‘Olhando para Cristo na Paixão, devemos sentir o desejo de conversão’

Disse o Cardeal Scherer, ao participar da programação especial da rádio 9 de Julho

Fotos: Katia Maderic/rádio 9 de Julho

Na Sexta-feira Santa, dia em que pela tradição cristã os fiéis são chamados ao silêncio, ao jejum, à abstinência de carne e à oração, em uma rua da zona Norte da capital paulista dezenas de jovens conversavam logo cedo na saída de uma casa de shows, em meio ao som alto. Mais à frente um único comércio já estava aberto: um açougue.

Essa situação foi presenciada tanto pelo Padre Cido Pereira quanto pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer à caminho da rádio 9 de Julho e foi a partir disso que eles iniciaram as reflexões do programa especial que apresentaram na manhã desta Sexta-feira Santa, 7, na emissora da Arquidiocese de São Paulo.

“Será que aqueles bons jovens têm noção do que está sendo celebrado nesta Sexta-feira Santa? Será que alguém os lembrou, os ensinou daquilo que temos de tão precioso, não só para nós cristãos, católicos, mas para a humanidade toda? Será que perdeu-se o sentido da Sexta-feira Santa?”, lamentou o Arcebispo Metropolitano.

A VIOLÊNCIA E AS ENFERMIDADES

Ao longo do programa, o Cardeal Scherer respondeu a várias perguntas dos que acompanham a rádio em AM 1.600 kHz, pelo site www.radio9dejulho.com.br e pelas redes sociais.

Comentando sobre o recente assassinato de crianças em uma creche na cidade de Blumenau (SC), Dom Odilo afirmou que o episódio deve fazer pensar sobre a perda de valores na sociedade, a crescente cultura da violência e da forma como as informações são apresentadas, a fim de que não haja demasiada evidência sobre os atos violentos em si. 

Nesse sentido, ele avaliou que mais vale falar sobre a prevenção da violência do que dos fatos consumados. “Quanto mais violência acontece, mais violência se incentiva a fazer”, opinou.

Aos doentes e idosos, bem como aos seus cuidadores – muitos destes hoje com vontade de participar em suas paróquias da celebração da Paixão de Cristo, mas impossibilitados por suas condições – Dom Odilo transmitiu uma mensagem de esperança, ao lembrar que na Sua Paixão, “Jesus assumiu as nossas dores, e se encarregou de nos aliviar e dar sentido às nossas enfermidades”, apontou.

“Quem com Jesus carrega sua cruz, com Ele tem parte na vida”, prosseguiu, lembrando, porém, que a doença sempre ajuda a mostrar o quanto o ser humano é frágil, e que tal como um vaso pode se quebrar a qualquer momento, mas sempre tem um valor inestimável diante dos olhos de Deus.

A TRANSMISSÃO DA FÉ

O Arcebispo Metropolitano também falou aos ouvintes sobre a busca pela revalorização da presença cristã na sociedade, destacando que este foi um tema destacado ao longo do 1o sínodo arquidiocesano de São Paulo.

Dom Odilo lembrou que na carta pastoral que lançou na conclusão do sínodo, ele apresenta indicativos para que se recupere os sentido cristão nas famílias, por atitudes como a oração nos lares, a participação na missa aos domingos e a transmissão das verdades da fé às novas gerações.

O Cardeal também recomendou que nas comunidades eclesiais haja um permanente processo de Catequese, não apenas de iniciação cristã, mas também de aprofundamento da fé aos que já receberam os sacramentos, por meio do incentivo à leitura da Bíblia, do Catecismo da Igreja Católica e de outros conteúdos relativos à fé cristã.

O Arcebispo também indicou ser fundamental que os católicos deem valor e atenção à voz da Igreja e não aqueles que buscam colocar a instituição e o Papa em descrédito. “Quem acompanha a Palavra da Igreja não fica em um beco sem saída. Não deixe de estar com a Igreja, defendê-la”, enfatizou.

LAVA-PÉS, ENCENAÇÕES E COLETA AOS LUGARES SANTOS

Também respondendo a perguntas de ouvintes, Dom Odilo comentou sobre o rito do lava-pés, realizado na Missa da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa, um gesto pelo qual Cristo ensinou sobre a dimensão do servir, “serviço que Ele prestava aos apóstolos e à humanidade, o serviço de entregar a sua vida e o seu sangue. Devemos ter a humildade de acolher a Paixão de Cristo, que foi por cada um de nós. Nós não devemos ser autossuficientes a ponto de dizer que não precisamos disso. Devemos dizer: ‘Obrigado, Senhor, por mim o fizeste”.

Comentando sobre as encenações da Paixão de Cristo realizadas em muitas paróquias neste dia, Dom Odilo lembrou que não há nada de errado de que aconteçam desde que não se resumam a dimensão do espetáculo, da encenação teatral, mas que sejam um complemento que permita aos fiéis visibilizar aquilo que é proclamado no Evangelho da Sexta-feira da Paixão, a fim de cada pessoa reflita sobre qual lugar tem assumido no episódio da Paixão de Cristo e, a partir disso, reveja as próprias atitudes.

O Arcebispo também explicou sobre a importância da Coleta para os Lugares Santos, que ocorre durante o ato litúrgico da Celebração da Paixão. O que se arrecada é enviado pela Santa Sé para apoiar os cristãos e as iniciativas de evangelização na Terra Santa e em outros lugares descritos na Bíblia, onde hoje os cristão são minoria. “Que apoiemos a presença dos nossos irmãos neste lugares, pois eles dão testemunho permanente da presença da Igreja por lá”, exortou.

ESTAR COM CRISTO NA CRUZ

Como mensagem final, Dom Odilo exortou aos fiéis que participem da celebração da Paixão de Cristo às 15h em suas paróquias. Ele também presidirá a ação litúrgica da Paixão a esta hora na Catedral da Sé.

“‘Nós devemos gloriarmos na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo’ – disse Dom Odilo, recordando as palavras do apóstolo Paulo –; Isso significa olhar para Jesus Cristo e nos identificar com Ele. Não ter vergonha da cruz de Cristo e, nos identificando com Ele, dizer: ‘Muito obrigado, Senhor, por mim o fizeste’. A cruz de Cristo também deve nos fazer lembrar que podemos ter tornado a cruz de Cristo mais pesada com os nossos pecados. Olhando para Cristo na Paixão, devemos sentir o desejo de conversão, de mudança de vida para melhor”, enfatizou, destacando que hoje é dia de os cristãos professarem a fé no Cristo, de darem testemunho e de renovarem o desejo de serem bons discípulos.  

“O seguimos no caminho da Paixão, na certeza de que O seguiremos também no caminho da vida, da ressurreição, porque Ele ressuscitou e trouxe a vida nova, da qual, desde agora, nós já participamos e devemos nos tornar merecedores por nossa fidelidade a Jesus Cristo, Nosso Senhor”, concluiu.   

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