Construída em gratidão pelo livramento de um acidente aéreo, igreja na zona norte da cidade completa sete décadas, fortalecendo sua identidade mariana
Basta entrar na Paróquia Nossa Senhora de Loreto, na Região Santana, para ser conduzido a um voo pela história e pela devoção a Maria. A igreja, em tons de azul e branco e com arquitetura inspirada em um avião, transmite a sensação de uma viagem aérea, cujo único passaporte necessário é o desejo de se encontrar com Deus.
“Depois de uma reforma, a Paróquia ganhou duas expansões laterais, uma inspiração que faz referência ao título de padroeira dos aviadores. Vista de cima, a igreja tem duas asas”, explica Padre Lucas Raul de Faria, OSJ, Pároco.
Sob essas “asas” começaram no domingo, dia 1º e prosseguem até o dia 10, os festejos da padroeira, com o tema “Loreto, Casa da Esperança”, que busca inspirar os fiéis a vivenciar a virtude teologal que os aproxima do céu neste momento especial em que a Paróquia completa 70 anos de história.
“Nossa novena, inspirada no Magnificat de Maria, será uma oportunidade especial para refletirmos sobre o papel de Nossa Senhora como modelo para as famílias e como a Mulher da Esperança”, acrescenta Padre Lucas.
UM ACIDENTE, UMA GRATIDÃO, UMA CAPELA
Em 1948, aconteceu um acidente com um pequeno avião na região. O piloto, descendente de italianos, invocou Nossa Senhora de Loreto e, após saltar de paraquedas, sobreviveu. Em gratidão pelo livramento, trouxe da Itália uma imagem de Nossa Senhora e teve início a construção de uma capela.
Enquanto a obra transcorria, a imagem de Nossa Senhora de Loreto peregrinava de casa em casa e aconteciam momentos para a reza do Terço, festas e leilões para arrecadar fundos. Em 1949, a capela foi inaugurada, e em 11 de junho de 1954 foi elevada a Paróquia.
Doracy Danelon Marim, mais conhecida como dona Dora, tem 90 anos e é testemunha viva de toda a história da igreja. Com um brilho nostálgico no olhar, ela relembra como eram as celebrações da padroeira nos primeiros anos da comunidade.
“Todo dia 10 de dezembro, levavam a imagem ao Campo de Marte. Depois, ela era trazida de helicóptero e jogavam pétalas de flores sobre a igreja. Em seguida, pousavam em um campo em frente à Paróquia e levavam a imagem para ser venerada enquanto a guarda de honra permanecia posicionada até a hora da procissão”, recorda dona Dora, com emoção.
A CASA DE MARIA EM SÃO PAULO
O título de padroeira dos aviadores dado a Nossa Senhora de Loreto tem origem no transporte milagroso da Casa de Maria. Segundo a tradição, após a Assunção de Maria ao céu, a casa em que a Sagrada Família morava foi milagrosamente transferida por anjos. Em 1291, ela foi levada de Nazaré para Tersatz, na antiga Iugoslávia, e em 1294 foi novamente transportada para uma floresta de loureiros, na Itália, originando o nome Loreto.
Para aproximar a comunidade da devoção à Casa de Maria, Padre Lucas tem incentivado a invocação de Nossa Senhora de Loreto também como padroeira das famílias.
“Nem todos aqui são aviadores ou costumam viajar de avião, mas todos possuem uma casa e uma família. Por isso, reconhecer Maria como protetora dos lares fortalece ainda mais a unidade da comunidade com sua padroeira”, comenta o Sacerdote.
Geralda Eugênia Rodrigues, 82, do Grupo Capelinhas de Nossa Senhora, é exemplo dessa devoção. Ela leva a imagem peregrina de Maria para diferentes lares.
“Nossa Senhora de Loreto é a Mãe das famílias. Eu cuido de uma das imagens peregrinas e a levo para os apartamentos do meu condomínio. É muito bonito ver como ela é acolhida com tanto amor em cada casa”, conta.
SOLIDARIEDADE QUE CURA
Ao longo de seus 70 anos, a Paróquia Nossa Senhora de Loreto cresceu e fortaleceu sua atuação pastoral, mas a solidariedade ganha destaque entre as ações da comunidade. “Distribuímos cerca de 200 cestas básicas por mês, e realizamos atividades como dança e atendimento psicológico para idosos. Nossa farmácia distribuiu somente no mês passado 410 medicamentos gratuitamente”, afirma Padre Lucas, relembrando que a farmácia comunitária da Paróquia recebeu em 2023 o mais alto grau de honra da Arquidiocese, a Medalha São Paulo Apóstolo.
O Sacerdote reforça que a história de solidariedade da comunidade é antiga: “O posto de saúde da Vila Medeiros existe por causa da igreja. A Paróquia foi o primeiro espaço em que os atendimentos começaram a acontecer”.
A vitalidade da Paróquia encanta a todos que chegam, como é o caso do Padre Valdinei Nascimento Pini, OSJ, convidado para celebrar os festejos da Padroeira: “É uma comunidade feliz e profundamente devota de Nossa Senhora. É inspirador ver as famílias participando ativamente.”
UMA FÉ CHEIA DE ESPERANÇA
Essa solidariedade tão presente na comunidade também foi destacada pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, que mesmo em recuperação de uma cirurgia no punho esquerdo, foi à Paróquia para presidir a missa de abertura da novena, ocasião em que reforçou que o Advento é tempo oportuno para o crescimento das virtudes cristãs como a caridade e a esperança.
“Neste primeiro domingo do Advento, somos convidados a recordar a promessa da segunda vinda de Cristo. É um tempo de preparação, no qual somos chamados a viver plenamente a santidade que nasce do nosso Batismo. Ser santo é estar unido a Deus, praticando a caridade com o próximo e cultivando a esperança. Nossa fé é cheia de esperança”, ressaltou na homilia.
“Recorramos sempre à nossa Mãe do Céu para nos livrar de todo o mal”, rogou o Arcebispo durante a missa.
A FESTA CONTINUA
A novena continuará até a segunda-feira, 9, com missas às 20h, durante a semana, e às 18h, aos finais de semana. Uma quermesse também está programada, a partir das 17h para o sábado, 7, e o domingo, 8, sendo que neste dia também haverá uma carreata, que partirá da igreja às 15h, seguida da bênção dos veículos. No dia da padroeira, na terça-feira, 10, a missa solene será às 20h. A matriz paroquial está localizada na Avenida Nossa Senhora do Loreto, 914, na Vila Medeiros.