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Luciney Martins/O SÃO PAULO
Patrimônio religioso, artístico e cultural da cidade de São Paulo, a Basílica Menor de Nossa Senhora da Conceição, matriz da Paróquia de mesmo nome, no bairro de Santa Ifigênia, começa uma nova etapa de sua história. Após 85 anos sob a responsabilidade dos sacerdotes da Congregação do Santíssimo Sacramento (Sacramentinos), esta matriz paroquial volta novamente aos cuidados de um sacerdote do clero secular da Arquidiocese de São Paulo.
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No dia 28 de agosto, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, nomeou o Padre João Paulo Gelailete Rizek como Pároco da Paróquia e Reitor da Basílica popularmente conhecida como Santa Ifigênia. Sua posse canônica no ofício ocorrerá no domingo, 24, às 15h.
Aos 44 anos de idade, Padre João Paulo, que está prestes a completar dez anos de sacerdócio, foi transferido da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Vila Arapuá, na Região Ipiranga. “Acolho com grande alegria pela confiança a mim depositada pela Arquidiocese de São Paulo, de cuidar não somente deste povo, de um território paroquial bem extenso, mas também desta linda Basílica. Pretendo, com o tempo e com a ajuda de Deus e dos amigos, assim como dos comerciantes e moradores locais, que essa comunidade volte a ter o brilho que ela sempre teve”, afirmou o novo Pároco, em entrevista ao O SÃO PAULO.
PATRIMÔNIO
De fato, essa é uma das igrejas mais antigas da cidade, pois remonta ao século XVIII, quando duas irmandades de escravizados alforriados construíram a Capela de Santo Elesbão e Santa Ifigênia, dois santos negros. No início do século XIX, em 1809, Dom João VI, ainda príncipe regente, criou a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, tendo como primeira sede essa capela. A igreja colonial foi demolida no início do século XX para a construção de uma nova matriz, cujo projeto foi elaborado pelo arquiteto austríaco Johann Lorenz Madein. A construção da atual igreja começou em 1904, sendo inaugurada, ainda inacabada, em 1910. As obras terminaram por volta de 1914. O interior foi ricamente decorado com pinturas, vitrais, púlpitos e um órgão.
Entre 1930 e 1954, em razão da construção da Catedral da Sé, a “Igreja de Santa Ifigênia” foi pró-catedral da Arquidiocese. Em 1958, foi elevada à dignidade de basílica menor pelo Papa Pio XII. Foi tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp) em 1992.
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Com um rico acervo artístico, a Basílica possui obras dos renomados pintores Benedito Calixto (1853-1927), do pintor italiano e naturalizado brasileiro Carlos Oswald (1882 – 1971) e do também italiano Gino Catani (1879-1944). Sua arquitetura é neorromânica com detalhes neogóticos, inspiração em igrejas medievais do norte da Europa. Essa manifestação arquitetônica apresenta-se em outras igrejas de São Paulo como a Igreja da Consolação (que possui obras do pintor Oscar Pereira Silva) e a Catedral da Sé. Abaixo de cada uma das rosáceas da nave há uma pintura de autoria de Henri Bernard (1868-1941), uma representando a Sagrada Família e a outra as Bodas de Caná.
A nave tem dois púlpitos neogóticos, esculpidos em madeira, importados da França, em 1920. Um traz um relevo representando São Pedro e o outro, São Paulo. Em 1924, foi inaugurado o órgão, trazido da Alemanha.
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LOCALIZAÇÃO
A Basílica do Santíssimo Sacramento foi construída ao lado da Rua Santa Ifigênia, em uma época em que predominavam no bairro residências, fábricas, alfaiatarias, lojas de comércio de roupas e de artigos para formatura. Hotéis, pensões e cortiços eram atraídos para a região em virtude da existência das estações ferroviárias da São Paulo Railway e Sorocabana.
Na primeira década do século XX, começaram a ser construídas grandes avenidas no centro da cidade, com o projeto de implantação do viaduto Santa Ifigênia, ligando o “Triângulo histórico” ao bairro de Santa Ifigênia e o replanejamento do Vale do Anhangabaú.
Atualmente, o bairro é famoso pelas lojas de produtos eletrônicos e elétricos, como acessórios e materiais de informática e computadores, som e instrumentos musicais, além de máquinas fotográficas etc. A igreja está localizada entre três grandes estações do metrô (República, São Bento e Luz).
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FATOS HISTÓRICOS
As duas guerras mundiais, a epidemia de gripe espanhola e as grandes greves de 1917 são fatos históricos testemunhados pelos freis dessa igreja. Em 1924, houve a revolução tenentista na qual umas das batalhas ocorreu em frente ao templo, tanto que é possível ver as marcas de balas nas pedras da fachada. Passou, ainda, por revoluções como a 1932, entre outros acontecimentos políticos e sociais.
No âmbito religioso, a Basílica foi um dos locais de referência para as celebrações do Congresso Eucarístico de 1942, como catedral provisória da Arquidiocese, durante a construção da Catedral da Sé, sendo, inclusive, o local do funeral do segundo Arcebispo de São Paulo, Dom José Gaspar d’Afonseca e Silva, morto em 1943, vítima de um acidente aéreo.
EUCARISTIA
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Sua relação com a devoção eucarística vem desde 1938, quando os cuidados pastorais da Paróquia e da Basílica foram confiados aos religiosos Sacramentinos, que introduziram a adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento. Durante muitas décadas, a adoração eucarística acontecia ininterruptamente, inclusive durante a madrugada.
“Os comerciantes do interior, às vezes, não conseguiam tomar o trem da noite, na Estação da Luz. Então, eles passavam a noite rezando aqui para pegar o trem da manhã no dia seguinte” contou Padre João Paulo, informando, ainda, que os membros de movimentos como o dos Congregados Marianos faziam romarias para adorar o Santíssimo nas madrugadas. Também havia fiéis de diversas paróquias da cidade que se inscreviam para participar da escala de adoração noturna.
Com o passar dos anos, a degradação da região central e o aumento da insegurança, a adoração eucarística se restringiu ao período do expediente da igreja. Padre João Paulo, contudo, compartilhou a esperança de que um dia a adoração perpétua seja retomada na Basílica.
“Jesus Cristo é o centro da nossa fé, presente em corpo, sangue, alma e divindade na Sagrada Eucaristia. Essa é a fé dos católicos. Nossa Igreja não segue uma filosofia ou uma ideia. Nós seguimos uma pessoa, Jesus Cristo, que está realmente aqui e pode ser visitado e adorado durante todo o período em que a igreja estiver funcionando”, afirmou o Pároco, sublinhando que a Basílica é um lugar em que a dona de casa, o empresário ou o comerciante podem parar tudo o que estão fazendo, entrar e conversar com o próprio Deus presente na Sagrada Eucaristia, tanto que a porta principal do templo fica sempre aberta durante o dia, para que quem passe na rua consiga ver Jesus eucarístico e se sinta atraído para adorá-Lo.
“É minha obrigação, com a memória dos 85 anos que essa igreja teve de adoração eucarística, não interrompê-la, custe o que custar”, assegurou o Sacerdote.
PASTORAL
A Paróquia Nossa Senhora da Conceição e Santa Ifigênia enfrenta os mesmos desafios pastorais das demais paróquias do centro da cidade. “Este é um território paroquial em que moram 100 mil pessoas e, percebe-se que falta muito para haver um fluxo de fiéis à missa como deveria haver… Portanto, Santa Ifigênia não é apenas uma igreja da passagem, existe um povo”, enfatizou o Padre João Paulo, reforçando a necessidade de ir em busca desses fiéis.
Entre as pastorais e grupos atuantes na Paróquia, destacam-se a catequese para os sacramentos da iniciação cristã, os ministros extraordinários da Sagrada Comunhão e o movimento do Terço dos Homens. Também existem serviços como Alcoólicos Anônimos e Jogadores Anônimos, além da Pastoral da Moradia, uma vez que Santa Ifigênia é venerada como protetora da casa própria. Além disso, a Basílica acolhe atividades culturais como os ensaios semanais de uma orquestra sinfônica.
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No âmbito sacramental, Padre João Paulo já introduziu mais um horário de missa durante a semana, às 7h30. Além disso, há missas às 12h e 18h. Nos períodos entre as missas, o Santíssimo Sacramento fica exposto para adoração no altar principal. Aos sábados, há missas às 7h30 e às 17h. Já aos domingos, a Eucaristia é celebrada às 9h, 11h e 17h.
Quanto ao sacramento da Reconciliação (Confissão), o Padre atende todos os dias no período entre as missas das 7h30 e das 12h.
Além do empenho pastoral, o novo Pároco tem pela frente o desafio do restauro da histórica Basílica, que demandará constante diálogo com os órgãos de preservação do patrimônio, captação de recursos e comprometimento de toda a comunidade. No entanto, o Sacerdote reconhece que deve ser dado um passo de cada vez, consciente de que a prioridade é pastorear a porção do povo de Deus a ele confiada.
Padre João Paulo assume a Paróquia em meio às comemorações da padroeira, com a celebração da novena preparatória, e a missa solene na sexta-feira, 22, às 18h, seguida de procissão pelas ruas do bairro. Além disso, de quinta-feira, 21, ao domingo, 24, haverá a festa de rua, com comidas típicas e música ao vivo, a partir das 12h.