O segundo dia do Simpósio foi dedicado a abordar ações – tendo como fio condutor a Doutrina Social da Igreja – que se pode adotar para uma conversão ecológica, no sentido de salvaguardar a Casa Comum. Aqui, vê-se que as ações individuais são fundamentais, mas elas ganham força quando os indivíduos agem coletivamente.
Abrindo as palestras do segundo dia, o Padre José Antonio Calvo Gómez, doutor pela Universidade Católica de Ávila, na Espanha, tratou do tema “Fraternidade universal: os direitos humanos e os princípios da Doutrina Social da Igreja: Bem Comum, o da Subsidiariedade e da Solidariedade.
Segundo o Padre José Antonio, a subsidiariedade é o princípio pelo qual se garante uma determinada autonomia a uma instância subordinada, por meio da qual “a sociedade de ordem superior deve ajudar, apoiar, promover e respeitar as menores, não as suprimindo”, enquanto os corpos sociais intermediários “podem desenvolver as funções que lhes competem sem ter que cedê-las a outras agregações sociais de nível superior”.
Essa autonomia garante a promoção da dignidade da pessoa humana, mas essa garantia não acontece se “não se cuida da família, dos grupos sociais, das associações, das realidades territoriais locais, dos espaços culturais”. Nesse aspecto, a sociedade civil “é fundamental para o desenvolvimento dos povos”.
“O Estado deve intervir em situações excepcionais, mas sem prolongar a sua ação para além do necessário”, disse. “Às vezes, dizemos: ‘o Estado solucionará tudo’. Não. Nós, sociedade, temos a chave das soluções. Também o Estado, mas sobretudo nós. Uma das primeiras consequências do princípio da subsidiariedade é a participação, a intervenção das pessoas, individualmente ou associadas diretamente, por meio de suas representações na construção da vida cultural, econômica, política e social da comunidade”, complementou.
A palestra seguinte foi sobre “Relatos de experiências e ações”, com as participações de Alan Faria Andrade, doutor em Direito pela PUC-SP e que atua no Sefras – Ação Social Franciscana; Eduardo Nischespois Sorsatto, do Movimento Laudato si’; Henriana Lacerda, da Caritas Diocesana Paroquial de São Sebastião; e Padre Alessandro Henrique, Pároco da referida Paróquia.
Alan Andrade lembrou que, em 2019, o Papa Francisco lançou uma carta para transformar a economia atual, inspirado na Economia de Clara e São Francisco de Assis.
“Nessa carta, ele já reconhece que a economia atual mata, devasta o meio ambiente, não gera vida e desumaniza. É um pensamento econômico do Papa Francisco que já está revelado na Laudato si’ e, também, na exortação Evangelii gaudium. Ele nos propõe gerar uma nova economia, que nos humaniza e que gere vida, e que respeite o meio ambiente”, disse.
Por sua vez, Eduardo Nischespois contou a história do Movimento Laudato si’, surgido em 2015, um pouco antes da publicação da encíclica, com o nome Movimento Católico Global pelo Clima.
“O movimento surge por ocorrência da COP 21, na França. Havia uma mobilização da Igreja Católica para participar dessa conferência das pares da ONU [Organização das Nações Unidas] e havia um prenúncio de que o Papa publicaria um documento tratando da questão socioambiental”, disse.
Ele recordou que, em 2013, houve um supertufão nas Filipinas (Tufão Haiyan), que deixou mais de 10 mil mortos e cerca de 13 milhões de desabrigados, e que quando o Papa Francisco visitou o país, em 2015, houve a articulação desse grupo que esteve na Conferência do Clima da ONU.
Em 2021, o grupo passou a oficialmente a se chamar Movimento Laudato si’ e atuar nas agendas para a promoção de conexões de atores que lutam pela causa ambiental, como quando o Papa Francisco se encontrou com a ativista sueca Greta Thunberg, além realizar petições e promover encontros para debater questões ambientais. O grupo também agiu para viabilizar a realização do documentário “A Carta”, sobre a encíclica Laudato si’, disponível gratuitamente no YouTube.
Henriana Larcerda e Padre Alessandro abordaram a tragédia climática ocorrida em São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo, em fevereiro do ano passado, e a importância da Campanha de Solidariedade realizada pela Arquidiocese de São Paulo por meio da Caritas Arquidiocesana de São Paulo.
Finalizando a manhã, houve uma mesa de debates conduzida pelo Padre Rodrigo Vilela, Coordenador do curso de Filosofia do Centro Universitário Assunção, e pelo vice-reitor da instituição, Dr. Alessandro Fuentes Venturini.
AÇÕES PRÁTICAS
A parte da tarde foi dedicada à apresentação de ações práticas sob o tema “A integração se faz pelo diálogo, na liberdade, entre todos os envolvidos no cuidado com a Casa Comum”, com experiências trazidas pelo Instituto Lixo Zero, a Cooperativa Chico Mendes e a Pastoral da Ecologia Integral. As três organizações mantêm parceria com a CASP, por meio do Núcleo Regional Belém.
As biólogas Luciana Barão Acuña e Simone Bacic, embaixadoras do Instituto Lixo Zero, falaram sobre a iniciativa para a redução do lixo a ser descartado, com a separação de material para reciclagem, e dimunuição de rejeitos enviados aos aterros.
Dulce Alves de Andrade, presidente da Cooperativa Chico Mendes, lembrou que a iniciativa começou em uma garagem emprestada para iniciar o trabalho de separação.
“E aí? Só separar não vale, né? Graças a Deus e à Caritas, que é mãe da cooperativa também, recebemos um apoio financeiro. Com R$ 10 mil, compramos um Fusca, adaptamos uma carretinha, fizemos uma prensa, uma balança, uma instalação trifásica e começamos o trabalho com cinco pessoas.”
A coleta era realizada pelos aposentados que iam à missa e se prontificavam a dirigir o Fusca e fazer a coleta até essa garagem. No início, era somente às segundas-feiras. “Até que chegou uma hora que precisava da semana inteira para fazer a coleta”, disse, complementando que, com o apoio da Igreja, a cooperativa conseguiu ter uma sede maior na Região Belém e hoje assegura o sustento de 30 famílias.
Eder Francisco Silva, coordenador da Pastoral da Ecologia Integral, lembrou que ela está organizada no Regional Sul 1 da CNBB, mas antes já funcionava nas regiões episcopais da Arquidiocese de São Paulo, sempre com o propósito de levar a pauta da ecologia para todas as outras pastorais.
ECONOMIA ECOLÓGICA
A última palestra do simpósio foi proferida pelo professor Lucas Ferreira Lima, doutor em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da UNICAMP.
Ao falar sobre o tema “Economia Ecológica: a partir de um novo estilo de vida para a construção do Bem Comum”, ele destacou os impactos econômicos do aquecimento global e a responsabilização das nações a respeito das mudanças no clima.
“Primeiro a gente tem que pensar na escala de uso sustentável. Até onde podemos ir? Quanto da Amazônia pode ser desmatada sem que haja um processo de destruição? Não podemos atingir esse ponto’”, disse o economista.
A ONU, segundo ele, faz isso dentro dos objetivos do desenvolvimento sustentável, como quando estipula que o aumento da temperatura da Terra não pode ultrapassar 1,5ºC.
“Se nós temos que reduzir 100 toneladas de carbono, são 197 países signatários do Acordo de Paris. É justo dividir esse volume pelos 197 países? Não, porque você estaria punin- do o Suriname na mesma magnitude da China ou dos Estados Unidos”, disse, complementando que é por essa razão que os países mais emissores devem ter a responsabilização solidária em nome do desenvolvimento das nações mais pobres.
Por fim, houve uma mesa de debates com as participações de Carlos Camargo, Vice-diretor (tesouraria) da CASP, e Adriana Omena, coordenadora do Núcleo Regional Belém da Caritas.
Antes do encerramento, os participantes assistiram ao filme “A História das Coisas”. O encerramento foi conduzido pelo Diácono Márcio José Ribeiro, diretor da CASP, e Karen Ambra, reitora do Centro Universitário Assunção, com a presença do diretor-tesoureiro da CASP, Fábio Kubriniki.