‘Pela graça de Deus e pela unção do Espírito Santo, somos ministros de Cristo’

Afirmou o Cardeal Odilo Scherer na Missa Crismal, que reuniu o clero da Arquidiocese de São Paulo na Catedral da Sé

Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO

Na manhã desta Quinta-feira Santa, 28, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, reuniu-se com o clero arquidiocesano para a celebração da Missa Crismal na Catedral da Sé.

Nesta celebração, são abençoados os óleos usados nos sacramentos do Batismo e Unção dos Enfermos e é consagrado o óleo do Crisma, usado nos sacramentos do Batismo, Confirmação, nas ordenações sacerdotais e episcopais, além das dedicações de altares e templos. Também nesta missa, os padres renovam suas promessas sacerdotais diante do arcebispo, por ocasião da recordação da instituição do sacerdócio ministerial.

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No início da homilia, Dom Odilo dirigiu seu pensamento aos sacerdotes idosos e enfermos, impossibilitados de comparecerem à celebração. Em seguida, convidou todo o povo a recordar com afeto dos padres que passaram por suas vidas, sobretudo aqueles que os batizaram e ministraram outros sacramentos.

“Nesta Quinta-feira Santa, lembramos tantas coisas bonitas, que dizem respeito à nossa fé, à Igreja e à nossa vida. Nós, sacerdotes, lembramos nossa ordenação sacerdotal quando, cheios de emoção, respondemos às perguntas que o Bispo ordenante nos fez diante de todo o povo, e que nos serão feitas hoje de novo. E fizemos as nossas promessas sacerdotais, respondendo: ‘quero, quero com a graça de Deus’. Talvez naquele momento, tomados de ansiedade, nem nos demos conta da importância e da profundidade daquilo que nos era dito e que assumíamos de bom coração”, afirmou o Arcebispo, dirigindo-se aos sacerdotes.

CONFIGURADOS A CRISTO

O Cardeal recordou que, entre as promessas renovadas, a principal é a que se refere à relação dos padres com Cristo, sacerdote. “‘Quereis unir-vos e conformar-vos mais estreitamente ao Senhor Jesus, renunciando a vós mesmos e confirmando os compromissos do sagrado ministério, que assumistes com a Igreja no dia da vossa ordenação sacerdotal?’ Nossa vocação é estar a serviço de Cristo para o bem da Igreja e do mundo e só podemos desempenhar bem essa missão na medida em estivermos estreitamente unidos a Cristo pela fé e pela caridade e se conformarmos nossa vida à dele”, salientou Dom Odilo, acrescentando que essa “configuração” é um processo mediante o qual os sacerdotes assimilam cada vez mais as atitudes de Jesus, seu o amor a Deus e às pessoas, sua humildade, serviço à verdade e à justiça.

Lembrando a exortação do apóstolo São Paulo aos cristãos filipenses terem “os mesmos sentimentos de Cristo”, Dom Odilo sublinhou que isso vale ainda mais para os ministros ordenados. “Se não é assim, acabaremos fazendo do sacerdócio um meio de projetarmos a nós mesmos e de buscarmos nossas vaidades mundanas. Os compromissos do sagrado ministério não se referem apenas ao cumprimento de tarefas, mas à constante e perseverante ‘conformação’ de nossa vida sacerdotal à de Cristo sacerdote”, disse.

Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO

DISPENSADORES DOS MISTÉRIOS DE DEUS

“Pela graça de Deus e pela unção do Espírito Santo, somos ministros de Cristo e, como tais, ‘dispensadores dos mistérios de Deus’ para os irmãos. Fomos consagrados para servir a Deus e à humanidade ‘nas coisas que são de Deus’”, afirmou o Arcebispo, recordando que os mistérios de Deus são os sacramentos, mas também a Palavra de Deus, a misericórdia, o perdão e o amor de Deus, a alegria, a esperança sobrenatural, o consolo de Deus aos que sofrem. “Somos ‘dispensadores’ desses ‘mistérios’, ou dons de Deus; não somos nós a fonte”, completou.

“Se não distribuirmos os mistérios de Deus com generoso zelo, as pessoas podem sentir falta desses bens de Deus. Onde procurarão o precioso pão da Palavra de Deus, se não o receberem dos lábios dos seus ministros? Onde se alimentar do Pão vivo da Eucaristia, se deixamos de celebrar a Missa com o povo e pelo povo? Onde recebem o perdão sacramental se não os atendemos em confissão? Quem vai ungir os enfermos, levando-lhes o conforto e a esperança cristã?”, indagou o Cardeal, recordando que o dom do sacerdócio é sempre dado para servir e animar a comunidade dos “ungidos” do Senhor, “na Igreja e com a Igreja, em comunhão com ela”.

Nesse sentido, Dom Odilo convocou todos os sacerdotes a se dedicarem intensamente, mediante a graça recebida, ao ministério da Palavra, à pregação e à formação do povo na Palavra de Deus. “Da mesma forma, a celebrarem os mistérios da fé na liturgia para a glorificação de Deus e a santificação das pessoas, orientando e estimulando todos a trilharem o caminho das virtudes do Evangelho e da santificação da vida cotidiana”, completou.

CARIDADE PASTORAL

Por fim, Arcebispo convidou os padres a viverem o testemunho da caridade pastoral e, seguindo o exemplo de Jesus, “compadecer-se das multidões de pobres enfermos, famintos, sofredores, desorientados, explorados, e desrespeitados em sua dignidade”.

“Queridos sacerdotes, que em tudo possamos seguir o exemplo de Jesus Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja, Sacerdote de Deus e da humanidade, não levados por ambições humanas, mas unicamente pelo amor a Deus e aos irmãos. Desejo de todo coração que Deus abençoe e conforte cada um de vocês na celebração da Páscoa e lhes dê a alegria de colher muitos frutos no seu serviço à ‘vinha do Senhor’”, concluiu o Cardeal.

Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO

AGRADECIMENTO

Em nome do clero Arquidiocesano, o Cônego Helmo Cesar Faccioli, Auxiliar do Cura da Catedral, saudou o Cardeal Scherer por ocasião da Páscoa, renovando a comunhão do presbitério com o Arcebispo.

“O senhor, Dom Odilo, nos apascenta. E apascentar é tão divino e tão humano. Ser apascentado pelo sucessor dos apóstolos é uma graça”, afirmou o Cônego.

 O Sacerdote sublinhou que Dom Odilo é Arcebispo na 5ª maior cidade do mundo. “Quando lemos a vida do profeta Jonas, nos diz a Escritura que ele demorou três dias para atravessar Nínive, a grande cidade. Imaginemos a 5ª maior cidade do mundo tem à frente aquele que, acredito, em três horas a atravessa de ponta a ponta como o primeiro dispensador dos mistérios de Deus, levando os sacramentos, a esperança, a fraternidade e a solidariedade”.

Contemporâneo de estudos de Dom Odilo durante o período formativo no Studium Theologicum de Curitiba (PR), Cônego Helmo recordou que o Cardeal soube beber das fontes do Concílio Vaticano II, sobretudo o que se diz sobre a eclesiologia da Igreja particular, isto é, das dioceses e arquidioceses. “Na minha memória, ainda o vejo na mesma sala de aula com muita atenção e, ao mesmo tempo, com muito desejo de aprofundamento”, relatou.

“O senhor escolheu como lema do seu episcopado ‘Em memória de mim’. Que escolha profunda, que escolha viva, que traz presente Jesus, a Eucaristia. Em memória Jesus Cristo, o senhor está aqui, à frente desta imensa Arquidiocese”, acrescentou o Cônego.

O Sacerdote também recordou o empenho do Cardeal Scherer na realização do 1º sínodo arquidiocesano de São Paulo que teve como lema “Deus habita esta cidade, somos suas testemunhas”. “Quando ouço de seus lábios a expressão ‘Deus habita esta cidade’, digo ao senhor, em nome dos padres, Deus habita esta cidade e o senhor é aquele que confirma todos nós para dar à cidade, aquilo que ela espera”, completou.

POSSE DOS DECANOS

No fim da celebração, aconteceu a posse dos presbíteros decanos dos 24 decanatos criados recentemente na Arquidiocese. Em vigor desde 25 de janeiro, os decanatos são unidades pastorais integradas por certo número de paróquias e todas as organizações eclesiais e pastorais nelas compreendidas em cada região episcopal. Os decanatos substituem os setores pastorais.

Antes da missa, os decanos fizeram o juramento de fidelidade diante do Arcebispo, conforme prevê o código de Direito Canônico.

Foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO

FAFPRES

Também houve a promulgação e nomeação dos membros do Conselho Gestor e do Conselho de Supervisão Permanente do Fundo de Auxílio Fraterno Presbiteral (FAFPRES). Esse fundo, que substitui o atual Fundo de Auto Gestão, será voltado para atender às necessidades de todos os padres da Arquidiocese, especialmente daqueles que se encontram enfermos, idosos e impossibilitados de continuar desempenhando responsabilidades pastorais, para que os presbíteros tenham condições de viver com dignidade e boa qualidade de vida.

TRÍDUO PASCAL

Ainda na noite desta quinta-feira, Dom Odilo preside, às 18h, também na Catedral, a missa da Ceia do Senhor, com o rito do lava-pés, que marca abre a celebração do Tríduo Pascal. Na sexta-feira, 29, às 15h, o Arcebispo preside a ação litúrgica da Paixão do Senhor e, na noite do Sábado Santo, 30, às 19h, acontece a Solene Vigília Pascal. No domingo, 31, às 11h, o Cardeal preside a missa da Solenidade de Páscoa da Ressurreição.

Todas essas celebrações serão transmitidas pela rádio 9 de Julho e pelas mídias digitais da Arquidiocese.

Leia a homilia proferida por Dom Odilo Pedro Scherer na celebração:

Estimados irmãos Bispos Auxiliares
Estimados Sacerdotes, Diáconos, seminarista e religiosos/as
Queridos irmãos leigos(as)

Nesta Quinta-Feira Santa lembramos tantas coisas bonitas, que dizem respeito à nossa fé, à Igreja e à nossa vida. Nós, sacerdotes lembramos nossa ordenação sacerdotal quando, cheios de emoção, respondemos as perguntas que o Bispo ordenante nos fez diante de todo o povo, e que nos serão festas hoje de novo. E fizemos as nossas promessas sacerdotais, respondendo quero, quero com a graça de Deus. Talvez naquele momento, tomados de ansiedade, sem nos demos conta da importância e da profundidade daquilo que nos era dito e que assumíamos de bom coração.

Graças a Deus, a Igreja nos dá todos os anos a oportunidade de renovar essas promessas, na Quinta-Feira Santa. E assim, mais uma vez, podemos dizer com o coração cheio de gratidão pelo dom recebido e já vivido, talvez, por longos anos: sim, quero, continuo querendo, com a graça de Deus.

Entre as promessas que renovamos, a principal é a que se refere à nossa relação com Cristo, sacerdote. “Quereis unir-vos e conformar-vos mais estreitamente ao Senhor Jesus, renunciando a vós mesmos e confirmando os compromissos do sagrado ministério, que assumistes com a Igreja no dia da vossa ordenação sacerdotal?” Nossa vocação é estar a serviço de Cristo para o bem da Igreja e do mundo e só podemos desempenhar bem essa missão na medida em estivermos estreitamente unidos a Cristo pela fé e pela caridade e se conformarmos nossa vida à dele. Essa “configuração” é um processo mediante o qual assimilamos mais e mais as atitudes de Jesus, seu o amor a Deus e às pessoas, a humildade dele, o serviço à verdade e à justiça, como ele fez.

São Paulo exortou os cristãos filipenses a terem em si “os mesmos sentimentos que tinha Cristo Jesus”. Se isso vale para todos os discípulos de Jesus, vale ainda mais para nós, sacerdotes e servidores dos discípulos de Jesus. Se não é assim, acabaremos fazendo do sacerdócio um meio de projetamos a nós mesmos e de buscarmos nossas vaidades mundanas. Os “compromissos do sagrado ministério não se referem apenas ao cumprimento de tarefas, mas à constante e perseverante “conformação” de nossa vida sacerdotal à de Cristo sacerdote.

Entre as promessas sacerdotais que hoje renovamos, impressiona-me especialmente a terceira: “Quereis ser fiéis dispensadores dos mistérios de Deus pela celebração da Eucaristia e demais ações litúrgicas, cumprir com fidelidade a missão de ensinar, seguindo o Cristo Cabeça e Pastor, não levados pela ambição de bens materiais, mas apenas pelo amor aos irmãos e irmās?”

Pela graça de Deus e pela unção do Espírito Santo, somos ministros de Cristo e, como tais, “dispensadores dos mistérios de Deus” para os irmãos. Fomos consagrados para servir a Deus e à humanidade “nas coisas que são de Deus”. Os mistérios de Deus são os Sacramentos, mas também a palavra de Deus, a misericórdia, o perdão e o amor de Deus, a alegria, a esperança sobrenatural, consolo de Deus aos que sofrem. Somos “dispensadores” desses “mistérios”, ou dons de Deus; não somos nós a fonte. Somos aqueles que distribuem os bens de Deus e, por nosso meio, de alguma forma, se prolonga no mundo o mistério da Encarnação: o Filho de Deus permanece entre nós e no mundo de forma sacramental, graças à ação dos sacerdotes que o servem.

Se não distribuirmos os “mistérios de Deus” com generoso zelo, as pessoas podem sentir falta desses bens de Deus. Onde procurarão o precioso pão da palavra de Deus, se não o receberem dos lábios dos seus ministros? Onde se alimentar do Pão vivo da Eucaristia, se deixamos de celebrar a Missa com o povo e pelo povo? Onde recebem o perdão sacramental se não os atendemos em confissão? Quem vai ungir os enfermos, levando-lhes o conforto e a esperança crista?

Hoje, olhemos de novo para Aquele que nos chamou e constituiu “distribuidores dos mistérios de Deus”. E proclamamos, agradecidos, pelo dom da vocação, da unção do Espírito Santo recebida na nossa ordenação sacerdotal: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu e me enviou”. “Senhor, eu cantarei eternamente o vosso amor!””

Lembremos sempre que esse dom nos é dado “para”: “O Espírito do Senhor me ungiu para… proclamar, curar, consolar, pregar a redenção liberdade. O dom nos é dado para servir e animar a comunidade dos “ungidos” do Senhor, na Igreja e com a Igreja, em comunhão com ela.

Por isso, quero convocar hoje mais uma vez a todos os sacerdotes a se dedicarem intensamente, mediante a graça recebida, ao ministério da palavra, à pregação e à formação do povo na palavra de Deus. Da mesma forma, a celebrarem os mistérios da fé na Liturgia para a glorificação de Deus e a santificação das pessoas, orientando e estimulando todos a trilharem o caminho das virtudes do Evangelho e da santificação da vida cotidiana.

E convido todos a viverem o testemunho da caridade pastoral, animando a comunidade pastoral. Não são verdadeiras a fé e a adoração de Deus que não frutificam na caridade, praticada de muitas maneiras. A exemplo de Jesus, também os discípulos dele devem “compadecer-se das multidões” (cf Mt 9,36; 14,14; Lc 10,33) de pobres, enfermos, famintos, sofredores, desorientados, explorados e desrespeitados em sua dignidade. Fé cristă não combina com indiferença diante das dores do próximo. Ela também leva a valorizar e respeitar toda a obra de Deus Criador, “casa comum da família humana”, e a lutar por um mundo justo, solidário, pacífico e bom para todos.

Queridos sacerdotes, que em tudo possamos seguir o exemplo de Jesus Cristo, Cabeça e Pastor da Igreja, Sacerdote de Deus e da humanidade, não levados por ambições humanas, mas unicamente pelo amor a Deus e aos irmãos. Desejo de todo coração que Deus abençoe e conforte cada um de vocês na celebração da Páscoa e lhes dê a alegria de colher muitos frutos no seu serviço à “vinha do Senhor”.

Cardeal Odilo P. Scherer
Arcebispo de S.Paulo
Missa do Crisma 28 03 2024

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