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O dízimo não é uma questão financeira, mas sim de fé

“É o dízimo, Senhor, que nos mostra, com certeza, gratidão ao Criador, compromisso na Igreja”

O refrão deste tradicional cântico católico sintetiza o que é ser dizimista para o cristão: uma expressão de sua fé e pertencimento à Igreja e que sustenta sua missão evangelizadora. 

O ponto 6 do Documento 106 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – “O Dízimo na Comunidade de Fé – Orientações e Propostas” – detalha que “o dízimo é uma contribuição sistemática e periódica dos fiéis, por meio da qual cada comunidade assume corresponsavelmente sua sustentação e a da Igreja. Ele pressupõe pessoas evangelizadas e comprometidas com a evangelização”. 

O dízimo se relaciona com o 5º Mandamento da Igreja aos fiéis – “Ajudar a Igreja em suas necessidades”, para que ela “possa dispor do necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de caridade, e para a honesta sustentação dos seus ministros” (Código de Direito Canônico, Cân. 222, §1); também remonta à experiência dos primeiros cristãos: “Todos os fiéis, unidos, tinham tudo em comum; vendiam as propriedades e os seus bens e dividiam o preço entre todos, segundo as necessidades de cada um” (cf. At 2,44; 4,32-34). 

AS 4 DIMENSÕES DO DÍZIMO 

Neste Mês das Missões, é oportuno recordar que uma das dimensões do dízimo é a missionária. As outras são: religiosa, eclesial e caritativa. 

A religiosa lembra que dar o dízimo é um ato de fé, expressão da gratidão do fiel ao Senhor por tudo que Dele recebeu; a eclesial remete à consciência do fiel de que é membro da Igreja e deve ajudar a mantê-la; a missionária faz lembrar que o dízimo permite ações concretas de evangelização da paróquia e o apoio a outras paróquias, à diocese e à Igreja como um todo; e a caritativa aponta que o dízimo também é destinado para as obras de misericórdia, em especial em favor dos mais pobres. 

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Padre Elson Lopes, CSSp, Pároco da Paróquia Santa Teresa de Calcutá e Assistente Eclesiástico para a Pastoral do Dízimo na Região Belém, sintetizou que o dízimo “brota de um coração agradecido e cheio de fé” e que o compromisso e a constância do dizimista permite a subsistência de cada paróquia. 

“Graças ao dízimo, a paróquia compra hóstias, vinho, velas, flores e paga seus funcionários e a côngrua do padre. Graças ao dízimo, podemos ser um sinal de esperança junto às pessoas que mais precisam, podemos catequizar as nossas crianças, transmitir a fé. Em resumo, por meio do dízimo, a paróquia cumpre a sua missão de evangelizar, anunciar e testemunhar Cristo vivo, presente no meio de nós”, ressaltou. 

A IMPLEMENTAÇÃO DA PASTORAL 

A equipe do dízimo da Região Belém está produzindo um guia de implementação do dízimo paroquial, que em breve será apresentado ao clero atuante naquela Região. No texto é lembrado que a implantação da Pastoral do Dízimo requer pessoas dispostas a participar deste serviço comunitário, apoiadas por seu pároco, que compreendam que são missionárias da Igreja nesta Pastoral – “testemunhar é a arte do missionário do dízimo” – e que tenham clareza do que é o dízimo. 

“É comum que ao falar de dízimo as pessoas pensem logo em dinheiro. Por isso, essa equipe tem de entender muito bem que o dízimo é uma questão de fé, de compromisso com a comunidade, para que, assim, comece o seu trabalho de conscientização dos demais fiéis”, detalhou Padre Elson. 

ATENÇÃO AOS DIZIMISTAS 

Às paróquias que já tem a Pastoral do Dízimo, Padre Elson recomendou que os agentes participem de formações para se manterem atualizados e terem ideias para engajar os dizimistas. 

O Sacerdote menciona algumas ações que são sempre válidas para esta Pastoral: “Lembrar os aniversários dos dizimistas na missa; rezar pelos dizimistas que já faleceram; mandar mensagens regularmente sobre as atividades da paróquia; convidar para que possam participar da vida paroquial; acolher os dizimistas que chegam, tendo para isso um local próprio, conforme a realidade da paróquia, para que sejam bem atendidos; além de uma boa identificação da equipe, com avental e camiseta”. 

O QUE FAZER E O QUE DEVE SER EVITADO 

Padre Elson recordou, ainda, posturas recomendas e outras a serem evitadas na Pastoral do Dízimo. 

Uma primeira atenção é com a total transparência sobre o que é feito com o recurso. “Não se trata de dizer valores ou publicá-los, mas de apresentar tudo que vem sendo feito graças ao dízimo. Por exemplo: as quantidades de batismos e de crianças na catequese, e quantas pessoas o padre visitou pastoralmente”. 

O Sacerdote lembrou ainda que é indispensável que os agentes não atrelem o dízimo à arrecadação de dinheiro. “Para que uma pessoa permaneça dizimista é importante evangelizá-la, fazer com que entenda que o dízimo não é uma questão financeira, mas de fé, de compromisso com a comunidade”. Neste aspecto, o cuidado com a linguagem é fundamental: “Se falamos em ‘pagar o dízimo’, isso faz com que as pessoas pensem que estão como que pagando a mensalidade de um clube ou uma dívida. O dízimo não é pagamento de dívida, nem de taxas, é o gesto de um coração agradecido que dá uma contribuição a partir daquilo recebe de Deus”. 

Outra recomendação do Assistente Eclesiástico para a Pastoral do Dízimo na Região Belém é que nunca se quebre o sigilo do quanto cada dizimista contribui. “Também jamais se deve reclamar do valor que a pessoa deu, porque não sabemos de sua realidade de vida”, alertou. 

Embora a palavra dízimo signifique a “décima parte” que os judeus davam de tudo o que colhiam da terra com o seu trabalho, nem o Catecismo da Igreja Católica nem o Código de Direito Canônico obrigam que essa “parte” seja exatamente 10% do salário do fiel. Como se lê no ponto 10 do Documento 106 da CNBB, “a Igreja não estabelece como lei nenhum percentual pré-definido”, de modo que a quantia a ser dada no dízimo é uma decisão pessoal, iluminada pela Palavra de Deus e sensível às necessidades da Igreja e do próximo. 

MUITOS CAMINHOS PARA CONTRIBUIR 

Além dos tradicionais envelopes entregues aos dizimistas, muitas paróquias têm feito uso de dispositivos tecnológicos para facilitar que o fiel contribua com seu dízimo. Tem sido cada vez mais comum, por exemplo, encontrar adesivos com QRCode nas paredes e bancos da assembleia de fiéis que direcionam diretamente à chave PIX da paróquia. Se a contribuição for feita desta forma, o recomendável é sempre mandar o comprovante para a secretaria paroquial. 

Algumas paróquias também usam aplicativos específicos para o dízimo, como o Dízimo Fiel e o Dizify, que permitem o pagamento diretamente por celular, além de terem funcionalidades para a gestão do dízimo como a configuração para pagamentos recorrentes, gerenciamento de campanhas, envio de lembretes aos dizimistas e o controle sobre as arrecadações. 

A Paróquia Santa Ângela e São Serapião, na Região Ipiranga, está implantando o Dizify para o dízimo. “Com isso, queremos atrair novos dizimistas. Não vamos obrigar quem já é dizimista a só contribuir por essa forma. Acreditamos que será um sistema que vai facilitar bastante, até para lembrar as pessoas do compromisso do dízimo”, contou Angela Akemi, que participa do conselho administrativo paroquial. 

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