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Projeto com skate incentiva inclusão e valores cristãos na Freguesia do Ó

Iniciativa acolhe crianças em vulnerabilidade e conta com parceria da CASP para oferecer esporte, disciplina e formação humana

Arquivo pessoa

Também na zona Norte de São Paulo, mais precisa­mente na Freguesia do Ó, um projeto tem transfor­mado a vida de crianças e adolescentes por meio de uma paixão sobre rodas: o skate. O “Skate Equilí­brio Total”, realizado no Centro de Convivência In­tergeracional Casa Clamor Cavanis “Ir. Aldo Men­ghi”, acolhe diariamente cerca de 100 pessoas, entre crianças e adultos, e conta com o apoio da Caritas Arquidiocesana de São Paulo desde julho deste ano.

Idealizado por Rogério Antigo, 63 anos, que fre­quenta tanto a Paróquia Bom Jesus dos Passos quan­to a Paróquia São José de Vila Palmeiras, ambas na Região Brasilândia, o projeto une sua experiência como campeão brasileiro de skate na categoria mas­ter com o desejo de evangelizar e formar cidadãos.

“O skate não é só subir no carrinho e acabou. En­volve coordenação motora, saúde, amizade, senso de grupo e sentimento de pertença”, explica Rogério.

Com o título de campeão brasileiro por cerca de 15 anos em categorias como freestyle e overall, Rogério leva a mesma disciplina que aprendeu nas pistas para as aulas com as crianças. “Nosso objetivo não é só en­sinar manobras, mas formar seres humanos melhores. Começamos com roda de conversa, alongamento e depois vamos para a prática com atividades lúdicas. É um momento de convivência e crescimento.”

O projeto funciona duas vezes por semana: às quartas-feiras de manhã e sextas-feiras à tarde, com turmas de 20 crianças em cada período. Os encon­tros duram entre duas e duas horas e meia. Com Ro­gério, atua um professor de educação física e outros voluntários. Além disso, o centro de convivência conta com equipe multidisciplinar, com cozinheira, psicóloga, assistente social e educadores sociais, em uma parceria que une a Prefeitura de São Paulo, a Paróquia São José, sob coordenação do Padre Jorge Luis de Oliveira, que também é diretor da Casa Cla­mor, e a Caritas Arquidiocesana.

“A parceria com a Caritas Arquidiocesana veio para fortalecer o projeto”, destaca Rogério. “Conseguimos comprar mais skates, tênis para quem não tem, e o pro­jeto já prevê a compra de caneleiras e obstáculos. Temos limitações de verba, mas a Caritas tem sido fundamen­tal. Estamos programando, inclusive, o aluguel de um ônibus para levar os alunos ao próximo campeonato.”

As aulas seguem um modelo pedagógico por módulos, com graduações e certificados (iniciante I e II), o que incentiva a permanência das crianças. A evasão é baixa — cerca de 10%. Há disciplina a ser seguida: “Se a criança não está pronta, tem di­ficuldades motoras ou comportamentais, damos tempo para ela amadurecer ou indicamos outras ati­vidades”, explica o oficineiro. “Temos crianças com déficit de atenção e hiperatividade. É preciso sensi­bilidade e paciência, os pais contam com a gente.”

O skate feminino tem crescido, prova disso é que mais da metade dos alunos do projeto são meninas. Duas delas já conquistaram o segundo lugar em cam­peonatos e estão bem-posicionadas no ranking nacio­nal. Constantemente, Rogério consegue inscrever os participantes em torneios da Confederação Brasileira de Skate. “Para muitos deles, essa é a primeira expe­riência com esporte, pódio e autoestima”, comemora.

Rogério começou a praticar skate aos 12 anos. O esporte se tornou profissão, paixão e meio de sustento. “Tive loja de skate e surfe, eduquei meus filhos com isso. Hoje sou representante comercial de tecidos. Mas faço questão de continuar, mesmo com a correria. O skate me ensinou perseverança, disciplina e paciência”, diz. “Não é só sobre esporte: é sobre acolher, proteger, educar, promover, que são os lemas da Casa. É isso que buscamos aqui.”

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