A paróquia sempre a serviço da missão evangelizadora da Igreja

O SÃO PAULO apresenta uma síntese sobre a mais recente instrução da Congregação para o Clero sobre a dinâmica das comunidades paroquiais

“A conversão pastoral da comunidade paroquial a serviço da missão evangelizadora da Igreja” é a mais recente instrução da Congregação para o Clero, promulgada em 29 de junho, e divulgada pelo Vaticano no dia 20 deste mês.

O documento aponta para a necessidade de uma conversão pastoral e evangelizadora das paróquias, em sentido missionário, e apresenta as possibilidades, limites, direitos e deveres dos pastores e leigos, a fim de que cada comunidade paroquial seja um espaço fundamental de anúncio do Evangelho, da celebração da Eucaristia e da prática da caridade.

A seguir, o jornal O SÃO PAULO sintetiza os principais trechos da instrução.

Conversão pastoral

Para continuar o percurso da Palavra, as comunidades devem fazer uma decisiva escolha missionária

A conversão pastoral é apresentada como um dos temas centrais da nova etapa da evangelização que a Igreja é chamada a promover “para que as comunidades cristãs se tornem cada vez mais centros propulsores do encontro com Cristo” (3). Para tal, a Igreja deve ser capaz de se comunicar com as diversas formas de cultura, a fim de que seja enriquecida nesse contato com a evolução da vida social e permita que os homens se encontrem com a Palavra de Deus.

Conforme o ponto 5 da instrução, “para continuar o percurso da Palavra, é necessário que nas comunidades cristãs se atue com uma decisiva escolha missionária, ‘capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo atual que à autopreservação’ [Evangelii gaudium, 27]”.

Configuração territorial

A desejada conversão missionária demanda uma reforma das estruturas, incluindo um ampliado entendimento sobre a configuração territorial da paróquia, pois hoje esta “é convidada a confrontar-se com uma característica peculiar do mundo contemporâneo, no qual a crescente mobilidade e a cultura digital dilataram os confins da existência. De fato, de um lado, a vida das pessoas identifica-se sempre menos com um contexto definitivo e imutável, mas desenvolve-se ‘num território global e plural’; de outro lado, a cultura digital modificou de maneira irreversível a compreensão do espaço, e a linguagem e os comportamentos das pessoas, especialmente das gerações jovens” (8).

Comunidade evangelizadora

A instrução sinaliza a necessidade de um renovado dinamismo na paróquia, para que se redescubra “a vocação de cada batizado a ser discípulo de Jesus e missionário do Evangelho” (11) e se repense o ministério e a missão dos sacerdotes, para que junto dos leigos, mostrem “o rosto de uma comunidade evangelizadora, capaz de uma adequada leitura dos sinais dos tempos, que gere um coerente testemunho de vida evangélica” (13), acompanhando os processos do território onde está inserida.

A missão como critério para a renovação

No contexto do território paroquial pensado para além de um espaço geográfico delimitado, “parece, então, superada uma pastoral que mantém o campo de ação exclusivamente no interior dos limites territoriais da paróquia, quando muitas vezes são os próprios paroquianos a não compreender mais esta modalidade” (16), e se ressalta que “a inserção eclesial hoje prescinde sempre mais dos lugares de nascimento e de crescimento dos membros e está mais orientada a uma comunidade de adoção [cf. Christifideles laici, 25], na qual os fiéis fazem uma experiência mais ampla do Povo de Deus” (18).

No momento atual, em que há marginalizações e solidão, a comunidade paroquial deve ser sinal vivo da proximidade de Cristo em uma rede de relações fraternas (cf. 19) e a conversão pastoral, em uma perspectiva missionária, precisa ter em conta que “o anúncio da Palavra de Deus deve tocar a vida sacramental e o testemunho da caridade” (20).

Ainda como parte de sua missão, a paróquia deve, por meio de novas formas comunicativas, educar para a leitura e a meditação da Palavra de Deus, se consolidar pela celebração do ministério eucarístico, se redescobrir nos processos de iniciação cristã e favorecer a proximidade entre as pessoas.

‘Comunidade de comunidades’: inclusiva, evangelizadora e atenta aos pobres

Todos na paróquia são chamados a manifestar especial compaixão pelos pobres e excluídos (créditos das fotos: Luciney Martins)

O documento destaca que os diversos componentes da paróquia são chamados à comunhão e à unidade: “Na medida em que cada um implementa a própria complementaridade, pondo-a a serviço da comunidade, então, de um lado se pode ver plenamente realizado o ministério do pároco e dos presbíteros que colaboram como pastores, de outro lado emerge a peculiaridade dos vários carismas dos diáconos, dos consagrados e dos leigos, para que cada um faça o seu melhor para a construção do único corpo (cf. 1Cor 12,12)” (28).

A paróquia também“é uma comunidade convocada pelo Espírito Santo para anunciar a Palavra de Deus e fazer renascer novos filhos à fonte batismal; reunida por seu pastor, celebra o memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor e testemunha a fé na caridade, vivendo em permanente estado de missão, para que a ninguém falte a mensagem salvífica, que doa a vida” (29); e tal como um santuário aberto, é chamada a acolher a todos, preferencialmente os pobres e excluídos: Os sacerdotes, os diáconos e os consagrados deverão, em particular, manifestar compaixão para com a ‘carne ferida’ [cf. Papa Francisco, Meditação cotidiana em Santa Marta – 30/10/2017] dos irmãos, visitá-los na sua doença, sustentar pessoas e famílias sem trabalho, abrir a porta a quantos estão na necessidade(33).

Conversão das estruturas

Em seu processo de renovação e reestruturação, a paróquia deve evitar uma excessiva organização burocrática que tenda mais à autopreservação do que à evangelização, pois a necessária mudança deve ser missionária e pastoral (cf. 34 e 35).

A orientação é que as mudanças ocorram de modo gradual, em conformidade com a vida real de cada comunidade e das pessoas que habitam o território (cf. 36) e sejam feitas com todos os que integram a vida paroquial. “Tal renovação, naturalmente, não diz respeito unicamente ao pároco, nem pode ser imposição vinda do alto, excluindo o Povo de Deus” (37). Além disso, “a missão que a paróquia é chamada a cumprir, como centro propulsor da evangelização, diz respeito então a todo o Povo de Deus nos seus diversos componentes: presbíteros, diáconos, consagrados e fiéis leigos, cada um segundo o próprio carisma e segundo as responsabilidades que lhes correspondem” (41).

O papel de cada um no cuidado pastoral da paróquia

Padres, diáconos, consagrados e leigos têm atribuições específicas na missão evangelizadora (imagem anterior à pandemia de COVID-19)

Os párocos e outros presbíteros, em comunhão com o bispo, “são uma referência fundamental para a comunidade paroquial, pelo compromisso de pastores que corresponde a eles” (62) e “o pároco e o presbitério, cultivando a vida comum e a fraternidade sacerdotal, celebram a vida sacramental para a comunidade e, juntos com essa, são chamados a organizar a paróquia de tal modo a ser sinal eficaz de comunhão [cf. Lumen gentium, 28]” (82).

Ao pároco, necessariamente um presbítero ordenado (cf. 66), compete a representação jurídica da paróquia e a administração dos bens paroquiais (cf. 67).

Os diáconos “são colaboradores do bispo e dos presbíteros na única missão evangelizadora com o compromisso específico, em virtude do sacramento recebido, de servir o Povo de Deus na diaconia da liturgia, da palavra e da caridade” (79).

As pessoas consagradas colaboraram com a paróquia primeiramente com o seu testemunho de seguimento a Cristo e, posteriormente, com as atividades realizadas em conformidade ao carisma de cada instituto (cf. 84).

Também os fiéis leigos participam da ação evangelizadora da Igreja, uma vez que sua vocação e a missão própria “‘é a transformação das diversas realidades terrenas para que toda a atividade humana seja transformada pelo Evangelho’ [Evangelii gaudium, 201]” (85) e se espera que o façam “antes de mais nada, com o testemunho em geral de uma vida cotidiana em conformidade ao Evangelho nos habituais ambientes de vida e em cada nível de responsabilidade, depois em particular, com o assumir de seus compromissos correspondentes ao serviço da comunidade paroquial [cf. Evangelii gaudium, 81]” (86).

Cargos e ministérios paroquiais

Na instrução, é recordado que existem cargos estáveis nos quais os fiéis leigos acolhem responsabilidades no interior da comunidade paroquial. “Pode-se pensar, por exemplo, nos catequistas, nos ministrantes, nos educadores que trabalham em grupos e associações, nos operários da caridade e aqueles que se dedicam aos diversos tipos de consultório ou centro de escuta e aqueles que visitam os doentes” (94), mas se ressalta que nessas situações, bem como nas designações de funções para diáconos e consagrados, é preciso “manter clara a diferença essencial que decorre entre o sacerdócio comum e o sacerdócio ministerial e de tal modo que seja evidente a identidade da missão recebida por cada um” (95).

Corresponsabilidade eclesial

A instrução indica que o pároco não deve estar sozinho no que se refere aos assuntos econômicos da paróquia, devendo ser assistido por colaboradores “para administrar os bens da Igreja antes de tudo com zelo evangelizador e espírito missionário” (101).Assim, em cada paróquia, deve ser constituído o Conselho para os Assuntos Econômicos, “órgão consultivo, presidido pelo pároco e formado por pelo menos outros três fiéis” (102).

O Conselho para os Assuntos Econômicos “pode desenvolver um papel de particular importância no crescimento, no interior das comunidades paroquiais, da cultura da corresponsabilidade, da transparência administrativa e do socorro às necessidades da Igreja” (106).

Em relação ao Conselho Pastoral Paroquial, o documento assinala que, longe de ser um simples órgão burocrático, este “coloca em destaque e realiza a centralidade do Povo de Deus como sujeito e protagonista ativo da missão evangelizadora” (110). Ele deve ser representativo de toda a comunidade paroquial, sendo formado por presbíteros, diáconos, consagrados e leigos. E sua função principal é a de “pesquisar e estudar propostas práticas em ordem às iniciativas pastorais e caritativas que dizem respeito à paróquia, em sintonia com o caminho da diocese”(112). Ressalta-se o seu caráter consultivo, de modo que as propostas feitas só serão operacionalizadas se forem acolhidas pelo pároco.

Ofertas para a celebração dos sacramentos

No que se refere às ofertas dadas durante a Santa Missa e em razão da administração dos sacramentos, “trata-se de uma oferta que, por sua natureza, deve ser um ato livre da parte do ofertante, deixando à sua consciência e ao seu senso de responsabilidade eclesial, não um ‘preço a pagar’ ou uma taxa a exigir’, como se fosse um tipo de ‘imposto sobre sacramentos’” (118). No entanto, é importante que haja um processo de sensibilização dos fiéis “para que contribuam livremente às necessidades da paróquia, que são ‘coisa sua’ e da qual é bom que aprendam espontaneamente a ter cuidado”(119).

“A mencionada sensibilização poderá proceder tanto mais eficazmente quanto mais os presbíteros do seu lado oferecem exemplos ‘virtuosos’ no bom uso do dinheiro, com um estilo de vida sóbrio e sem excessos em nível pessoal, que com uma gestão dos bens paroquiais transparente e comensurada não sobre ‘projetos’ do pároco ou de um grupo restrito de pessoas, talvez bons, mas abstratos, mas sim, sobre reais necessidades dos fiéis, sobretudo os mais pobres e necessitados” (120).

Observações finais

Por fim, reafirma-se que a instrução “pretende focalizar o tema da renovação da paróquia no sentido missionário. Enquanto essa permanece uma instituição imprescindível para o encontro e a relação viva com Cristo e com os irmãos na fé, é mesmo verdadeiro que deve constantemente confrontar-se com as mudanças em curso na cultura hodierna e na existência das pessoas, para assim poder explorar com criatividade estradas e instrumentos novos, que as consintam estar à altura do seu compromisso primário, isto é, ser o centro propulsor da evangelização” (122).

Sob essa perspectiva, deve-se buscar um agir pastoral que, por meio “de uma efetiva e vital colaboração entre presbíteros, diáconos, consagrados e leigos e entre diversas comunidades paroquiais de uma mesma área ou região, preocupa-se em individuar as questões, as dificuldades e os desafios concernentes à evangelização, procurando integrar caminhos, instrumentos, propostas e meios idôneos para afrontá-los” (123).

O documento é concluído com uma referência da mensagem do Papa Francisco para a Jornada Mundial Missionária de 2017, na qual o Pontífice, ao invocar Maria, a Mãe da Evangelização, pede a ela que “nos ajude a dizer o nosso ‘sim’ na urgência de fazer ressoar a Boa-Notícia de Jesus no nosso tempo; nos conceda um novo ardor de ressuscitados para levar a todos o Evangelho da vida que vence a morte; interceda por nós a fim de que possamos adquirir a santa audácia de procurar novas estradas para que alcance a todos o dom da salvação” (124).

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