Paróquia São José do Belém abre jubileu com dedicação da igreja e do novo altar

Cardeal Odilo Pedro Scherer realiza o rito de dedicação do altar da matriz da Paróquia São José do Belém (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

A Paróquia São José do Belém, no Belenzinho, zona Leste de São Paulo, iniciou as comemorações dos seus 125 anos de fundação com a missa solene de dedicação do novo altar e de sua igreja matriz, no sábado, 14.

A celebração foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. Concelebraram a Eucaristia o Pároco, Padre Marcelo Maróstica Quadro, e o Vigário Paroquial, Padre Thiago Faccini.

O templo construído na década de 1920 passou por adequações em seu presbitério, com a construção do conjunto composto pelo novo altar, a mesa da Palavra e a sédia (cadeira do presidente das liturgias).

Antes do Concílio Vaticano II (1962-1965), o rito de dedicação das igrejas e altares era comum nas catedrais e grandes santuários assim que eram inaugurados ou tinham suas obras concluídas. Após o Concílio, esse rito se estendeu às demais igrejas, inclusive às que já estavam em funcionamento há mais tempo, para ressaltar a dignidade do templo e a sacralidade do lugar de culto.

Morada de Deus

Na homilia, Dom Odilo meditou sobre o valor e a dignidade dos templos como casa de Deus. “Humanamente, podemos nos perguntar se Deus precisa de igrejas quando o mundo inteiro é pequeno para conter sua presença. Deus aceita que nós, em nosso reconhecimento, devoção e adoração, dediquemos um espaço para sinalizar que Ele tem uma casa no meio de nós”, afirmou.

O Cardeal acrescentou que as igrejas são um sinal para a humanidade de que “o Senhor está no meio de nós”, que Ele habita as cidades e se manifesta na vida da sociedade, por meio do testemunho daqueles que creem Nele.

(foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Casa dos cristãos

O Arcebispo ressaltou, ainda, que as igrejas são os lugares em que a família de Deus se reúne para celebrar a sua fé e se encontrar com o Senhor. “A família de Deus precisa de casa e o Pai nos oferece a sua casa”, afirmou.

“Aqui, proclamamos a Palavra de Deus, celebramos os sacramentos, testemunhamos a nossa fé”, destacou Dom Odilo, completando que a igreja é também a casa em que se manifestam o amor, o respeito, a fraternidade e a gratuidade. É, ainda, casa que acolhe os pobres, aflitos e necessitados de ajuda, consolo e caridade.

Por fim, o Cardeal afirmou que “os simbolismos, sinais e palavras deste rito colocam em evidência a Igreja do Deus vivo, as pessoas, a comunidade que O acolhe com fé e O adora em espírito e em verdade”, recordando que, como ressalta a Sagrada Escritura, os cristãos são templos de Deus, “as verdadeiras pedras vivas que edificam a Igreja de Cristo”.

Projeto

O projeto dos novos elementos litúrgicos é de autoria do Vigário Paroquial, Padre Thiago Faccini, que também é Assessor do Setor de Espaço Litúrgico da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ele explicou que as adequações foram realizadas tendo como referência os elementos artísticos e arquitetônicos dos altares laterais da igreja e da capela do Santíssimo, mantendo, assim, a harmonia do templo. A próxima etapa do projeto é a construção de uma fonte batismal, ainda não concluída.

A celebração foi antecedida por um tríduo preparatório, no qual a comunidade aprofundou o sentido dos ritos e sinais da Igreja. Na primeira noite, houve uma missa em honra dos santos cujas relíquias foram depositadas sob o novo altar. Na segunda noite, houve uma adoração eucarística na intenção da comunidade e, na véspera da dedicação, Padre Thiago conduziu um encontro catequético no qual explicou o significado de cada elemento que compõe o novo presbitério e seu valor para a liturgia da Igreja.

Relíquias depositadas sob o altar (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Emoção

Maria Águeda Raposo Barra, 74, atua na Paróquia há cerca de 25 anos. Ministra Extraordinária da Comunhão e agente da Pastoral da Liturgia, ela é uma das responsáveis pelos cuidados dos objetos litúrgicos e das toalhas que ornamentam o altar. “Fiquei muito emocionada ao ver o novo altar ser consagrado. Era um sonho antigo que tínhamos”, contou a leiga, acrescentando que o sonho ficará completo quando for concluída a fonte batismal.

Aos 94 anos, Irmã Vergínia Maria Turgato é Religiosa da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, presente na Paróquia há mais de um século, especialmente no Educandário São José do Belém, obra social que atende crianças do bairro há 110 anos.

A Religiosa, que atuou como catequista na comunidade por mais de uma década, também estava emocionada com a celebração, principalmente pelo fato de uma das relíquias depositadas sob o altar ser da fundadora de sua congregação, a Beata Bárbara Maix. “Nossa congregação está muito ligada a esta comunidade, que nos acolheu desde o início. Foram muitas gerações de crianças que acompanhamos no educandário”, relatou.

RITO DE DEDICAÇÃO
Aspersão –
O rito de dedicação é marcado por diversos símbolos e gestos. O primeiro deles é a aspersão com água benta sobre o povo, templo espiritual. Depois, aspergem-se as paredes da igreja e o altar.

Relíquias – Após a liturgia da Palavra, depois da invocação da Ladainha de Todos os Santos, são depositadas no altar as relíquias de santos e mártires, para significar que o sacrifício dos membros do corpo de Cristo teve a sua origem no sacrifício daquele que é a Cabeça. Nesse caso, foram colocadas as relíquias de São José de Anchieta, Santa Paulina e das Beatas Assunta Marchetti e Bárbara Maix.

Prece de Dedicação – O celebrante profere uma oração na qual manifesta a intenção de dedicar o templo a Deus para sempre, pedindo a sua bênção. “Que aqui os pobres encontrem misericórdia, os oprimidos alcancem a verdadeira liberdade e todos sintam a dignidade de ser vossos filhos e filhas, até que, exultantes, chegueM à Jerusalém celeste”,diz um trecho da prece.

Unção – O altar e as paredes da igreja são ungidos com o óleo do Crisma. Pela unção, o altar se torna o símbolo de Cristo, que é o “Ungido” por excelência com o Espírito Santo. Já a unção da igreja, feita nas 12 cruzes fixadas nas paredes (em templos de dimensões menores isso se faz em quatro cruzes), em recordação dos apóstolos, sinaliza que o templo é perpetuamente dedicado ao culto cristão.

Incensação – Após a unção, é queimado incenso sobre o altar para significar que o sacrifício de Cristo “sobe para Deus em odor de suavidade”; mas também para exprimir que as orações dos fiéis sobem igualmente até o trono de Deus. Também toda a igreja é incensada, sinalizando que aquela é uma casa de oração, assim como o povo, templo vivo.

Revestimento e Iluminação – Por fim, o altar é revestido como sinal de que aquele é o lugar do sacrifício eucarístico e a mesa do Senhor, em volta da qual o sacerdote e os fiéis celebram o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Em seguida, o altar é iluminado com velas, para recordar que Cristo é “luz para a revelação aos povos” e com sua claridade resplandece a Igreja. O templo também é iluminado simbolicamente com velas colocadas junto às cruzes que foram ungidas.

Eucaristia – Preparado o altar, é celebrada a Eucaristia, parte principal e a mais antiga de todo o rito de dedicação de uma igreja.

A caminho dos 125 anos

Padre Marcelo Maróstica acende uma das velas que indicam a dedicação da igreja (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

A Paróquia São José do Belém foi criada em 14 de agosto de 1897, quando era apenas uma capelinha de aldeia. Localizada na área de um cemitério, que, então, foi transferido para o atual Cemitério da Quarta Parada.

Seu terreno foi cedido em 1878 pela Câmara Municipal para a construção de um santuário. Foi em torno dessa igreja que se desenvolveu o bairro do Belenzinho. Na época, a maioria das famílias era de portugueses e italianos, que viviam em fazendas e casas de campo.

Como o restante da cidade, o ritmo urbano cresceu, as casas começaram a se aglomerar e as fábricas se instalaram, tornando-o um bairro operário, que reuniu vilas operárias, como a Vila Maria Zélia, a primeira do País.

Hoje, as grandes fábricas deram lugar a condomínios que acolhem milhares de novas famílias e novos desafios pastorais.

Renovação

Para o Pároco, a celebração da dedicação do altar e da Igreja marca um horizonte de renovação na vida da comunidade, não apenas em relação ao espaço físico, mas na sua ação evangelizadora.

Padre Marcelo ressaltou, ainda, que essa celebração acontece também no contexto do Ano de São José, ocasião em que a Igreja em todo o mundo é chamada a olhar para a vida e o exemplo do seu padroeiro universal.

Outro aspecto enfatizado pelo Sacerdote é que a Paróquia inicia seu jubileu em meio ao caminho sinodal da Arquidiocese de São Paulo e da preparação da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que convida a comunidade a refletir sobre os desafios pastorais e a olhar com mais atenção para a realidade que a cerca.

“É um momento muito rico para as pessoas perceberem quais são as urgências da evangelização e como iremos responder a esses apelos que a realidade nos faz”, disse o Pároco, destacando o crescimento da população de migrantes, das pessoas em situação de rua, da verticalização do bairro com a construção de novos condomínios habitacionais.

Reinauguração dos sinos

Outro marco das comemorações do jubileu da Paróquia São José do Belém é a reinauguração dos sinos da matriz, que serão abençoados na quinta-feira, 19, pelo Cardeal Odilo Scherer.

Os oito sinos, datados de 1927, passaram por manutenção, limpeza e modernização do sistema de automação, realizadas pela Fábrica de Sinos de Piracicaba e patrocinadas pelo Grupo Comolatti.

Após a reinauguração, os sinos voltarão a soar três vezes por dia (às 9h, às 12h e às 18h) e, também, durante 15 minutos antes das missas.

“Nesse tempo em que as vozes se calam e as pessoas não conseguem ouvir umas às outras, os sinos ajudarão o povo a ouvir novamente a voz de Deus”, afirmou o Pároco, reforçando que a comunidade tem a missão de ser sempre um “sacramento”, isto é, sinal visível e sensível da presença de Deus no bairro.

Patrocínio

Já virou uma tradição do Grupo Comolatti patrocinar o restauro de sinos de igrejas em São Paulo. Isso começou há mais de dez anos, com um pedido de Dom Odilo. Depois disso, o presidente do grupo, Sergio Comolatti, gostou da iniciativa e, desde então, todos os anos, a empresa patrocina o restauro dos sinos de uma igreja.

A partir daí, foram feitos os restauros dos sinos de outras paróquias. Em 13 anos, já foram 15 igrejas que tiveram seus sinos restaurados, entre as quais, a igreja matriz das Paróquias São Vito, Bom Jesus do Brás, Nossa Senhora do Brasil entre outras, além da Igreja Nossa Senhora da Boa Morte e do Mosteiro de São Bento, no centro. Em 2010, foi restaurado o carrilhão de 61 sinos da Catedral da Sé, o maior da América Latina.

Matriz da Paróquia São José do Belém, fundada em 1897, na zona leste de São Paulo (foto: Paróquia São José do Belém)
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