Os pobres têm rosto, são amados por Deus e é dever cristão ter por eles compaixão

Estas foram as reflexões centrais do seminário organizado pelo Vicariato Episcopal da Caridade Social por ocasião do VIII Dia Mundial dos Pobres

Luciney Martins/O SÃO PAULO

O Vicariato Episcopal da Caridade Social da Arquidiocese de São Paulo, em parceria com a Pastoral Universitária, a Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e o Centro Universitário Assunção, realizou, entre os dias 12 e 14, um seminário sobre a temática do VIII Dia Mundial dos Pobres – “A oração do pobre eleva-se até Deus” – e para refletir a respeito da realidade dos pobres da cidade de São Paulo. 

Com a participação de seminaristas, religiosos e leigos, o seminário, realizado nas dependências do Centro Universitário Assunção, apresentou um ciclo de palestras com os temas “O discipulado dos pobres em Lucas e Atos dos Apóstolos”, “Sustentabilidade e fome”, “Pobres, migrantes e refugiados”, “A opção divina pelos pobres” e “O olhar social e político”.

Fruto do 1º sínodo arquidiocesano (2017-2023), o Vicariato Episcopal da Caridade Social tem como missão incentivar, organizar, acompanhar e dinamizar as iniciativas de caridade social ligadas à Igreja em São Paulo. 

Cônego Marcelo Monge, Pároco da Paróquia Santo Antônio de Lisboa, na Região Belém, e Vigário Episcopal da Caridade Social, ressaltou que por ocasião do VIII Dia Mundial dos Pobres, o Papa Francisco “volta a nos lembrar que os pobres têm um lugar privilegiado no coração de Deus. O Dia Mundial dos Pobres é uma oportunidade para tomarmos consciência da presença dos pobres em nossa cidade. Pobres que estão nas ruas, em suas casas, em abrigos, nos presídios. Eles têm rosto e histórias. São crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, doentes, pessoas que na região central da cidade ou nas periferias clamam por ajuda, têm necessidade de pão e de oração”.

Incluídos nas orações e na vida de fé

O Vigário Episcopal enfatizou que o tema deste Dia Mundial dos Pobres recorda a cada cristão o compromisso de promover, diariamente, ações caritativas em prol daqueles que mais precisam.

Cônego Marcelo destacou que os pobres não necessitam apenas de alimentos e roupas, mas também de ter sua dignidade respeitada e portas abertas nas igrejas para vivenciar a fé. 

“É nosso compromisso incluir o pobre na oração. Somos chamados a rezar em todos os lugares pelos e com os pobres e para e por todas as pessoas que com eles estão no dia a dia”, ressaltou o Sacerdote, reafirmando o desejo de que o Vicariato Episcopal da Caridade Social possa “contribuir com todos os serviços, com toda a estrutura que a Arquidiocese de São Paulo tem para viver plenamente o Evangelho, para testemunhar que Deus habita esta cidade e que nós, todos, somos Suas testemunhas”. 

Vencer a cultura da indiferença

Rosana Manzini, docente da PUC-SP e uma das conferencistas do evento, afirmou que “refletir sobre o Dia Mundial dos Pobres a partir da Doutrina Social da Igreja (DSI) nos leva necessariamente a uma reflexão sobre a realidade em que vivemos. A DSI pode ser definida como ‘o resultado de uma atenta reflexão sobre as complexas realidades da vida do homem na sociedade e no contexto internacional à luz da fé e da tradição eclesial’. Saber ver a realidade, é não nos deixarmos enganar e iludir-nos por mentiras que calam nossas consciências”. 

A docente reiterou que “toda a Igreja deve renovar o compromisso com os pobres e com a justiça. Um apelo do Papa Francisco aos leigos: ninguém pode sentir-se exonerado da preocupação pelos pobres e pela justiça social e deve ser por meio da fraternidade e da amizade. Cuidar dos corpos feridos, caídos, resgatá-los em sua dignidade, significa em um primeiro momento vencer a cultura da indiferença instalada em um modo de viver que privilegia o privado”, disse, reforçando a dimensão compassiva deste agir: “Uma compaixão que nos leva a ir ao encontro de Jesus nos pobres, nos famintos, nos refugiados, nos desesperados, no povo em situação de rua, naqueles que mais necessitam”.

Rosana destacou, ainda, que o princípio fundamental da DSI é a defesa da dignidade humana e seus direitos inalienáveis. “E de onde deriva a dignidade do homem? A resposta da teologia é unânime: do fato de ser ‘Imago Dei’, imagem de Deus, portanto nunca foi tão vital pensar em solidariedade quando tratamos de resgate da dignidade humana e consequentemente da transformação da sociedade. Toda ação solidária – a solidariedade é também um dos princípios da DSI – resulta de uma ética da indignação”, disse recordando ainda um trecho da encíclica Fratelli tutti: “Viver indiferentes à dor não é uma opção possível; não podemos deixar ninguém caído ‘nas margens da vida’. Isto deve indignar-nos de tal maneira que nos faça descer da nossa serenidade alterando-nos com o sofrimento humano. Isto é dignidade” (FT 68).

A opção divina pelos pobres

Matthias Grenzer, professor da PUC-SP, convidou os participantes a refletir sobre a opção divina pelos pobres à luz da narrativa bíblica da multiplicação dos pães (cf. Mc 6,30-44). 

“A narrativa da multiplicação dos pães documenta a postura de Jesus que estava junto aos mais sofridos. Essa narrativa nos revela que o Deus Bíblico age em favor dos pobres, a fim de resgatar a dignidade daqueles filhos e filhas seus que se encontram oprimidos e explorados nesse mundo”, destacou o professor.

“A questão social à luz do Evangelho tem a centralidade de Jesus que se dirigiu às pessoas à margem da sociedade, aos pobres e lhes anunciou o Evangelho. A Igreja é discípula de Jesus e enviada por Ele como Igreja apostólica aos pobres”, reforçou o professor, ressaltando que o seminário teve como objetivo “promover novas convivências igualitárias e fraternas, elucidando a dimensão da Igreja que acolhe o pobre e lhe oferece mecanismos para resgatar sua dignidade em busca de uma sociedade sem pobres”.

Olhar social e político

Márcia Mathias, coordenadora da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese, indicou que a temática deste ano traz a centralidade do pobre e que o Papa Francisco “convoca todos a aprender a rezar pelos pobres e a rezar com eles, com humildade e confiança. Convida-nos a olhar o rosto e a história dos pobres, cada um é dotado de sonhos e esperança”.

A coordenadora da Pastoral Fé e Política lembrou aos participantes que o Brasil é o nono país mais desigual do mundo. “A pandemia acentuou as desigualdades estruturantes, piorando as condições de vida dos mais pobres. O combate às desigualdades não avança na mesma proporção e complexidade. É fundamental que todos estejamos comprometidos na redução das desigualdades”, afirmou.

1 comentário em “Os pobres têm rosto, são amados por Deus e é dever cristão ter por eles compaixão”

  1. A dignidade do homem deriva do fato de sermos ‘imagem de Deus’ O Deus Bíblico age em favor dos pobres. Eles tem rosto e histórias, sonhos e esperança e nós temos o compromisso com os pobres e com a justiça e deve ser por meio da fraternidade e da amizade.

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