No contraturno escolar da Paróquia São Vito Mártir, Projeto ‘Recriar’ transforma materiais recicláveis em diversão com futebol de tampinha, tabuleiro, derruba copos, jogo da velha; e ajuda nas habilidades cognitivas, motoras e sociais das crianças

Fotos: Luciney Martins/O SÃO PAULO
Na era digital, em que as redes sociais e os jogos on-line muitas vezes limitam a criatividade e o desenvolvimento das habilidades manuais das crianças, o contraturno escolar da Paróquia São Vito Mártir, no Brás, Decanato São Paulo da Região Sé, encontrou uma forma de transformar o aprendizado em diversão.
Em sua primeira edição, o projeto Recriar proporcionou que os alunos fizessem seus próprios brinquedos a partir de materiais recicláveis, estimulando, assim, a imaginação, a autonomia e a paciência.
“Usamos papelão, garrafa plástica, palito, tampinha… Coisas que iriam para o lixo, nós transformamos em brinquedos”, disse Henzo Bernardo Medeiros de Azevedo, 10, um dos alunos do projeto.

HABILIDADES E APRENDIZADO
“O projeto Recriar surgiu com o objetivo de estimular habilidades que envolvam a criatividade, flexibilidade cognitiva, controle inibitório, raciocínio lógico, habilidades motoras, além de promover habilidades sociais, uma vez que as crianças precisam trabalhar em equipe, ajudando-se”, explicou ao O SÃO PAULO Paola Dimitri Crepaldi, coordenadora pedagógica.
“Antigamente, as crianças tinham menos acesso à internet e consumiam conteúdos que exigiam atenção, como filmes e livros. Hoje, vídeos rápidos diminuem a capacidade de concentração e absorção do aprendizado”, explicou.

MÃOS À OBRA
Para a produção dos brinquedos, as crianças reuniram materiais recicláveis e depois “soltaram a imaginação”.
“Fiz um foguete. Usei uma garrafa, um canudo, papel colorido e outras coisas. Tive que me concentrar, porque alguma coisa poderia dar errado. Se desse errado, teria que recomeçar, então, escolhi me concentrar para dar certo”, contou Ketelly Lorhanny de Santos, 10.
“Eles ficaram muito orgulhosos de mostrar suas criações aos amigos e à família. Aprenderam que é possível se divertir com pouco recurso, usando e criando suas próprias brincadeiras”, detalhou Paola.
O projeto também teve impacto social. “Muitas crianças têm dificuldade de interação pessoal. Hoje, têm amigos digitais, mas não sabem dividir brinquedos ou solucionar conflitos. O Recriar promoveu a generosidade e a amizade: os alunos queriam que os amigos brincassem com os brinquedos que criaram”, acrescentou Marcella Domingues, professora de linguagem.

Izack Oliveira dos Santos, 9, falou sobre o aprendizado e a conexão familiar. “Algumas crianças nem brinquedo têm e a gente consegue fazer coisas com materiais que iriam para o lixo. Esse brinquedo me ajudou a ter mais paciência e concentração. Descobri que meu pai também fazia seus próprios brinquedos. Fiz um carrinho de garrafa e até um barquinho de papel que funcionou direitinho”, disse, orgulhoso.
Rafaela Cardoso Lopes, 10, fez um jogo da memória: “Foi uma experiência interessante. Reciclar é também cuidar do planeta, me trouxe alegria ver que somos capazes de criar”.
Brenno da Silva Lima, 11, revelou que pela primeira vez fez um brinquedo, com o uso de recicláveis: “Foi demais e, ao mesmo tempo, desafiador. Gostei do resultado! Eu e todas as crianças precisamos exercitar a concentração”.

INTERAÇÃO SOCIAL
Além de estimular a criatividade e a sociabilidade, a atividade desenvolveu habilidades cognitivas e motoras. “Para criar um campo de futebol com bolinhas e elásticos, por exemplo, eles precisavam medir distâncias, calcular proporções e aplicar raciocínio lógico-matemático. Foi um aprendizado prático e divertido ao mesmo tempo”, explicou a coordenadora.
“As crianças saíram felizes, com autoestima elevada e mais conscientes da própria capacidade de criar e reciclar. Percebemos que elas ainda têm potencial para imaginar e desenvolver coisas incríveis, mas que precisam ser estimuladas, pois a vida moderna, o cansaço das famílias e a tecnologia muitas vezes limitam essa expressão”, disse Tássia Rejane Lopes, professora de linguagem.
O objetivo agora é fazer com que essa iniciativa seja replicada nas casas das crianças, incentivando os pais a disponibilizarem materiais recicláveis para que meninos e meninas continuem a criar e aprender de forma ativa e lúdica, uma vez que tais habilidades ajudarão para que desenvolvam outras “necessárias para seu crescimento e desenvolvimento integral, como as habilidades sociais e acadêmicas: uma vez que criatividade, funções executivas, habilidades motoras e raciocínio lógico impactam de forma direta e positivamente a aprendizagem”, detalhou Paola.

60 CRIANÇAS BENEFICIADAS NO CONTRATURNO
Atualmente, o contraturno escolar atende 60 crianças, de 7 a 11 anos, com o apoio de 15 colaboradores, entre professores, voluntários e equipe de apoio. Os alunos recebem reforço escolar em linguagem, matemática, ciências e artes, além de participarem de encontros de Catequese.
A Paróquia São Vito Mártir tem como Vigário Paroquial o Padre José Ferreira Filho e como Administrador Paroquial o Padre Michelino Roberto, que também é Pároco da Paróquia Nossa Senhora do Brasil, no Decanato São Tomé da Região Sé, na qual foi criado o projeto Cor Unum que apoia o contraturno, assim como também faz o Instituto Virtus e empresários que apadrinham os alunos.
Além das atividades acadêmicas, os alunos têm acesso a biblioteca, livros, jogos educativos, teatro, caratê e atividades de psicomotricidade. O ambiente busca promover aprendizado, desenvolvimento social e integração entre os participantes.
Veja mais detalhes sobre o Cor Unum no Instagram (@corunum_nsb).