Na zona leste, a igreja dedicada à padroeira civil de São Paulo, na Diocese de São Miguel Paulista, completa 40 anos como Basílica, sendo espaço de oração, devoção e ação social

De diversos pontos da cidade, é possível avistar, no alto da colina do bairro da Penha de França, na zona Leste, a Basílica de Nossa Senhora da Penha, um santuário mariano repleto de história, referência à fé e à expressão cultural paulistana.
A pedra fundamental foi lançada em 15 de setembro de 1957, e, dez anos depois, no Natal de 1967, celebrou-se ali a primeira missa. Em 7 de junho de 1985, há 40 anos, São João Paulo II concedeu-lhe o título de Basílica Menor, em reconhecimento à intensa devoção popular e do papel de Nossa Senhora da Penha como padroeira civil de São Paulo.

‘NOSSA SENHORA QUER FICAR AQUI’
A devoção a Nossa Senhora da Penha surgiu em 1434, quando o peregrino francês Simão Vela encontrou, no alto da serra Penha de França, na Espanha, uma imagem da Virgem Maria. Ali, ergueu-se um santuário que rapidamente se tornou centro de peregrinação e milagres. De lá, a devoção espalhou-se pela Europa, chegou a Portugal e, posteriormente, ao Brasil. A festa litúrgica é celebrada em 8 de setembro, dia da Natividade de Maria.
No Brasil, a devoção começou em Vila Velha (ES), por volta de 1560, com a ermida erguida pelo Frei Pedro Palácios, franciscano, dando origem ao atual Convento da Penha. No Rio de Janeiro, chegou em 1635, após o capitão Baltazar de Abreu ser salvo de uma serpente ao invocar Maria, e no local ser construída uma capela, hoje o Santuário da Penha, famoso por sua escadaria.

Em São Paulo, a devoção teve início em 1667, quando um viajante francês, a caminho do Rio de Janeiro, pernoitou na colina do bairro Penha de França e ali esqueceu uma imagem de Nossa Senhora. Ao retornar, tornou a esquecê-la e, então, concluiu: “Ela quer ficar aqui”. A partir de então, formou-se a primeira igreja, hoje a chamada Igreja Velha da Penha (Santuário Eucarístico).
Em 1796, a Rainha Dona Maria I criou a freguesia de Nossa Senhora da Penha de França, desmembrando-a da Sé. Já em 1905, os padres Redentoristas assumiram a Paróquia, elevada em 1909 à dignidade de Santuário Arquidiocesano.

‘COLINA SANTA’
O bairro da Penha de França cresceu em torno do atual Santuário, tornando-se conhecido como “Colina Santa” e “Bairro dos Milagres”. Personagens históricos por lá passaram, como Dom Pedro I, que instalou o Paço de Nossa Senhora da Penha de França antes de proclamar a Independência do Brasil; também Dom Pedro II e a imperatriz Teresa Cristina.
Durante a Revolução Tenentista de 1924, o bairro chegou a servir como sede do governo paulista.
Ao longo dos anos, o fluxo de romeiros também motivou a construção do ramal ferroviário que ligava o bairro ao centro da cidade.

TRÊS TEMPLOS EM TRÊS TEMPOS
Três templos marcam a história da devoção à Penha: a Igreja Velha, de 1682, hoje Santuário Eucarístico; a Igreja do Rosário dos Homens Pretos, de 1802; e a Basílica, inaugurada em 1954, construída para acolher os romeiros vindos de todo o estado.
Essa trajetória se entrelaça com a da própria Arquidiocese de São Paulo, criada pelo Papa Bento XIV como diocese há 280 anos, em 1745, tendo sido elevada a Arquidiocese em 1908 pelo Papa Pio X, Em 1989, foi desmembrada por São João Paulo II, a partir da qual surgiram as Dioceses de Osasco, Santo Amaro, Campo Limpo e São Miguel Paulista, esta última onde está a Basílica de Nossa Senhora da Penha.

INTERCESSORA DOS PAULISTANOS
Nossa Senhora da Penha é invocada como protetora contra epidemias e, em tempos de surtos em São Paulo, sua imagem era conduzida em procissão até a Catedral da Sé, gesto repetido durante a pandemia de COVID-19, em carreata, quando foi acolhida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer.
Segundo Padre Edmilson Leite Alves, Pároco e Reitor, inúmeros relatos de cura chegam ao Santuário: pessoas com tumores, doenças graves e até desenganadas pelos médicos que, ao recorrerem à intercessão da Virgem, experimentaram a graça da recuperação.

O Reitor destacou que “a Basílica é a casa da padroeira da cidade. A fachada voltada para o centro simboliza isso: daqui Nossa Senhora abençoa todos os paulistanos”.
Quem entra no templo fica encantado com os elementos arquitetônicos. “Os vitrais mostram a história e a diversidade da cidade, além de vários títulos de Nossa Senhora. No presbitério, ao lado da imagem da Penha, estão Nossa Senhora Aparecida e São Miguel, expressando a unidade da devoção mariana e da Diocese, entre tantos elementos que completam esse patrimônio espiritual e artístico”, sublinhou o Sacerdote.
COM MARIA, PEREGRINOS DE ESPERANÇA
Iniciada no sábado, 30 de agosto, prossegue até o domingo, 7, a novena em honra à padroeira, com o tema “Com Maria, somos peregrinos de esperança”. Na segunda-feira, dia 1º, o terceiro do novenário, a missa foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, tendo entre os concelebrantes o Padre Edmilson.

Na homilia, Dom Odilo destacou que “neste ano, de maneira tão especial, somos chamados a renovar a esperança. Precisamos ter consciência de que somos homens e mulheres de esperança, animados pela esperança que nos sustenta, nos conforta e não nos deixa desanimar”.
O Purpurado reforçou ainda a necessidade de perseverança na fé. “Nós não podemos ficar desanimados. Mesmo quando as coisas não caminham como desejamos, continuamos a lutar porque acreditamos. Temos esperança na vitória de Cristo e na força da fé que nos move.”

VIDA PASTORAL
Cecília Hypólito, 57, catequista, recorda, com emoção, do dia em que a igreja foi elevada à dignidade de basílica, em 1985: “Eu tinha 17 anos quando participei daquela celebração. Estava tudo lotado, os corredores cheios. Estavam presentes Dom Angélico Sândalo Bernardino, Bispo Auxiliar na época, e o Cardeal Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo”.
“Somos devotos, vamos a Jesus com Maria. Aqui rezamos o Terço Luminoso, nas ruas no entorno da Basílica, no primeiro sábado, em cinco idiomas; além da adoração eucarística, a missa de cura e libertação e o sacramento da Confissão”, detalhou Cecília.
Ela também mencionou os trabalhos das pastorais da Catequese, Dízimo, e Acolhida, os ministros extraordinários da Palavra e da Sagrada Comunhão, o Encontro de Casais com Cristo. “Agora, vamos realizar o nosso primeiro encontro de jovens. Abrimos inscrições para 60 e já temos 100 inscritos”.

Cecília também comentou sobre o Serviço de Assistência Social da Penha (SASP), que distribui cerca de 30 cestas básicas mensais a famílias carentes e aproximadamente 100 refeições diárias à população em situação de rua.
Roberto Alves de Oliveira, 69, agente da Pascom, recordou que participa da Basílica desde os 3 anos de idade: “Eu brincava na antiga Chácara dos Padres, onde hoje está a Basílica. Havia um pomar imenso. A chácara foi doada pelos padres Redentoristas para a construção da igreja. Eles iniciaram a obra e, depois, a Basílica passou aos diocesanos”, recordou.“Estou aqui há 40 anos. No Brasil, há cerca de 80 basílicas menores, uma delas aqui, dedicada a Nossa Senhora da Penha”, detalhou.