‘Salvemos as duas vidas’ por meio da oração, ação e convites à reflexão

O SÃO PAULO apresenta as iniciativas pró-vida no Brasil, que incluem um amplo suporte a mulheres que desistem de abortar, e um caminho de restauração àquelas que já o fizeram

A prática do aborto provocado é historicamente condenada pela Igreja. Na exortação apostólica Evangelli gaudium (EG), por exemplo, o Papa Francisco ressalta que “a defesa da vida nascente está intimamente ligada à defesa de qualquer direito humano. Supõe a convicção de que um ser humano é sempre sagrado e inviolável, em qualquer situação e em cada etapa do seu desenvolvimento. É fim em si mesmo, e nunca um meio para resolver outras dificuldades” (EG 213).

No mesmo documento, porém, Francisco exorta toda a sociedade a “acompanhar adequadamente as mulheres que estão em situações muito duras, nas quais o aborto lhes aparece como uma solução rápida para as suas profundas angústias, particularmente quando a vida que cresce nelas surgiu como resultado de uma violência ou em um contexto de extrema pobreza” (EG 214).

São João Paulo II, na encíclica Evangelium vitae (EV), enaltece os trabalhos dos centros de ajuda à vida que “oferecem apoio moral e material às mães em dificuldade, tentadas a recorrer ao aborto” (EV 26) e lembra às mulheres que já abortaram que “o Pai de toda a misericórdia vos espera para vos oferecer o seu perdão e a sua paz no sacramento da Reconciliação. A este mesmo Pai e à sua misericórdia, podeis, com esperança, confiar o vosso menino. Ajudadas pelo conselho e pela solidariedade de pessoas amigas e competentes, podereis contar-vos, com o vosso doloroso testemunho, entre os mais eloquentes defensores do direito de todos à vida” (EV 99).

INICIATIVAS PRÓ-VIDA

Além de manter e colaborar com estas causas pró-vida, muitos católicos também estão empenhados em mobilizações e debates para a ampla conscientização dos malefícios do aborto tanto para o feto quanto para as gestantes.

Anualmente, por exemplo, acontece a campanha 40 Dias pela Vida, uma vigília global de oração e jejum próxima a locais onde se realizam abortos; e a Marcha pela Vida Brasil, que em São Paulo ocorrerá em 13 de outubro, com o propósito de conscientizar sobre o valor da vida desde a concepção até seu fim natural.

No sábado, 3, às 18h30, na Paróquia Santa Cândida (Avenida Dr. Ricardo Jafet, 769 – Ipiranga), haverá uma mesa-redonda sobre o Projeto de Lei 1.904, que propõe alterar o Código Penal Brasileiro a fim de equipar a pena para o aborto após as 22 semanas de gestação com a de homicídio, uma vez que nesta idade gestacional o bebê já tem condições de vida fora do útero. Entre os participantes do evento estarão o advogado Rafael Cannizza, Elaine Cristina Cancian, coordenadora da Marcha pela Vida em São Paulo, a médica Carla Dorgam Aguilera e Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo.

Em entrevista ao O SÃO PAULO durante a ExpoCatólica, em julho, Dom Tiago Stanislaw, Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, enfatizou que as iniciativas realizadas pelos grupos pró-vida buscam salvar tanto os nascituros quanto as gestantes: “O melhor é sempre dar oportunidade para que esta mulher se sinta acolhida, apoiada neste momento de uma gravidez inesperada ou fruto de uma violência sexual, para que leve a gestação adiante. Ainda que ela não queira ficar com a criança após o nascimento, poderá encaminhar o bebê para a adoção legal. E mesmo a Igreja Católica sendo decididamente contra o aborto, nós acolhemos, em diferentes iniciativas, as mulheres que já abortaram e que agora sofrem as consequências disso”.

Adoção Espiritual

Nascido na Polônia, Dom Tiago Stanislaw trouxe ao Brasil o projeto de Adoção Espiritual, pelo qual cada pessoa assume o propósito de rezar diariamente, durante nove meses, por um nascituro que esteja potencialmente em risco de ser abortado.

“Na adoção espiritual, durante nove meses, por meio da oração, uma pessoa exercerá a maternidade ou a paternidade espiritual desta criança que até já pode ter pais biológicos, mas ainda não tem um pai e uma mãe que a ame, que a acolha”, explicou o Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro.

Essa oração diária consiste na reza de uma dezena do Terço, que cada pessoa oferece na intenção de um filho espiritual, seguida de uma breve oração, pedindo a bênção de Deus para a criança, a gestante e sua família. “Depois dos nove meses, fazemos uma oração apresentando a Deus esta criança que acreditamos estar para nascer, a fim de que seja acolhida pela família própria ou a adotiva. E já no dia seguinte, a pessoa pode pedir a Deus seu próximo filho espiritual e rezar por ele nos próximos nove meses”, detalhou Dom Tiago.

O projeto de Adoção Espiritual está sendo organizado nacionalmente com representantes em todos os estados. Na capital paulista, uma das colaboradoras é Elaine Cancian. Ela ressalta que a oração na intenção da gestante, do nascituro e da família tem ajudado a salvar vidas e proporcionado um caminho de restauração para mulheres que já cometeram aborto: “Quando essa mulher adota espiritualmente um bebê, ela passa a sentir no coração que está no caminho de reparação deste trauma que ficou em sua vida”.

Para mais detalhes, acesse o site https://adocaoespiritualrio.org.br ou entre em contato pelo WhatsApp (21) 98592-0364.

Associação Amparo Maternal

Há 85 anos, a Associação Amparo Maternal dedica-se a acolher e apoiar gestantes e mães em situação de vulnerabilidade social e pobreza, bem como seus bebês, oferecendo uma série de serviços para que possam viver esta fase com dignidade e segurança.

“Nossas acolhidas têm acesso a moradia provisória por até dois anos, refeições diárias elaboradas por nutricionistas, vestuário, enxoval para os bebês, produtos de higiene e cama”, detalhou Lorenna Pirolo, diretora-presidente.

Há, ainda, atendimentos especializados com o objetivo de reinserção social das acolhidas, incluindo oficinas e cursos de capacitação profissional, suporte individualizado de assistentes sociais, psicólogas, orientadoras socioeducativas pedagogas e agentes operacionais que trabalham para restaurar e preservar a integridade física e emocional das mães.

“O Amparo Maternal visa não só a apoiar as mulheres durante a gestação e o puerpério, mas também a prepará-las para cuidar de seus filhos com dignidade”, contou Lorenna.

Casa Pró-Vida Mãe Imaculada

Anunciar o Evangelho da vida, especialmente no que se refere ao amparo à gestante e ao nascituro em perigo de abortamento é a missão central da Casa Pró-Vida Mãe Imaculada, que também atua para promover as virtudes e valores ligados à família e denunciar todas as tentativas da cultura da morte em favorecer o aborto.

De acordo com Jane Maria Andrade, cofundadora, a partir do momento em que a gestante abraça a vida que lhe foi confiada, a instituição a auxilia para consultas nas mais diversas especialidades. “Também temos psicólogas para seu atendimento individualizado, e dispomos de atendimento espiritual. Se houver necessidade de alojamento, por quaisquer motivos, contamos com instituições parceiras que acolhem estas mães”, detalhou.

As acolhidas também recebem um kit enxoval e outros itens, como berço, bebê conforto e carrinho de bebê, se necessário, e auxílios como cesta básica, leite, fraldas, ao menos durante os três primeiros meses de vida da criança, e, se preciso, ajuda para consultas e exames médicos. Também são oferecidos cursos profissionalizantes e de formação pessoal.

Ainda segundo Jane Maria, nos encontros mensais de entrega das doações ocorre um trabalho de evangelização com as mães e seus filhos. Ela ressaltou que as mulheres que disseram sim à vida, mas que optam por fazer a adoção legal do bebê, recebem as devidas orientações: “Acompanhamos o encaminhamento do caso na vara da infância e da juventude, prestando também suporte psicológico e espiritual a esta mãe, conforme a sua necessidade”.

Comunidade Unidos em Cristo – Projeto Raquel

Fundada há 20 anos por iniciativa do casal Eneida André Carmona e Luiz Carmona, a Comunidade Unidos em Cristo (CUC) tem como carisma a restauração do ser humano no contexto integrativo: corpo e alma espiritual, por meio do autoconhecimento.

Uma de suas ações é voltada à conscientização e orientação das mulheres que pensaram em realizar um aborto, a fim de que assumam a gestação e valorizem seus potenciais psicoemocionais. Além disso, caso necessário, elas também são ajudadas com doações de cestas básicas.

A CUC também está responsável pelo Projeto Raquel, voltado ao atendimento de mulheres que passaram pela experiência traumática do aborto e necessitam de apoio emocional e espiritual. É realizado pela Pastoral da Escuta, com pessoas devidamente treinadas, a fim de que cada mulher possa reconciliar-se consigo e com Deus, ressignificando o sentido da vida.

Associação Guadalupe

Auxiliar as gestantes em situação de vulnerabilidade, oferecendo suporte a elas e suas famílias é o foco da Associação Guadalupe, que também presta apoio a idosos que se voluntariam em sua sede, em São José dos Campos (SP).

Atenta em proteger e preservar a vida, a Associação oferece abrigamento institucional. “O projeto proporciona abrigo provisório, que garante proteção integral para mulheres em vulnerabilidade social e emocional, estendendo-o para gestantes no período pós-parto e incluindo, consequentemente, seus filhos, podendo ser prorrogado com avaliação social e psicológica”, detalhou Mariângela Consoli de Oliveira, fundadora e presidente.

Também realiza atividades visando à profissionalização das acolhidas e o estímulo ao empreendedorismo. Há, ainda, oficinas de fortalecimento de vínculos, assessoria médica, psicológica, odontológica, jurídica, apoio psicossocial, cursos profissionalizantes, distribuição de cestas básicas, de enxovais, móveis e itens de higiene, além de oficinas culturais para as crianças.

Associação Provida Oásis da Imaculada

A missão da Associação Provida Oásis da Imaculada – Centro de Defesa do Nascituro é amparar mulheres grávidas e puérperas em vulnerabilidade e risco social, bem como seus filhos de até 6 anos.

O apoio às mulheres que desistiram de abortar e dão continuidade à gravidez envolve múltiplas ações: intervenção terapêutica individual e em grupo, oficinas de geração de renda, palestras formativas – principalmente com foco na saúde materno-infantil – e motivacionais, espiritualidade, oficinas de beleza e culinária, momentos culturais, eventos comemorativos, concessão de benefícios e acompanhamento pós-parto.

“Posso afirmar que nenhuma mulher que acolhemos e amparamos se arrependeu de ter optado pela vida. Todas são felizes e realizadas com a escolha que fizeram. A mulher precisa de soluções que a ajudem a vencer o medo, a fome, o emocional, ou seja, vencer o abandono, o julgamento, o desprezo. Ela precisa de apoio. Ela precisa de médico, de exames, de alimentação, de amor, de cuidados”, enfatizou Simone Calegário, fundadora e presidente.