A seminaristas da Arquidiocese, Cardeal Scherer ressalta a natureza missionária da Igreja

Estudantes do Seminário de Filosofia acompanham simpósio missionário (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

Pelo segundo ano consecutivo, o Seminário da Arquidiocese de São Paulo realizou um Simpósio Missionário entre os dias 5 e 7. A iniciativa, promovida pelas plataformas digitais, acontece no lugar da missão anual de férias dos seminaristas, que não pôde acontecer devido à pandemia de COVID-19.

A programação do simpósio conta com conferências, grupos de estudo e partilha de experiências missionárias. Os seminaristas acompanham as atividades a partir de cada uma das quatro casas de formação sacerdotal da Arquidiocese –Seminário  Propedêutico Nossa Senhora da Assunção, Seminário de Filosofia Santo Cura d’Ars, Seminário de Teologia Bom Pastor e Seminário Missionário Internacional Redemptoris Mater São Paulo Apóstolo.

Dimensão essencial da Igreja

Na abertura do evento, o Cardeal Odilo Pedro Scherer enfatizou que a dimensão missionária é parte essencial ao ministério dos padres, como ressalta as diretrizes da Santa Sé para a formação sacerdotal, intitulada Ratio fundamentalis, que sublinha a missionariedade no mesmo âmbito da pastoral. 

“O clero diocesano deve ser missionário, quer integrando essa dimensão cada vez mais na pastoral ordinária, quer ao alargar a sua preocupação missionária em relação a toda a Igreja, que, por sua própria natureza, é missionária”, afirmou o Arcebispo Metropolitano, citando um trecho das diretrizes da Santa Sé:

“Que os seminaristas sejam animados por um espírito autenticamente católico, amando sinceramente a própria diocese, estejam dispostos, caso lhes venha a ser pedido ou se eles mesmos desejarem, a se colocarem a serviço específico da Igreja universal ou de outras igrejas particulares [dioceses] com generosidade e dedicação”.

Retomando os dados do levantamento feito em 2018 durante o sínodo arquidiocesano, o Arcebispo enfatizou a grande lacuna missionária existente na cidade e a necessidade de ir ao encontro do povo católico disperso na metrópole. “É missão do Bom Pastor não apenas cuidar das ovelhas que estão perto, mas ir até aquelas que se perderam, além de chamar as que nunca ouviram a sua voz”, disse.

Origem missionária

Os seminaristas também refletiram sobre a origem missionária da Igreja em São Paulo. Esse tema foi aprofundado pelo Padre Ney de Souza, professor de História da Igreja na PUC-SP, que falou sobre as fontes da fé na capital paulista. Já o Padre Carlos Alberto Contieri, jesuíta, diretor do Pateo do Collegio, falou sobre o testemunho dos primeiros missionários da Companhia de Jesus em terras paulistanas.

Padre Ney salientou que não é possível realizar a missão evangelizadora sem conhecer o contexto histórico de determinado lugar. No caso de São Paulo, as próprias igrejas históricas conservam a herança missionária e o desenvolvimento do catolicismo na cidade, como a Catedral da Sé, o Mosteiro de São Bento, o Mosteiro da Luz, entre outras.

Padre Contieri destacou que “a Companhia de Jesus tem como missão principal a defesa, a propagação da fé e o aperfeiçoamento das pessoas, por meio de pregações públicas, lições e qualquer outro ministério da Palavra de Deus: exercícios espirituais, formação cristã das crianças… Confissão e administração dos outros sacramentos, buscando principalmente, a consolação espiritual dos fiéis”.

“Esse ímpeto missionário, movido pela ação do Espírito Santo, está na origem da nossa cidade e da Igreja no Brasil. Portanto, nós, que vivemos e servimos nesta Arquidiocese, não podemos perder isso”, acrescentou o Jesuíta.

Experiências missionárias

Dom Mário Antônio compartilha experiência missionária com seminaristas (foto: Luciney Martins/O SÃO PAULO)

O segundo dia de simpósio foi dedicado ao compartilhamento de experiências missionárias feitas por Dom Mário Antônio da Silva, Bispo de Roraima, que falou sobre a realidade pastoral na região amazônica.

Entre os desafios, o Bispo destacou as distâncias geográficas e o reduzido número de sacerdotes, a formação das lideranças leigas que animam as inúmeras comunidades, sem contar o contexto socioeconômico da região. Ao mesmo tempo, Dom Mário chamou a atenção para a fé viva das comunidades indígenas, onde é dado grande destaque para a catequese e a formação cristã, tendo, inclusive, um grande número de catequistas indígenas.

O Bispo destacou que para ser missionário não basta levar as malas, é preciso levar o coração, isto é, ter o sincero desejo de se inserir na realidade e na cultura da comunidade local para ajudá-la a descobrir a presença de Deus em seu meio. “Tenho dedicado um período para estar com os missionários no interior. Eles vivem sua missão de forma heroica no meio do povo”, afirmou.

Testemunho de mártires      

Dom Carlos Silva, OFMCap, Bispo Auxiliar de São Paulo, compartilhou sua experiência missionária como frade capuchinho no México, mais precisamente na Diocese de Monterrey, na fronteira com os Estados Unidos, de 2004 a 2013.

O Bispo ressaltou que a fé cristã no México foi especialmente fecundada pelo sangue de mártires no início do século XX, na chamada Guerra Cristera. Foi uma rebelião provocada pelos cristãos entre 1926 e 1929, causada pela lei que limitava e controlava o culto católico naquela nação. Houve, ainda, uma segunda onda da Cristiada entre 1936 e 1940. 

“A Constituição mexicana de 1917 estabeleceu uma política que negava a personalidade jurídica às igrejas, proibia a participação do clero na política, privava as igrejas do direito de possuir bens imóveis e impedia o culto público fora dos templos. Algumas estimativas apontam para o número máximo de mortos em 250 mil, entre civis, membros das forças cristeras e do exército mexicano”, relatou Dom Carlos, acrescentando que os artigos da Constituição mexicana só foram alterados em 1992.

“Durante a Guerra dos Cristeros, um número impressionante de pessoas perdeu a vida. No entanto, entre as mortes mais significativas temos a dos mártires, que foram cruelmente torturados antes de serem mortos. Entre os mártires da Guerra dos Cristeros, temos José Sánchez del Río, o filho cristero que tinha apenas 14 anos quando foi preso e morto durante o confronto”, contou o Bispo, lembrando que, em 16 de outubro de 2016, o jovem mártir foi canonizado pelo Papa Francisco.

Programação

A programação do Simpósio Missionário, na quarta-feira, 7, prevê o relato das experiências da Missão Belém no Haiti e da Comunidade Aliança de Misericórdia em Moçambique. Também há um momento dedicado à participação da Arquidiocese na Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe.

Assista às atividades do primeiro dia do Simpósio Missionário:

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