São Francisco e o admirável sinal do Presépio

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Em sua carta apostólica, Admi­rabile Signum, o Papa Francisco quis trazer às mentes dos cristãos o signi­ficado e o valor do Presépio. Trata-se do sinal admirável, muito amado do povo cristão, que anuncia com sim­plicidade o mistério da encarnação do Filho de Deus. O Presépio é algo como um Evangelho vivo, “que tras­vaza das páginas das Sagradas Es­crituras”. Contemplando-o, somos “atraídos pela humildade Daquele que se fez homem a fim de Se encontrar com todo homem, e a descobrir que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele”. De fato, desde os primórdios do movimento cristão, sabemos que de nada adianta Cristo ter nascido no tempo em Belém se não nascer nos corações humanos que o acolhem na fé e no amor.

Em 25 de dezembro de 1223, há 800 anos, São Francisco inventou em Greccio a representação do Presépio. Não foi por meio de figuras, mas de uma dramaturgia. Ele queria ver com os olhos do corpo os apertos do Me­nino e de sua mãe pobrezinha. Queria contemplar como o recém-nascido foi reclinado na palha de uma manjedou­ra, entre o boi e o burro. O Sacerdote celebrou a Eucaristia sobre a manje­doura, mostrando a relação entre o pobrezinho Menino do Estábulo e o pão eucarístico. O Filho de Deus, que, no excesso de seu amor, se esvazia, para se doar até a última gota de seu sangue, de Menino pobre se faz pão para a vida do mundo. Ele se oferece inteiramente. Pede apenas que o re­cebamos. Ele manifesta a ternura de Deus, na fragilidade da vida humana. “Ó, humildade sublime! Ó, sublime humildade!”, exclamara São Francisco na Carta a Toda a Ordem. Santa Cla­ra também será tomada de espanto e maravilhamento. Na quarta carta a Inês de Praga, dirá: “Ó, humildade ad­mirável, ó, pobreza estupenda! O Rei dos anjos, Senhor do Céu e da Terra, deitado num presépio!”.

À admiração dos santos e santas responde a dos e das artistas. Giotto pôs em pintura o que São Francisco representou em dramaturgia. Andrea della Robbia o fez em terracota vitrifi­cada. E a alma popular, nestes últimos 800 anos, não deixou de recriar de mil e mil modos o Presépio.

Em 1969, a franciscana Adélia Pra­do e o escritor Lázaro Barreto criaram o poema Lapinha de Jesus. O poema se inspira num presépio feito em cerâ­mica pelo Frei Tiago Kamps, em Divi­nópolis (MG). É um presépio que se constrói com imagens típicas da reali­dade do povo pobre de Minas. O texto foi reeditado recentemente pela Edi­tora Vozes. Capta, com simplicidade e humildade, e, ao mesmo tempo, com a inteligência e a sapiência do pensa­mento poético, o mistério acenado e encenado. Lendo esse poema e vendo as fotos, somos devolvidos à dimen­são do mistério, recobrando olhos de infância. É que só para os meninos é que “esta história será supreendente­mente natural”. Num cenário de po­breza e simplicidade, os vários per­sonagens vão anunciando o mistério que pressentem e sentem. Homens, mulheres, crianças, galinhas, cachor­ros, vacas, bois, burros e galos… Todos são tocados pela luz, pela paz, pela alegria. Nessa noite, aviões de caça vi­ram vaga-lumes. A revelação de Deus é um poema, que ressoa no silêncio da noite santa. Os simples e os humildes são os sabedores e os saboreadores da revelação do mistério. Um frêmi­to atravessa céu e terra. A mensagem dessa alegre notícia, que lança a pala­vra “amor” a todo o mundo, faz nascer um outro mundo em nós: ela brotou do Evangelho como de nosso próprio coração”.

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