Presidente da ACN Brasil detalha aumento da perseguição religiosa aos cristãos

Em entrevista às mídias da Arquidiocese de São Paulo, a advogada Ana Cecília Manente apresenta dados do Relatório de Liberdade Religiosa 2025 e relatos de extrema violência contra comunidades cristãs, especialmente na África

Fotos: Fernando Arthur/O SÃO PAULO

Na segunda-feira, dia 1º, o canal da Arquidiocese de São Paulo no YouTube transmitiu uma entrevista exclusiva com Ana Cecília Giorgi Manente, presidente no Brasil da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN). 

Em diálogo com os jornalistas Cleide Barbosa e Fernando Geronazzo, a bacharel em Direito pela USP e especialista em Finanças Internacionais pela Fipe/USP apresentou dados e testemunhos dramáticos sobre a situação da liberdade religiosa no mundo, a partir do Relatório de Liberdade Religiosa 2025, produzido pela ACN e disponível em https://www.acn.org.br

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista. 

UMA RESPOSTA À PERSEGUIÇÃO 

Logo no início, Ana Cecília recordou o nascimento da ACN em 1947, inserido no contexto da Europa devastada e oprimida pelo totalitarismo. 

“Ela [a ACN] começou, na verdade, logo depois da Segunda Guerra Mundial. Com a Cortina de Ferro, o comunismo dominou metade da Europa e proibiu a religião. Então, começou por uma iniciativa de um padre neerlandês que queria ajudar essa igreja do Leste europeu, essa igreja clandestina nos países comunistas. (…) O caminhão do exército suíço era convertido em capela; então, os padres iam dirigindo o caminhão, paravam na aldeia, levantavam a lona e celebravam a missa.” 

Com o passar dos anos, a ação se ampliou para além da Europa. 

“Ao longo dos anos, isso foi crescendo, tomando outra dimensão, ajudando não só os padres do Leste europeu, mas a Igreja do mundo todo, até que o Papa Bento XVI quis transformar essa obra em uma fundação pontifícia.” 

RELATÓRIO GLOBAL 

Ana Cecília explicou que a ACN atua tanto no apoio direto a comunidades sofridas quanto na defesa do direito humano fundamental à liberdade religiosa. E destacou a singularidade do relatório bienal produzido pela fundação: 

“Basicamente, a gente tem duas ações. Uma é apoiar a Igreja Católica que sofre pelo mundo. (…) E, de outro lado, esse é o grande bastião desse direito humano fundamental, que é a liberdade religiosa. Então, a gente defende, a gente faz o único estudo, a única pesquisa não governamental que abarca a qualidade desse direito no mundo inteiro, em todos os países.” 

Ela enfatizou que o cenário atual é extremamente grave. 

“A gente consegue perceber que a situação hoje é muito mais alarmante do que lá em 1947, quando a ACN começou, porque violações à liberdade religiosa a gente tem em todos os países do mundo”, comentou. 

Ela explicou também o porquê de o Brasil não aparecer entre os países criticamente afetados. 

“Existem atos de violência, sim, mas são atos individuais, não atos que tenham conivência do Estado. (…) No Brasil, os culpados são processados, são punidos, esse crime é investigado.” 

Ana Cecília explicou, ainda, as categorias usadas pelo relatório. 

“A discriminação religiosa é um cenário em que existe uma normalização, e muitas vezes uma normatização jurídica, que coloca um grupo religioso acima de outros. (…) Já a perseguição ocorre em lugares em que o Estado ou grupos extremistas atuam diretamente, e quem não pertence àquele povo ou pratica aquela fé pode ser preso, pode ser morto pela própria fé.” 

TESTEMUNHOS DA ÁFRICA 

Um dos momentos mais fortes da entrevista foi a descrição detalhada do modo de atuação de grupos terroristas em países africanos. Citando relatos recebidos pela ACN (leia mais na página 9), ela afirmou o seguinte: 

“A forma de atuação desses terroristas foi mudando ao longo do tempo. No começo, eram assaltos esparsos, mas depois começaram a querer o território. Eles cercam as aldeias e colocam minas explosivas. Entram botando fogo nas plantações, nas casas, nas igrejas. A população sai correndo e eles esperam com facões e matam as pessoas. É demoníaco o jeito que eles atuam.” 

Também relatou a prática recorrente dos ultimatos. 

“Eles matam alguns para colocar o terror no lugar, incendiam as igrejas, querem mesmo impor a fé islâmica, e aí dão um ultimato: ‘Daqui a 48 horas nós vamos entrar de vez e quem estiver aqui ou se converte ou vai ser assassinado.’” 

Sobre a Nigéria, foi categórica: 

“A Nigéria, hoje, é um dos piores países para ser cristão. (…) No Natal, desde 2023, há massacres coordenados entre várias aldeias. Atacam os cristãos na igreja, na celebração.” 

Ela ainda comentou os atentados em campos de refugiados. 

“Quem vai atacar gente que já está refugiada em um campo que não tem nada? Não é pela produção… é contra os cristãos.” 

CATEQUISTAS NA LINHA DE FRENTE 

A entrevistada dedicou especial atenção ao papel dos catequistas na África, que muitas vezes substituem a presença frequente dos sacerdotes. 

“Os catequistas são verdadeiros líderes comunitários. Eles formam os corais, acompanham as famílias, e muitos dos sacramentos eles ministram: o Batismo, eles fazem; eles levam a Eucaristia. Eles são impressionantes. (…) E os terroristas atacam muito esses catequistas.” 

Essa realidade motivou a campanha de Natal da ACN Brasil de 2025, voltada ao sustento desses missionários. 

A EXPANSÃO DA FÉ EM MEIO AO SOFRIMENTO 

Diante do cenário de violência, Ana Cecília destacou o testemunho da solidez da fé cristã. 

“A Igreja Católica é algo muito sólido. As pessoas estão buscando de onde vem essa solidez. (…) A gente permanece firme ao longo da história. Isso atrai em um mundo tão incerto, em um mundo quase distópico.” 

CHAMADO À ORAÇÃO E AO APOIO 

Encerrando a entrevista, Ana Cecília reforçou que a missão da ACN depende da colaboração de fiéis simples. 

“A ACN sobrevive e atua com a doação de pessoas como eu, como vocês, como você que nos assiste. Tipicamente no Brasil é o óbulo da viúva que sustenta essa obra.” 

E terminou com um apelo espiritual: “Rezem por esta causa, porque, de fato, o céu se move por causa, também, da nossa insistência.” 

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