Pesquisadores refletem sobre possibilidade de cenário mais estável para a covid-19 em 2022

Embora haja perspectiva de que a doença tenha seu status alterado de pandemia para endemia, medidas como vacinação e uso de máscaras permanecem fundamentais para o controle do vírus

Reprodução de Tela /Reunião do Comitê Científico

Tomando-se por base a história evolutiva de outros tipos de coronavírus, a tendência é que o vírus Sars-CoV-2 venha a perder o potencial de causar mortes e problemas graves de saúde em massa. Essa é a visão da pesquisadora Maria Carolina Sabbaga, do Laboratório de Ciclo Celular do Instituto Butantan, para os possíveis desdobramentos da pandemia de covid-19. Sabbaga apresentou suas análises durante o painel “A pandemia hoje”, realizado pelo Comitê Científico da Unesp, transmitido pela internet na  quarta-feira, 9. A concretização desse cenário, porém, está condicionada a manutenção de uma boa cobertura vacinal junto à população, bem como ao não surgimento de novas variantes do vírus que possam despertar a preocupação das autoridades médicas.

O painel online, que contou também com as participações dos professores da Unesp Carlos Magno Fortaleza e Rejane Grotto, integrantes do Comitê Científico, ocorreu no mesmo dia em que a Fiocruz divulgou um balanço dos dois anos de pandemia fazendo menção à possibilidade de transição da caracterização da covid-19 de pandemia para endemia, estágio em que a doença obedece a um padrão estável e mais controlável. Esta perspectiva “otimista” vem ganhando força mundo afora.

“Enquanto houver transmissão elevada do vírus e ambientes de pessoas não vacinadas, o Sars-CoV-2 pode seguir sofrendo mutações. E eventualmente, a cada vez que ocorre uma variação, pode surgir uma variante mais perigosa”, explica Sabbaga, que integra a equipe da rede estadual de alertas de variantes do Sars-CoV-2 coordenada pelo Butantan. “Acho que é possível fazer este comparação entre o Sars-CoV-2 e outros coronavírus. O que aconteceu, ao longo do processo de evolução, é que os vírus vão perdendo a potência, no sentido de causar mortes e problemas mais graves. A tendência é os vírus irem se adaptando mesmo”, disse a pesquisadora.

Ao longo desta semana, países europeus como França, Espanha e Reino Unido anunciaram que passaram a tratar a covid-19 como endemia. O Brasil, entretanto, parece que só agora ensaia deixar para trás o pico de casos e mortes causados pela variante ômicron. Na quarta, dia 9, foram registrados mais de 1.200 óbitos em 24 horas, reflexo da alta das internações ocorrida, principalmente, em janeiro.

A ômicron foi identificada pela primeira vez no país em dezembro e, em um intervalo curto, tornou-se predominante, elevando o número de casos e de mortes. Durante a live, Sabbaga afirmou que, na última semana, 99% das amostras sequenciadas pela rede de alertas de variantes eram da variante ômicron. A cada semana, os laboratórios ligados à rede sequenciam, em média,  1.500 amostras. “A ômicron é bastante diferente das demais variantes do Sars-CoV-2. Ela tem muitas mutações, e é a variante que circula no estado de São Paulo”, disse.

O epidemiologista Carlos Magno Fortaleza, professor da Faculdade de Medicina da Unesp, também discorreu sobre a possibilidade de que  a covid-19 possa ser tratada como doença endêmica, e não mais caracterizada como uma pandemia.

“Não é plausível que a covid desapareça de um momento para o outro”, disse Fortaleza. “É possível que, assim como ocorreu com a influenza e o H1N1, continuemos a ver, por anos a fio, algumas internações e até casos graves causados pela covid. Mas estes casos não seriam na quantidade, nem com a carga de doença, que estamos experimentando desde 2020.”

Vacinação e medidas protetivas

Ao longo do painel, os pesquisadores intermearam as reflexões mais otimistas com diversos alertas e esclarecimentos  quanto à segurança e à eficácia das vacinas, e reforçaram a necessidade de manutenção das medidas protetivas não farmacológicas, como o uso de máscaras em espaços públicos e durante os encontros presenciais.

“Se mantivermos esse nível de disseminação, ou seja, se as pessoas deixarem esse vírus se multiplicar nesse nível que está acontecendo, é possível que se tenha seleção (do Sars-CoV-2) por pressão seletiva natural, como acontece com qualquer outro vírus. Esta é uma preocupação real”, afirmou a professora Rejane Grotto. Ela também alertou para a ameaça da transmissão da covid-19 por pessoas assintomáticas, que deixam de lado as medidas protetivas recomendadas. “É preciso dar importância a isso quando a gente discute a questão do comportamento social.”

Maria Carolina Sabbaga também reforçou que, quanto maior for a taxa de disseminação da covid-19, maior a probabilidade de que ocorram mutações do Sars-CoV-2. Consequentemente, maior é a chance de que surja uma nova variante de preocupação. “Se não queremos que surjam variantes novas, temos que preservar as medidas não farmacêuticas de proteção”, disse ela. “Tudo leva a crer que os casos vão diminuir, e que vamos entrar numa situação bem melhor. Mas é preciso olharmos sempre com cuidado.”

Segundo a pesquisadora do Butantan, a subvariante da ômicron BA.2, que é mais transmissível em um ambiente sem cobertura vacinal, teve até o momento apenas três casos identificados no estado de São Paulo, por meio do trabalho de vigilância genômica realizada pela rede de alertas de variantes. Essa constatação pode indicar que a imunização da população paulista esteja impedindo a disseminação desta subvariante. “Vamos ver o que vem pela frente, mas parece que ela (BA.2) não está muito agressiva”, disse.

Durante a live, os pesquisadores também trataram da vacinação em crianças, dirimindo dúvidas e trazendo esclarecimentos. O público infantil representa cerca de 10% da população brasileira, e por isso o início da imunização em crianças também deve contribuir para ampliar a cobertura vacinal no país.

A íntegra do painel online “A pandemia hoje: o que você precisa saber”, que fez parte do programa Unesp em Debate, está disponível no canal Unesp Oficial do YouTube, através do link https://www.youtube.com/watch?v=-QAyszDD9Ds&t=1815s

Fonte: Fabio Mazzitelli via Jornal da UNESP

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