aprovação é a confirmação da nossa missão: ser família para quem não tem família, ser a presença de Cristo pobre junto aos pobres. Nascemos para os pobres, desejamos viver como pobres e para eles, tendo plena identificação com os pobres e repetindo o milagre de Belém: Maria, José e Jesus, uma família forte e unida no meio da pobreza”, ressaltou o Padre Gianpietro Carraro, Fundador da Missão Belém, em entrevista ao O SÃO PAULO.
Referindo-se à renovação das promessas de 76 membros da Missão, o Sacerdote enfatizou ser motivo de alegria “ver os leigos que auxiliam no trabalho nas casas de acolhida e nos grupos de evangelização confirmando seu chamado no carisma. As promessas são uma forma de aprofundar a vocação batismal por meio do serviço aos mais pobres, servindo no amor e na gratuidade”.
‘REVIVER O MISTÉRIO DE BELÉM’
Irmã Cacilda da Silva Leste, cofundadora da Missão Belém, recordou a trajetória da associação católica que atualmente conta com mais de 25 mil membros de aliança (entre os quais aqueles que são acolhidos nas casas) e cerca de 50 membros consagrados. Há 180 casas de missão e aproximadamente 700 pessoas estão acolhidas nas comunidades. Nestes 19 anos de atividades, mais de 100 mil pessoas que viviam nas ruas foram acolhidas, o que só foi possível graças aos ex-irmãos de rua restaurados que se tornaram missionários.
“A Missão Belém se propõe a reviver o Mistério de Belém expresso na 4ª promessa: a Sagrada Família no meio dos pobres. Jesus nasce pobre no meio dos pobres. Hoje, toda a Missão Belém deseja renovar o seu sim a Deus, com o coração cheio de alegria e agradecimento por ter-nos chamado a esta vida e missão de amor”, expressou Irmã Cacilda.
A Missão Belém é também responsável pelo Projeto Vida Nova, inaugurado em 2018, como gesto concreto da Arquidiocese de São Paulo no Jubileu Extraordinário da Misericórdia. No Edifício Nazaré, na Praça da Sé, pessoas que desejam deixar as ruas ou a dependência química recebem a primeira acolhida até serem encaminhadas a uma das casas da associação.
Há, ainda, o Projeto Nova Guadalupe, no Belenzinho, na zona Leste de São Paulo, com um terreno de 1,2 mil metros quadrados, em um edifício que terá 19 andares, sete dos quais dedicados à acolhida a pessoas em situação de rua com doenças mais graves.
Desde 2010, a Missão Belém também está em um dos bairros mais pobres de Porto Príncipe, capital do Haiti. Ali os missionários atuam em um centro educativo que atende cerca de 3 mil crianças e adolescentes de até 15 anos de idade, com atividades e projetos na área da educação, saúde e profissionalização para os jovens. Há também um centro de saúde, que realiza mais de cem atendimentos diários.
‘SER FAMÍLIA PARA QUEM NÃO TEM FAMÍLIA’
“Esta é uma obra de evangelização”, ressaltou Dom Odilo na homilia da missa no sábado, ao mencionar as ações da Missão Belém e lembrar que a evangelização, antes de tudo, atinge as pessoas que estão à margem da sociedade e transforma suas vidas.
“Há quase 20 anos, a Missão Belém vem amadurecendo sua proposta inicial: estar com os pobres”, disse o Purpurado, recordando a etimologia desta associação: “Missão Belém lembra a gruta de Belém, o nascimento de Jesus. Não havia lugar para eles. A Missão Belém representa a solidariedade do Filho de Deus para com os pobres e rejeitados. A Missão Belém quer ser a imagem de Cristo na sua pobreza”.
Dom Odilo afirmou que a lição de Belém é o ícone daquilo que a Igreja dever ser: “Família, lugar de acolhida e fraternidade. A associação Missão Belém é para muitas pessoas pobres a família para quem não tem família. Família que acolhe, ama, cuida e evangeliza. É sinal do Reino de Deus por meio de poucas palavras e muita ação concreta”, disse o Arcebispo, enaltecendo o costume dos membros da Missão de “ler diariamente a Palavra de Deus e escrever uma palavra para pôr em prática ao longo do dia”.
O Cardeal Scherer agradeceu aos missionários, voluntários e benfeitores da Missão Belém e exortou-lhes: “Continuem a missão no silêncio, pois Deus está vendo. Continuem a ser família, pois a família ajuda a quem precisa, acolhe e cuida das feridas. Bonito ver a ajuda mútua nas casas, todos são irmãos e se cuidam mutuamente”.
PROSSEGUIR NA MISSÃO
Em pé e perante toda a assembleia de fiéis, 76 membros da Missão Belém proclamaram juntos a oração da renovação das promessas.
Entre esses, havia homens e mulheres, casados e solteiros, que conheceram o trabalho da Missão Belém nos diversos grupos de evangelização ou na atuação pelas ruas. Débora Honório Simão, 36, foi uma dessas pessoas. “Após o falecimento da minha avó, eu mergulhei no mundo das drogas. Fui resgatada pela Missão Belém. O Padre Gilson dos Reis [falecido em 2021] me incentivou e me ajudou no discernimento, e hoje sou membro com as promessas de seguir a Cristo e acolher o irmão que, assim como eu, precise de um olhar e cuidado, de uma casa”, afirmou.
O casal Tatiane e Rodrigo Santos de Paulo também renovou promessas. “É um momento de ação de graças e confirmação. É tempo de comunhão entre os membros que desejam caminhar juntos no carisma de amar e acolher o irmão pobre”, afirmou Tatiane.
“Como família, queremos, a exemplo da Família de Nazaré, acolher o Cristo que está na dura realidade da rua ou da drogadição. Ser membro dessa comunidade é amar e servir com alegria mesmo em meio as tristes realidades vividas por centenas de irmãos”, complementou Rodrigo.
Conheça mais sobre os propósitos e os projetos da Missão Belém no site https://www.missaobelem.org.