No Dia de Finados, enlutados encontram acolhimento em tendas de oração e de conversa em cemitérios

No sábado, 2, Dia de Finados, quem foi ao Cemitério da Quarta Parada, no Belenzinho, pôde participar de uma das duas missas ali celebradas, além de encon­trar sacerdotes, diáconos, seminaristas, membros de novas comunidades e leigos dispostos a oferecer uma palavra amiga, a oração em sufrágio dos falecidos e uma garrafinha de água benta em uma tenda montada próxima às salas de velório, na entrada principal.

Redenção

A iniciativa, também realizada nos ce­mitérios da Vila Alpina e da Vila Formosa, foi conduzida pela Pastoral da Esperança da Região Belém.

A ESPERANÇA NA RESSURREIÇÃO

“A Pastoral busca reavivar no coração das pessoas o sentido da ressurreição da vida. Nossa ação não abrange somente a dimensão da ida a velórios ou cemitérios, mas tem por objetivo ressignificar a vida diante das frustrações ou da perda do sen­tido de viver, tendo a certeza de que Deus tem algo novo para nós”, disse, ao O SÃO PAULO, o Padre José Mário Ribeiro, Pá­roco da Paróquia Nossa Senhora da Con­ceição, no Tatuapé, e Assessor Eclesiástico regional da Pastoral da Esperança.

A escala dos voluntários nessa ação envolveu todas as comunidades da Região Belém.

Os agentes dessa Pastoral se organizam em suas paróquias e comunidades para atender os fiéis nos momentos de exéquias e nos velórios. “É uma ocasião para aco­lher a família e evangelizar, aproximar as pessoas de Deus e ressignificar a dor em esperança e conforto, na certeza da ressur­reição”, assegurou o Padre José Mário.

Redenção

AJUDA A QUEM SOFRE A DOR DA PERDA

Marina Bueno, 62, foi ao Cemitério da Quarta Parada levar flores e rezar junto ao túmulo de seus entes já falecidos: João, esposo, e Manoel, filho. “Na tenda, ganhei uma bonita oração e palavras de conforto que serenaram meu coração, e uma garra­finha de água benta”, contou, emocionada. “Todos os anos, venho ao cemitério e fi­quei feliz em ver a presença da Igreja aqui na tenda”, comentou.

Isabela Pereira dos Santos, 16, é volun­tária da Pastoral da Esperança na Paró­quia Nossa Senhora da Conceição. “Nossa missão vai além da paróquia e, com nosso testemunho, queremos ajudar o irmão que sofre a dor da perda a amenizar a sauda­de com uma palavra amiga e, sobretudo, reforçar que com Jesus não estamos sozi­nhos. Ele nos guia e conforta”, disse.

A jovem contou que a Pastoral foi im­portante para ela quando seu avô, Dirceu, faleceu há dois anos: “Eu estava triste com sua partida e a Pastoral me ajudou a res­significar a dor da perda para a saudade e a esperança”.

A ESCUTA QUE FAZ TODA A DIFERENÇA

Serviço de Escuta

Também no sábado, 2, no Cemitério do Araçá, no Sumaré, voluntários do Ser­viço de Escuta se revezaram para acolher as pessoas que passavam pela tenda em busca de conforto e oração. Algumas de­las também participaram de uma das oito missas que a Região Sé organizou naquele dia no cemitério.

Ligia Terezinha Pezzuto, coordenado­ra arquidiocesana do Serviço de Escuta, destacou que a montagem na tenda no ce­mitério teve o objetivo de acolher as pes­soas em um dia que é difícil para muitas delas. “O Serviço de Escuta atende qualquer pessoa, independentemente de denomi­nação religiosa. Não é terapia, no sentido psicológico, nem Confissão. Não se trata de pregar a Palavra, mas, assim como Je­sus, de escutar as pessoas. Ele as deixava falar, desabafar, como fez com os discípu­los de Emaús (cf. Lc 24,13-35) e com a Sa­maritana (cf. Jo 4,5-42). Escutar as dores, as angústias, os sofrimentos da pessoa que nos procura é nossa missão”, explicou Li­gia, elucidando que todos os voluntários participam de um curso preparatório com técnicas de escuta.

Na Arquidiocese de São Paulo, o Servi­ço de Escuta conta com aproximadamente 300 membros voluntários, atuando em di­ferentes paróquias.

COM OS OUVIDOS DO CORAÇÃO

Serviço de Escuta

Eliana Suemi Handa Okane, 60, é vo­luntária do Serviço de Escuta há dois anos, na Catedral da Sé. No Dia de Finados, ela esteve no Cemitério do Araçá: “O ato de escutar o irmão é um momento de escuta do coração. Diante da pessoa, coloco-me em atitude de escuta profunda para que ela sinta confiança e liberdade em parti­lhar sua dor”.

Sobre a ação no cemitério, Eliana res­saltou que nesse dia as pessoas querem, além de rezar por seus entes queridos, ver­balizar o que estão sentindo. “Aqui nossa missão é deixar a pessoa expressar sua dor para que se sinta confortada na saudade e na esperança”, finalizou.

Elisete Cândido, voluntária no Santu­ário São Judas Tadeu, participa dessa ação pastoral há quatro meses e um dia já pre­cisou de alguém que a escutasse. “Estava em um momento delicado da vida e foi na Pastoral que encontrei essa acolhida e consegui ressignificar minha vida. Como forma de gratidão, quero ajudar a quem precisa, assim como um dia precisei e fui atendida com amor e solicitude”, frisou.

Gabriela Mendonça, 31, recepcionista, foi ao Cemitério do Araçá para o velório de um amigo, assassinado aos 36 anos, vítima de um assalto. “Aqui na tenda, en­contrei pessoas que acolheram minha dor e me ajudaram a compreender que meu amigo está junto de Deus. Na certe­za da ressurreição, vivo meu luto”, disse, emocionada.

ONDE JÁ HÁ O SERVIÇO DE ESCUTA NA ARQUIDIOCESE
Região Sé: Paróquias Assunção de Nossa Senhora, Imaculada Conceição, Nossa Senhora da Achiropita, Nossa Senhora do Rosário, Santa Teresa de Jesus e São Luiz Gonzaga.
Região Ipiranga: Paróquias Santa Rita de Cássia, Nossa Senhora da Saúde e Santa Paulina; Capela Sagrada Família; e Santuário São Judas Tadeu; 
Região Lapa: Paróquia São Patrício;
Região Santana: Basílica Menor de Sant’Ana;
Região Belém: Paróquia Nossa Senhora da Conceição.

Capelanias católicas: presença e acolhimento no momento de maior dor

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Ser presença e consolo nos hospitais, seja para os enfermos, seja para seus fa­miliares, é uma das missões centrais das capelanias católicas.

Padre Carlos Toselli, da Ordem dos Ministros dos Enfermos (Camilianos), é Capelão da Capelania Católica São Camilo de Lellis do Instituto Central do Hospital das Clínicas (ICHC) da Facul­dade de Medicina da USP. “O serviço do capelão é ir ao encontro daqueles que sofrem no leito hospitalar, atendendo-os em suas necessidades e respeitando suas vulnerabilidades,” explicou o Sacerdote, destacando que essa missão exige dispo­nibilidade constante e uma atitude de so­licitude, refletindo o exemplo de Cristo ao cuidar dos enfermos.

Padre Carlos comentou que o con­tato com os pacientes e seus familia­res, realizado por meio das visitas nos leitos e das missas na Capela do ICHC, proporcionam um relacionamento ca­loroso e um espaço fecundo de oração, além da administração de sacramen­tos como a Confissão e a Unção dos Enfermos.

O Sacerdote explicou, ainda, a atua­ção da capelania em favor das famílias enlutadas. “No momento oportuno, anunciamos-lhes a Palavra de Deus que conforta e traz esperança. É, verdadeira­mente, uma pastoral de consolo e solida­riedade. Disponibilizamo-nos a oferecer nossa confiança em Deus Pai, que no seu Filho nos amou até o fim, para, assim, poder unir a Ele os sofrimentos dos que sofrem o luto”.

Padre Carlos detalhou que, quando necessário, é feita uma breve celebração no local em que a pessoa faleceu e de­pois, oportunamente, os familiares são convidados a participar de uma missa em sufrágio do falecido.

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