Os religiosos imitam mais de perto a forma de vida do Filho de Deus

No 3º domingo de agosto, a Igreja no Brasil comemora a Vocação à Vida Religiosa Consagrada

Os religiosos consagrados seguem fielmente os conselhos evangélicos da castidade no celibato por amor ao Reino, da pobreza e da obediência
Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Desde os primórdios da Igreja, homens e mulheres se propuseram a seguir mais livremente a Cristo e imitá-Lo de maneira mais fiel. Por isso, se consagraram a Deus. Alguns deles assim viveram de modo isolado, outros fundaram as famílias religiosas – como as congregações, os institutos de vida consagrada e as sociedades de vida apostólica – posteriormente acolhidas e aprovadas pela Igreja.

No 3º domingo de agosto, o mês das vocações na Igreja do Brasil, é comemorada a vocação dos religiosos consagrados, os quais “livremente assumem o chamamento à vida consagrada, [tendo] a obrigação de praticar a castidade no celibato por amor do Reino, a pobreza e a obediência. É a profissão destes conselhos evangélicos, em um estado de vida estável reconhecido pela Igreja, que caracteriza a vida consagrada a Deus”, aponta o Catecismo da Igreja Católica (CIC 915). Os religiosos se propõem, “sob a moção do Espírito Santo, seguir Cristo mais de perto, entregar-se a Deus amado acima de todas as coisas e, procurando a perfeição da caridade ao serviço do Reino, ser na Igreja sinal e anúncio da glória do mundo que há de vir” (CIC 916).

A constituição dogmática Lumen gentium (LG) aponta que o estado religioso do consagrado “imita mais de perto e perpetuamente representa na Igreja aquela forma de vida que o Filho de Deus assumiu ao entrar no mundo para cumprir a vontade do Pai, e por Ele foi proposta aos discípulos que O seguiam” (LG 45).

FIÉIS SEGUIDORES DOS CONSELHOS EVANGÉLICOS

Fundados sobre a Palavra e os exemplos de Cristo, os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência são válidos a todo batizado, mas o religioso consagrado, ao professá-los publicamente, se liberta “dos impedimentos que o poderiam afastar do fervor da caridade e da perfeição do culto divino, é consagrado mais intimamente ao serviço divino. E esta consagração será tanto mais perfeita quanto mais a firmeza e a estabilidade dos vínculos representarem a indissolúvel união de Cristo à Igreja, Sua esposa” (LG 44).

Na exortação apostólica Redemptionis donum (RD), São João Paulo II escreveu aos religiosos e religiosas sobre a importância desses três conselhos: “Com efeito, a castidade evangélica ajuda-nos a transformar na nossa vida interior tudo o que tem a sua fonte na concupiscência da carne; a pobreza evangélica, o que tem a sua origem na concupiscência dos olhos; e, por fim, a obediência evangélica permite-nos transformar, de modo radical, aquilo que no coração humano procede da soberba da vida” (RD 9).

Acerca da castidade, São João Paulo II lembrou que se trata “da virgindade como expressão do amor esponsal pelo próprio Redentor… Pelo voto de castidade, as pessoas consagradas participam na economia da Redenção, por um lado, mediante a livre renúncia às alegrias temporais da vida matrimonial e familiar; e, por outro lado, precisamente pelo fato de se fazerem eunucos por causa do Reino dos céus, levam para o meio do mundo que passa o anúncio da ressurreição futura e da vida eterna” (RD 11).

A pobreza evangélica, por sua vez, “abre diante do olhar da alma humana a perspectiva de todo o mistério ‘oculto desde todos os séculos em Deus’. Só aqueles que são ‘pobres desta maneira é que são também interiormente capazes de compreender a pobreza Daquele que é infinitamente rico. […] pobres em espírito pela profissão evangélica, adotai em toda a vossa vida este modelo salvífico da pobreza de Cristo!” (RD 12).

Já pela obediência, os religiosos consagrados “demonstram o desejo de obter uma participação especial na obediência daquele ‘um só’, por cuja obediência ‘todos serão constituídos justos’. Pode-se dizer, portanto, que aqueles que decidem viver segundo o conselho da obediência se colocam, de uma maneira singular, entre o mistério do pecado e o mistério da justificação e da graça salvífica. […] o voto de obediência cria no coração de cada um e de cada uma de vós, amados irmãos e irmãs, o dever de uma referência especial a Cristo ‘obediente até a morte’”. (RD 13).

MOSTRAR O ROSTO DE CRISTO

O Catecismo da Igreja Católica aponta que aqueles que professam os conselhos evangélicos têm por primeira missão viver a sua consagração e devem trabalhar, conforme a índole de sua família religiosa, na ação missionária (cf. CIC 931).

“Procurem os religiosos, com empenho, que, por seu intermédio, a Igreja revele cada vez mais Cristo aos fiéis e infiéis, Cristo orando sobre o monte, anunciando às multidões o Reino de Deus, curando os doentes e feridos, trazendo os pecadores à conversão, abençoando as criancinhas e fazendo bem a todos, obediente em tudo à vontade do Pai que O enviou” (LG 46).

A mesma constituição dogmática indica, ainda, que de modo algum os consagrados são indiferentes à realidade que os cercam “pois, mesmo quando não prestam uma ajuda direta aos seus contemporâneos, têm-nos sempre presentes de um modo mais profundo, no amor de Cristo, e colaborara espiritualmente com eles, a fim de que a construção da cidade terrena se funde sempre no Senhor e para Ele se oriente, não seja que trabalhem em vão os que edificam a casa” (LG 46).

PROFECIA, PROXIMIDADE E ESPERANÇA

Na conclusão do Jubileu da Vida Consagrada, em fevereiro de 2016, o Papa Francisco falou sobre os três pilares que a caracterizam: profecia, proximidade e esperança.

“A profecia é anunciar às pessoas que existe um caminho de felicidade, de grandeza, uma via que as enche de alegria, que é precisamente a estrada de Jesus. É a estrada de estar próximo de Jesus. É um dom, um carisma, a profecia que deve ser pedida ao Espírito Santo: que eu saiba dizer aquela palavra, no momento justo; que eu faça algo no momento justo; que toda a minha vida seja uma profecia”, disse o Pontífice.

Sobre a proximidade, Francisco apontou que os consagrados não devem se afastar das demais pessoas nem se fechar em comodidades, mas, sim, “se aproximar e compreender a vida dos cristãos e não cristãos, os sofrimentos, os problemas, as inúmeras situações que só se compreendem se um homem ou uma mulher consagrados se tornar próximo (…) proximidade física, espiritual, conhecer as pessoas”.

Por fim, insistiu o Pontífice, os consagrados jamais devem perder a esperança, e contra esta tentação a melhor atitude é sempre a oração. “O Senhor que foi tão generoso não deixará de cumprir a sua promessa. Mas devemos pedir-lhe, devemos bater à porta do seu coração”, afirmou, concluindo: “Testemunhando Deus e o seu amor misericordioso, com a graça de Cristo podeis infundir esperança nesta nossa humanidade marcada por diversos motivos de ansiedade e temor e por vezes tentada ao desânimo. Podeis fazer sentir a força renovadora das bem-aventuranças, da honestidade, da compaixão; o valor da bondade, da vida simples, essencial, cheia de significado. E podeis alimentar a esperança também na Igreja”.

MISSA COM OS RELIGIOSOS

Em ação de graças pela vocação dos religiosos consagrados que atuam na Arquidiocese de São Paulo haverá uma missa no sábado, 19, às 16h, na Catedral da Sé, presidida pelo Cardeal Scherer. A celebração é organizada pela Arquidiocese e a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB Nacional).

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