Relatório da Caritas SP mostra os impactos da pandemia em crianças refugiadas

A equipe de Proteção do Centro de Referência para Refugiados da Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP) produziu um relatório sobre os impactos da COVID-19 em crianças refugiadas.

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As informações foram coletadas por meio de diagnósticos participativos, ou seja, consultas ao público atendido, sobre o momento atual, e foram conduzidas pela Caritas entre os meses de junho e agosto deste ano. O estudo identificou riscos, capacidades e soluções sob a ótica do isolamento social, da saúde, do lazer, do comportamento e da educação das crianças.

Foi o primeiro diagnóstico realizado pelo Centro de Referência para Refugiados da CASP tendo como alvo o público infantil e adolescente. De acordo com os organizadores, a ideia é estruturar um grupo de trabalho para lidar com essas situações de modo mais especializado e transversal, com temas como proteção, educação e saúde.

Conhecer para melhor atender

Diego Souza Merigueti, 35, advogado e coordenador do setor de Proteção do Centro de Referência para Refugiados da Caritas Arquidiocesana de São Paulo, explicou ao O SÃO PAULO os principais aspectos do relatório.

“Com o início da pandemia, aumentou consideravelmente a quantidade de pessoas buscando, pela primeira vez, os serviços do Centro de Referência para Refugiados da CASP. Percebendo que os núcleos familiares eram compostos por muitas crianças e adolescentes, surgiu a necessidade de averiguar quais eram os impactos da pandemia para esse público específico”, explicou o advogado.

Merigueti apontou também para o fato de se tratar de um público que, muitas vezes, acaba ficando escondido atrásdas demandas que os adultos levam até o Centro de Referência: “Eles também têm questões, necessidades e habilidades próprias que, por serem significativamente diferentes daquelas dos adultos, precisam de uma atenção particularizada. Crianças e adolescentes devem ser reconhecidos em sua individualidade como sujeito de direitos e ter canais para expressar suas preocupações e necessidades”.

A partir dos dados presentes no relatório, concluído em outubro, o próximo passo é sistematizar as ações de acompanhamento mais imediatas, tais como atendimento a casos mais urgentes, com necessidades específicas ou encaminhamentos apropriados e reivindicações para serviços públicos. “A médio e longo prazos, é preciso um trabalho multidisciplinar da equipe no planejamento de ações estratégicas para mitigar os riscos apontados e implementar outras soluções”, disse Merigueti.

Mudanças

O relatório mostra que 90% das famílias não fizeram isolamento social durante a pandemia e até junho não foram afetadas pela COVID-19. Ao ser perguntado sobre possíveis mudanças deste dado com o passar do tempo, Merigueti afirmou que é difícil afirmar com segurança.

“A impossibilidade de cumprir o isolamento social, tendo em vista a necessidade de trabalhar e outros motivos apontados no diagnóstico, torna as famílias refugiadas ainda mais expostas ao vírus. Além disso, com o prolongamento da pandemia nos meses seguintes, a situação financeira das famílias talvez se agravou, o que pode ter aumentado os motivos, a frequência e até o número de membros do núcleo familiar que precisou circular pela cidade”, afirmou o advogado.

O relatório permite construir um canal em que crianças e adolescentes possam ser incluídos nas avaliações participativas, demodo a dar mais visibilidade a suas demandas.

“Outro aspecto que merece atenção é a vulnerabilidade econômico-financeira das famílias, que se agravou durante a pandemia e impactou diretamente a impossibilidade de cumprimento do isolamento social. Isso acabou expondo as crianças a riscos de contaminação pelo coronavírus, assim como a riscos de acidentes domésticos, nas hipóteses em que elas tinham que ficar sozinhas em casa”, continuou.

Merigueti salientou também a atenção às dificuldades enfrentadas para acessoao aprendizado de modo remoto, já que a maioria das famílias dispunha de um único celular, compartilhado entre todos os membros, e não possuía computador próprio.

“Acreditamos que só assim, ouvindo diretamente as pessoas a quem servimos, permitindo que elas próprias expressem, sob suas perspectivas, a respeito dos riscos, lacunas e até mesmo suas próprias capacidades e soluções, é que as ações adotadas terão legitimidade e efetividade”, concluiu o advogado.

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