Padre Allamano, fundador dos missionários e missionárias da Consolata, é canonizado

O milagre atribuído à intercessão do Sacerdote foi a cura do indígena Sorino, na Amazônia, em 1996. Na missa em ação de graças pela canonização, no domingo, 20, o Cardeal Scherer ressaltou que os santos ‘ouviram as palavras de Jesus e as colocaram em prática até às últimas consequências’

Fiéis e devotos de São José Allamano participam da missa presidida por Dom Odilo em ação da graças à canonização do Santo, no domingo, 20
Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO

No Dia Mundial das Missões, no domingo, 20, o Papa Francisco canonizou no Vaticano 14 bem-aventurados: os frades franciscanos Manuel Ruiz López e seus sete companheiros e os leigos Francisco, Mooti e Raffaele Massabkis, todos esses 11 chamados de os “Mártires de Damasco”; a Irmã Elena Guerra, conhecida como “Apóstola do Espírito Santo”; a Irmã Marie-Léonie Paradis, fundadora das Pequenas Irmãs da Sagrada Família de Sherbrooke; e o Padre José Allamano, fundador do Instituto Missões Consolata e das Irmãs Missionárias da Consolata.

A família da Consolata em São Paulo – sacerdotes, religiosas e leigos – se reuniu na tarde do mesmo dia na Paróquia Nossa Senhora Consolata, no Jardim São Bento, Região Santana, para render graças a Deus pela canonização do Padre Allamano.

A missa foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, tendo entre os concelebrantes o Padre Cláudio Cobalchini, IMC, Pároco.

MISSIONÁRIO SEM SAIR DE SUA TERRA

Padre José Allamano nasceu em 21 de janeiro de 1851, em Castelnuovo, norte da Itália. Foi ordenado sacerdote em 20 de setembro de 1873. Queria trabalhar no ministério pastoral, mas foi designado a formador de seminaristas, sendo assistente (1873-1876) e, depois, diretor espiritual do Seminário Maior (1876-1880), em Turim.

Padre Allamano foi nomeado Reitor do Santuário da Consolata em outubro de 1880, aos 29 anos de idade. Em 29 de janeiro de 1901, ele criou o Instituto Missões Consolata. Anos depois, na mesma data, em 1910, fundou as Irmãs Missionárias da Consolata.

As congregações criadas por Allamano estão fundamentadas no carisma da santidade e da missionariedade. Os religiosos e religiosas vivem a dimensão missionária nas realidades em que estão inseridos.

São José Allamano nunca foi missionário ad gentes. Em razão de sua saúde frágil, jamais saiu da Itália, mas enviou muitos sacerdotes e religiosas consagradas para a missão além-fronteiras. Atualmente, os missionários e as missionárias da Consolata estão em 23 países, em quatro continentes.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Padre Cláudio Cobalchini destacou que o Fundador usava a expressão “antes santos, depois missionários”, pois “tinha consciência da missão que acontece nas periferias existenciais, de anunciar Cristo a todos. Nossa missão é ser presença, ser acolhida e evangelizar”.

Irmã Benildes Clara Capellotto, IMC, enfatizou que a frente missionária da congregação “acontece nas áreas da educação, saúde e capacitação profissional. Ser presença evangelizadora e atuante onde o Senhor nos envia é nosso ideal de vida”.

SANTO DA IGREJA

Dom Odilo, na homilia, disse que a canonização é um marco significativo na vida da Igreja e para a Consolata.

Ao afirmar que “José Allamano é um santo da Igreja”, o Purpurado lembrou que “os santos são aqueles que ouviram as palavras de Jesus e as colocaram em prática até às últimas consequências”.

O Cardeal recordou seu contato com os sacerdotes missionários da Consolata no Paraná já na época de sua preparação para o sacerdócio: “Quando era seminarista, ia às paróquias dos Padres da Consolata para realizar missões nos fins de semana”.

“Padres e freiras, coragem na missão; famílias, sejam missionárias, lancem a semente, eduquem os filhos e netos na fé”, exortou o Cardeal. “Existem os missionários ad gentes que deixam sua pátria para evangelizar; e há os missionários inseridos em nossas paróquias, famílias. Somos missionários”, explicou.

O PROCESSO DE CANONIZAÇÃO

O milagre considerado pela Igreja para a canonização do Padre José Allamano aconteceu em 1996, em Roraima, após o jovem índio Soriano Yanomami ser atacado por uma onça, que lhe abriu grande parte do crânio, espalhando o cérebro pelo chão.

Irmã Felicita Muthoni Nyaga, queniana, foi a primeira missionária a dar assistência ao jovem. “Quando cheguei na aldeia, havia um homem estendido no chão de terra sobre uma poça de sangue. O crânio dele estava aberto e pedaços de cérebro para fora. Com delicadeza, limpei com água, coloquei os pedaços do cérebro no crânio, e amarrei o seu couro cabeludo com o único tecido que eu tinha, a minha blusa”, escreveu a missionária.

Diante do fato, as religiosas da Consolata em missão no território iniciaram uma novena pedindo a José Allamano a cura do jovem. Sorino recuperou a saúde em poucos meses e atualmente vive, sem sequelas, em sua comunidade na Terra Indígena Yanomami.

Irmã Maria Costa, IMC, estava no lugar e acompanhou a novena e a recuperação do indígena. “Estamos há 28 anos do milagre e ter vivido essa experiência que elevou aos altares nosso Pai espiritual é momento de graça e emoção”, declarou. “Nosso Fundador sempre afirmou que santidade e missão caminham juntas, são faces da mesma moeda”, finalizou.

A fase diocesana do processo de canonização foi aberta em março de 2021, em Boa Vista (RR). Depois, o processo foi enviado ao Dicastério para as Causas dos Santos, que o concluiu em 23 de maio deste ano, com a aprovação do decreto que reconheceu o milagre.

Na missa de ação de graças do último domingo, Dom Odilo destacou que para que alguém seja canonizado é necessário “um sinal extraordinário, uma intervenção divina; são esses sinais que a Igreja espera do Céu. A canonização é a proclamação de uma verdade infalível, como vemos no milagre do indígena Sorino”.

TESTEMUNHO DOS MISSIONÁRIOS

Na missa em que canonizou os 14 bem-aventurados, o Papa Francisco destacou que os novos santos “foram servos fiéis, homens e mulheres que serviram no martírio e na alegria”. Disse, ainda, que eles viveram segundo o estilo de Jesus, que é servir. “Na fé e no apostolado que tiveram, eles não alimentaram em si desejos mundanos nem ânsias de poder, mas, do contrário, se fizeram servidores de seus irmãos, criativos para fazer o bem, firmes nas dificuldades, generosos até o final”.

Na oração do Angelus, após a missa, o Papa apontou que o testemunho de São José Allamano “recorda-nos a necessária atenção às populações mais frágeis e vulneráveis. Penso em particular no povo Yanomami, na floresta amazônica brasileira, entre cujos membros se realizou o milagre ligado à canonização de hoje. Apelo às autoridades políticas e civis para que garantam a proteção destes povos e dos seus direitos fundamentais e contra todas as formas de exploração da sua dignidade e dos seus territórios”.

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