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‘A regra suprema da Igreja é o amor: todos somos chamados a servir’

Vatican Media

Conforme se aproxima a conclusão do Ano Jubilar, prevista para 6 de janeiro de 2026, intensificam-se as peregrinações de grupos de representantes de todo o mundo a Roma. Uma das mais esperadas era o Jubileu das Equipes Sinodais e Órgãos de Participação, que ocorreu entre os dias 24 e 26. 

Isso porque a sinodalidade – já proposta no Concílio Vaticano II e relançada no pontificado do Papa Francisco – parece ganhar nova energia no pontificado do Papa Leão XIV. 

“Ser Igreja sinodal significa reconhecer que a verdade não se possui, mas busca-se juntos, deixando-se guiar por um coração inquieto e apaixonado pelo amor”, afirmou Leão XIV, na homilia do domingo, 26, com os líderes de iniciativas sinodais reunidos no Vaticano. As diferentes formas de sinodalidade “expressam o que acontece na Igreja, na qual as relações não respondem à lógica do poder, mas à do amor”, disse ele. 

“A regra suprema na Igreja é o amor: ninguém é chamado a comandar, todos são chamados a servir”, acrescentou.

CAMINHAR JUNTOS 

“Ninguém deve impor suas ideias, todos devemos ouvir uns aos outros; ninguém é excluído, todos somos chamados a participar; ninguém possui toda a verdade, todos devemos buscá-la humildemente e buscá-la juntos”, continuou o Santo Padre. 

Ser sinodais quer dizer “caminhar juntos” e “essa é a vocação da Igreja” – disse, ainda, citando Francisco. “Os cristãos são chamados a caminhar juntos, nunca como viajantes solitários. O Espírito Santo nos impele a sair de nós mesmos para ir ao encontro de Deus e dos irmãos, e a nunca nos fecharmos em nós mesmos.” 

Devemos lutar contra a tendência mundana em que “o ‘eu’ prevalece sobre o ‘nós’”, exortou o Pontífice. Devemos fugir da “pretensão de sermos melhores do que os outros” – conforme ensina o Evangelho do domingo (cf. Lc 18,9-14), em que Jesus conta a parábola do fariseu e do publicano. Nela, o primeiro se apresenta diante de Deus como se fosse puro e melhor do que os outros, enquanto o publicano, um cobrador de impostos, define-se como um pecador. 

HUMILDADE E SERVIÇO 

Devemos evitar “personalismos que impedem relações autênticas e fraternas” e deixar-nos “fecundar pelo Espírito”, gerador de harmonia e unidade na Igreja, disse o Papa. A Igreja sinodal é “humilde”, refletiu. “Uma Igreja que não se mantém ereta como o fariseu, triunfante e cheia de si mesma, mas se abaixa para lavar os pés da humanidade.” 

Em analogia à parábola, Leão XIV acrescentou que devemos ser “uma Igreja que não julga como o fariseu faz com o publicano, mas se torna um lugar acolhedor para todos e para cada um”. 

Trata-se de uma Igreja “que não se fecha em si mesma, mas permanece à escuta de Deus para poder, da mesma forma, ouvir a todos. Comprometamo-nos a construir uma Igreja totalmente sinodal, totalmente ministerial, totalmente atraída por Cristo e, portanto, voltada para o serviço ao mundo”, disse. 

A VISÃO DE LEÃO XIV SOBRE A SINODALIDADE 

Na sexta-feira, 24, o Papa teve uma audiência privada com as equipes sinodais e respondeu, de improviso, a perguntas de uma pessoa de cada continente. Em sua fala, o Pontífice deu sinais sobre sua visão para a sinodalidade nos tempos atuais. 

“Ser missionários: o processo sinodal, como nos lembrou o Papa Francisco em várias ocasiões, é ajudar a Igreja a cumprir seu papel principal no mundo, que é ser missionária, anunciar o Evangelho, dar testemunho da pessoa de Jesus Cristo em todas as partes do mundo, até os ‘confins da terra’ – nas palavras do Evangelho –, pregando, compartilhando e vivendo o que Jesus nos ensinou”, declarou. 

“A sinodalidade não é uma campanha. É uma forma de ser. Uma forma de ser Igreja”, resumiu o Pontífice. “É uma forma de promover uma atitude que começa com a escuta mútua. O dom da escuta é algo que todos reconhecemos que muitas vezes se perdeu em certos setores da Igreja, é algo de que precisamos continuar a descobrir em termos do seu valor.” 

Esse dom se desenvolve “começando por ouvir a Palavra de Deus, ouvir uns aos outros, ouvir o testemunho que encontramos em homens e mulheres, membros da Igreja, e naqueles que estão em busca, que talvez nunca venham a ser membros da Igreja, mas que estão à procura da Verdade”. 

A sinodalidade tampouco é uma fórmula mágica, sinalizou o Papa: “Não estamos buscando um modelo uniforme. Na sinodalidade, não vamos apresentar um modelo em que todos, em todos os países, dirão: ‘É assim que se faz.’ Trata-se, antes, de uma conversão ao espírito de ser Igreja, ser missionário e construir, nesse sentido, a família de Deus”. 

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