Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua foi entrevistado pela 9 de Julho. Em programa de rádio, Cardeal Scherer enfatizou todo seu apoio ao trabalho do Sacerdote
A polêmica proposta de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar ONGs que fazem trabalho social na região da Cracolândia e que teria como um dos alvos o Padre Júlio Lancellotti, conforme expressamente declarado pelo proponente, o vereador Rubinho Nunes (União Brasil), tem como motivação principal “o ódio aos pobres”.
É o que avaliou o Padre Júlio Lancellotti em entrevista ao programa “Bom Dia, Povo de Deus”, da rádio 9 de Julho, na manhã da sexta-feira, 5.
“O componente principal [da proposta de CPI] é o ódio aos pobres, é a aversão a eles, é a aporofobia”, disse em entrevista, por telefone, aos apresentadores – o Padre Cido Pereira e a jornalista Cleide Barbosa.
“Não é correto ficar criminalizado pessoas. O que temos que discutir é a política de atendimento às pessoas em situação de rua, como se faz a prevenção à dependência química, as várias abordagens e possibilidades de tratamento”, observou o Vigário Episcopal para a Pastoral do Povo da Rua.
Padre Júlio enfatizou que a Pastoral do Povo da Rua não recebe recurso algum, seja municipal, estadual ou federal para os trabalhos que realiza. “São as nossas próprias comunidades que ajudam para que estejamos junto aos irmãos mais sofridos”, comentou, destacando ainda que a Campanha da Fraternidade deste ano, como o tema da Amizade Social, será oportunidade para que as comunidades católicas se tornem mais “acolhedoras, tenham as portas abertas, sem discriminar ninguém, sem preconceito, e abram espaço para todos”.
Diante de mais um episódio em que é questionado pelo trabalho que realiza junto aos mais pobres, Padre Júlio disse já estar “cansado”. Também pediu a todos que rezem por ele e lembrou que sempre recorre à intercessão da Virgem Maria e dos santos para não desanimar.
“Eu confio muito na intercessão de Nossa Senhora, Nossa Mãe Santíssima, e peço ao Arcanjo São Miguel, a São José e a todos os nossos santos. Nestes momentos mais difíceis, eu olho para Santa Dulce dos Pobres e lembro do que ela passou, do sofrimento que teve por estar junto dos mais pobres”, disse, emocionado.
‘TODO O MEU APOIO AO TRABALHO DO PADRE JÚLIO’
No programa “Encontro com o Pastor” da sexta-feira, 5, na rádio 9 de Julho, o Cardeal Scherer enfatizou sua plena confiança no trabalho do Padre Júlio.
“Todo o meu apoio ao trabalho do Padre Júlio. Ele é vigário episcopal, ou seja, do Arcebispo, para a população em situação de rua. E, neste sentido, ele tem, sim, o meu apoio. Eu acompanho o trabalho dele”, enfatizou, ressaltando, ainda, que a Igreja não realiza ações caritativas visando a qualquer tipo de projeção social ou a algum tipo de vantagem político-partidária. “Seria pecado qualquer tipo de aproveitamento dos pobres para fazer campanha eleitoral”, observou.
Dom Odilo lembrou que pelo fato de o trabalho do Padre Júlio se dar junto aos mais pobres da sociedade, como as pessoas em situação de rua, é esperado que por vezes ele desagrade, pois “há quem queira resolver a questão com violência, com desrespeito à dignidade dessas pessoas e não se vai à raiz do problema: por que existem pessoas que vivem na rua? Quais os motivos que levam as pessoas a viverem na rua? Toda a sociedade precisa se questionar”.
“Em nome da Igreja, em nome da vida cristã, em nome da fé, nós não podemos abandonar, desprezar, nem esquecer estas pessoas que vivem na miséria, e muitas vezes no desprezo e até com risco de suas vidas”, comentou o Arcebispo, exortando toda sociedade de São Paulo a pensar maneiras de cuidar melhor daqueles que hoje vivem nas ruas da cidade.
Dom Odilo lamentou que haja um proposta de CPI que tenha como um dos alvos o Padre Júlio Lancellotti: “O Padre Júlio não recebe dinheiro público. Ele não é agente do governo, nem do município. Ele é um homem da Igreja! Portanto, esta será uma CPI equivocada se quiser investigar o Padre Júlio. E acusar o Padre Júlio de ser o culpado por existir a Cracolândia é um grande equívoco. É tentar se achar um bode expiatório para um problema que, na verdade, nunca se quer resolver ou se quer passar para outros resolverem. É a cidade de São Paulo que precisa resolver esta situação e com medidas justas que possam ser usadas e não com violência, truculência ou alguma forma que faça que com que essas pessoas sejam desprezadas”, enfatizou.
NOTA PÚBLICA
Na quarta-feira, 3, a Arquidiocese de São Paulo, por meio de sua assessoria de imprensa, emitiu uma nota referente à possível abertura CPI na Câmara Municipal de São Paulo.
“Perguntamo-nos por quais motivos se pretende promover uma CPI contra um sacerdote que trabalha com os pobres, justamente no início de um ano eleitoral?”, lê-se em um dos trechos da nota.
“Padre Júlio não é parlamentar. Ele é o Vigário Episcopal da Arquidiocese de São Paulo ‘para o Povo da Rua’ e exerce o importante trabalho de coordenação, articulação e animação dos vários serviços pastorais voltados ao atendimento, acolhida e cuidado das pessoas em situação de rua na cidade”, prossegue o texto.
“Reiteramos a importância do trabalho da Igreja junto aos mais pobres da sociedade”, consta na conclusão da nota da assessoria de imprensa da Arquidiocese de São Paulo.