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No itinerário vocacional, nada deve ser imposto!

Padre João Henrique Novo do Prado
Reitor do Seminário Propedêutico Nossa Senhora da Assunção e Animador Vocacional da Arquidiocese

Arquivo pessoal

Queridos amigos, o Papa Francisco nos deixou uma bonita mensagem para o LXII Dia Mundial de Oração pelas Vocações, que acontece no IV Domingo da Páscoa. Sua mensagem vocacional está em plena sintonia com o Jubileu da Esperança que ele mesmo propôs para toda a Igreja. O Papa nos encoraja a sermos peregrinos de esperança, por meio da doação generosa de nossas vidas.

A Igreja, povo de vocacionados, propõe um itinerário de serviço de animação vocacional para que as pessoas consigam descobrir em qual estado de vida podem encontrar a felicidade, segundo os desígnios de Deus, e ser vocacionadas para a esperança. Assim, o  trabalho vocacional tem os seguintes objetivos:

  1. Despertar para a vocação humana, cristã e eclesial;
  2. Discernir os sinais indicadores do chamado de Deus;
  3. Cultivar os germes de vocação;
  4. Acompanhar o processo de opção vocacional consciente e livre.

QUATRO ETAPAS

As etapas do itinerário vocacional são:

1. Despertar

Centro Vocacional Arquidiocesano

Neste primeiro momento, o Serviço de Animação Vocacional quer levar todas as pessoas que fazem parte da comunidade cristã a tomar consciência de que são chamadas por Deus para a vocação universal à santidade. Essa etapa acontece progressiva e simultaneamente em três níveis.

O primeiro nível, é o da dimensão humana da vocação; isto é, nosso primeiro chamado é para sermos gente, pessoa, cultivando aqueles valores que caracterizam o ser humano como tal. Às vezes, fracassamos em nossas experiências vocacionais com as pessoas, porque queremos que elas abracem valores próprios de uma vocação específica, quando não se compreendem ainda como pessoas humanas, com qualidades a atitudes inerentes ao ser homem e ser mulher.

O segundo nível diz respeito à dimensão cristã da vocação. Trata-se de despertar para a vivência do compromisso batismal, para o exercício fiel da missão que nasce do Batismo que recebemos. Também aqui é preciso tempo e prudência, pois com facilidade podemos já logo transformar as pessoas em padres, freiras, sem antes nos atentarmos se de fato, essas pessoas são cristãos convictos. As consequências dessa precipitação são graves, pois passamos a ter padres, religiosos, religiosas com sede de poder, de dominação, incapazes de dialogar e de amar.

O terceiro nível, refere-se à dimensão eclesial da vocação. É preciso despertar para a concretização do compromisso batismal. Fazer as pessoas perceberem que não é possível ser cristão de forma genérica, mas somente no ato de assumir compromissos concretos, serviços específicos dentro da comunidade. O ser verdadeiramente homem ou mulher, cristão ou cristã, acontece tão somente quando somos capazes de sair de nós mesmos para irmos ao encontro dos outros na doação da nossa vida. É aqui, neste momento, que entendemos também que todo vocacionado deve ser um peregrino de esperança, pois como uma chama viva, deve ser sinal de Cristo, a esperança que não decepciona, na vida de tantos que vivem imersos na tristeza, no desânimo, no desespero e nas dores da vida, pessoas estas que estão dentro e fora das nossas comunidades de fé.

2. Discernir

Depois da etapa do “despertar”, as pessoas se sentirão “incomodadas” por Deus. É nesse momento que entra em ação o processo do discernimento; é o momento de se verificar quais são os sinais desse chamado de Deus. O processo do discernimento questiona as reais motivações e intenções da pessoa, ajudando-a a clarear o seu caminho. Mas o interessante é perceber que o verdadeiro discernimento não é aquele que conduz apenas a um final feliz. Muitas vezes o discernimento para o vocacionado é frustrante, pois faz a pessoa dar de cara com a sua ilusão, obrigando-o a buscar outro caminho. Quem ajuda a fazer o discernimento não deve se esquecer de que os principais agentes deste processo são o Espírito Santo e o próprio vocacionado. Além disso, não se faz discernimento vocacional sozinho: o discernimento deve ser feito sempre com a Igreja.

3. Cultivar ou desenvolver

É preciso cultivar os “germes da vocação”, ou seja, trabalhar mais a fundo os sinais do chamado divino, verificados e percebidos durante o processo do discernimento. Isto quer dizer que não basta constatar a existência de sinais autênticos de vocação. É preciso que haja um espaço de tempo reservado para “alimentar’’ estes sinais. Penso que com isso se queira superar aquele imediatismo que tantas vezes caracteriza o processo do itinerário vocacional. O medo de perder vocações leva-nos tantas vezes à pressa, à precipitação, àquela atitude de direcionar as pessoas, sobretudo no âmbito da vida consagrada e do sacerdócio. Às vezes, queremos a vocação para nós, para o nosso seminário, para a nossa congregação e não para a Igreja, e daí fazemos um discernimento bitolado, redutivo e o jovem termina optando por uma congregação ou pelo clero diocesano por não conhecer outras alternativas.

Esta etapa do itinerário suscita um serviço de animação vocacional mais global, integral, aberto a todas as vocações, que passa a ter uma visão mais eclesial das vocações, que promova, de fato, uma verdadeira Cultura Vocacional. Enfim, o trabalho vocacional deve promover todas as vocações e não apenas os interesses deste ou daquele grupo.

4. Acompanhar

É preciso acompanhar o (a) vocacionado (a) no seu itinerário vocacional, pois o caminho se faz caminhando.  Isso significa ter paciência, calma, espera e firmeza da parte de quem acompanha. Um elemento bastante significativo é a necessidade da presença constante do orientador vocacional durante o processo; seu papel não é o de ser “muleta”, que gera dependência e estagnação, mas o de ser companheiro de viagem, ajudando sempre mais a pessoa a firmar-se e a andar com os próprios pés. Neste acompanhamento, as pessoas precisam sentir-se verdadeiramente livres, não devem ser condicionadas por nada nem por ninguém; a escolha de cada um deve ser consciente. No itinerário vocacional, nada deve ser imposto! Aqui, sobretudo, é muito importante o apoio das famílias e das paróquias dos vocacionados.

Os desafios para o itinerário vocacional são muitos, é claro, mas podemos resumi-los em quatro:

  1. Queimar etapas: a ânsia de ver logo o jovem no lugar que a gente deseja pode levar o animador vocacional a pecar no acompanhamento da pessoa. Queimando etapas. Nota-se muita superficialidade, o que dá espaço à mediocridade e quem sofre é a própria Igreja.
  2. A falta de uma cultura vocacional: na sociedade de hoje, está cada vez mais difícil ajudar o jovem no processo de discernimento vocacional por conta das provocações do hedonismo, do consumismo e dos valores tão distorcidos que estão sendo difundidos. Na própria Igreja, pouco se fala, se trabalha, se promove a questão vocacional. Falta, também, mais testemunho de quem já encontrou a sua real
  3. Falta de uma promoção vocacional para toda a Igreja: com muita facilidade, enfatizamos um determinado tipo de vocação. Não podemos nos esquecer de que quando uma vocação é atingida, todas as outras sofrem as consequências. Não se pode promover uma e esquecer as outras. Que a mesma atenção seja dada às vocações ao ministério ordenado, à vida consagrada, à vida familiar e aos ministérios laicais.
  4. Dificuldades em criar equipes vocacionais paroquiais: é preciso entender a paróquia como lugar essencial para o despertar, para o cultivo e o acompanhamento vocacional. Essas equipes podem ser constituídas por representantes de todos os estados de vida.

O ACOMPANHAMENTO VOCACIONAL NA ARQUIDIOCESE

Na Arquidiocese de São Paulo, nós contamos com um Centro Vocacional, que tem como objetivo acompanhar as vocações suscitadas nas comunidades de fé e nas famílias. Essas vocações são acompanhadas pelo Animador Vocacional Arquidiocesano, que conta com a colaboração dos Animadores Vocacionais Regionais. Contamos com a presença e as orientações de um bispo auxiliar como referencial para as vocações em nossa Igreja Particular.  

O Centro Vocacional Arquidiocesano (CVA) está localizado na Rua da Consolação, 21, no Anhangabaú. O telefone para contato é o (11) 3237-2523. Cabe ao Centro Vocacional, na pessoa do seu responsável, acompanhar também as vocações ao Diaconato Permanente.

Como fruto do Ano Vocacional de 2023, foi criada uma ampla equipe vocacional arquidiocesana, que auxilia na articulação do trabalho vocacional nas Regiões Episcopais, promovendo eventos, encontros, momentos de espiritualidade, de oração e de entretenimento, tendo em vista o despertar vocacional.

O Serviço de Animação Vocacional organiza um encontro mensal para o despertar dos jovens que aspiram ao sacerdócio; e aos finais de semana, o animador vocacional, acompanhado de seminaristas visitam as paróquias da Arquidiocese para encontros com a juventude para falar sobre Vocação.

Pascom São José da Vila Zelina

Temos na Rádio 9 de Julho o programa “Vem e segue-me”, aos domingos pela manhã, com entrevistas com pessoas que por meio do seu testemunho vocacional encorajam, animam e despertam nos ouvintes o anseio em responder ao chamado de Deus. É também um meio de divulgar as atividades vocacionais da Arquidiocese, das Congregações Religiosas, dos Institutos Seculares e das vocações laicais.

Contamos também com a ajuda de voluntários para o Plantão Vocacional que acontece durante os dias de semana na Catedral. Dessa forma é que acontece o trabalho vocacional em nossa Arquidiocese.

Peço a todos os nossos leitores para que rezem, incentivem e apoiem as vocações presentes nas famílias, nas paróquias e nas comunidades de fé, pois necessitamos de vocacionados que se sintam chamados para difundir a esperança, com ousadia e coragem!

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