Com o objetivo de esclarecer em detalhes quais são as características fundamentais de uma Igreja sinodal, os trabalhos da 16ª Assembleia Geral do Sìnodo dos Bispos começaram no dia 4, refletindo sobre a experiência vivida ao longo dos últimos dois anos. Como descreve o Instrumentum laboris (Instrumento de trabalho), documento que dá o passo a passo do encontro, tratou-se de se considerar “a experiência do povo de Deus em seu conjunto e sua complexidade”.
Essa foi a primeira de três etapas da atual assembleia sinodal, que terminará em 29 de outubro. De acordo com os documentos que vêm sendo divulgados pelo Vaticano, entre os temas discutidos neste primeiro segmento estiveram as diferentes formas de “caminhar juntos” e a importância da celebração litúrgica, em particular a Eucaristia, na preservação da unidade, como “alimento e inspiração da Igreja sinodal”. Em outras palavras, falou-se sobre como fazer crescer uma “Igreja sinodal e missionária”.
Referindo-se aos anos que precederam a atual assembleia, o Cardeal Mario Grech, Secretário-geral do Sínodo, comentou que é grande a esperança de renovação por meio da sinodalidade. “Nestes dois anos, encontrei pastores e comunidades eclesiais que, no início, estavam desconfiados [do processo sinodal], mas depois de terem feito esta experiência e de terem encontrado a presença de Jesus entre irmãos e irmãs que se amam (cf. Mt 18,20), hoje louvam o Senhor por este dom da sinodalidade”, declarou, no início da primeira sessão.
Também explicou o sentido de se ter um grande número de participantes que não são bispos. “Aqui aparece também a unidade do Povo de Deus com os seus pastores. De fato, pela primeira vez, há irmãs e irmãos que não estão investidos do munus episcopal: leigos e leigas, religiosos e religiosas, diáconos e sacerdotes que já não são ‘exceções à norma’, mas membros de pleno direito da assembleia”, disse.
MÉTODOS NOVOS
O método de funcionamento desta assembleia é um pouco diferente dos sínodos realizados nos últimos 50 anos. Cada um dos segmentos da reunião começa com uma apresentação prática do relator-geral, o Cardeal Jean-Claude Hollerich, de Luxemburgo, seguida por uma contextualização com textos bíblicos e uma reflexão teológica e espiritual. Posteriormente, as pessoas se dividem para o trabalho em pequenos grupos, nos quais respondem a perguntas previstas no Instrumentum.
Na assembleia plenária, quando estão todos juntos, alguns dos membros podem apresentar suas reflexões pessoais livremente. Por fim, há um novo período de trabalho nos grupos, que preparam relatórios finais – de duas páginas – sobre aquela sessão específica. Os diálogos nos grupos de trabalho são realizados utilizando o método das “conversas espirituais”, bastante conhecido entre pessoas que seguem a espiritualidade de Santo Inácio de Loyola.
Em um primeiro turno de conversas, cada um fala por quatro minutos sem que seja interrompido pelos outros. Após um breve período de silêncio, os participantes fazem um segundo giro de intervenções, nas quais devem reagir ao que ouviram dos outros – de novo, sem serem interrompidos. Após um novo momento de silêncio, eles são chamados a conversar abertamente, mas tentando apontar os pontos em comum sobre o que foi dito. Por fim, fazem uma oração de agradecimento.
Além de seguir um manual com várias etapas – algo que já existia, de certa forma, em sínodos anteriores – dessa vez os participantes nem sempre discutem os mesmos assuntos ao mesmo tempo. Na segunda etapa da assembleia, há uma divisão de partes do Instrumentum entre os grupos, que trabalharão, cada um, so- bre uma ficha específica.
ESPAÇO NOVO
Outra das principais novidades na organização da atual assembleia é puramente logística, mas muito representativa. Em vez de se reunirem na Sala do Sínodo, no Vaticano, que é uma espécie de sala de conferências onde os bispos costumam se reunir com o Papa, dessa vez eles se encontram ao redor de várias mesas redondas, dispostas na Sala Paulo VI – conhecida pelas audiências gerais do Pontífice.
Dessa forma, todos os participantes estão praticamente no mesmo nível (com exceção do Papa, cuja mesa, partilhada com os relatores do Sínodo, está um degrau acima). Cada um fala para os outros do próprio lugar e assiste aos outros em telas pequenas, posicionadas sobre as mesas.
SEGUNDA ETAPA, A MAIS LONGA
Depois da primeira fase, sobre a Igreja sinodal, na segunda-feira, 9, os mais de 360 participantes da assembleia – entre bispos, clérigos, religiosos, leigos e leigas – iniciaram a segunda etapa, que se debruça sobre os temas “Comunhão, Missão e Participação”. Essa parte, por sua vez, vai ter três passos, cada um sobre uma prioridade da Igreja sinodal.
Eles devem responder a três perguntas que emergiram das consultas sinodais em todo o mundo ao longo dos últimos anos:
Uma comunhão que irradia. Como podemos ser mais plenamente sinal e instrumento da união com Deus e da unidade do gênero humano?
Corresponsáveis na missão. Como partilhar dons e tarefas ao serviço do Evangelho?
Participação, responsabilidade e autoridade. Que processos, estruturas e instituições numa Igreja sinodal missionária?
São as chamadas “questões para o discernimento”, as principais perguntas que o Sínodo pretende responder ao longo das próximas semanas.
PAPA FRANCISCO: A IGREJA ESTÁ ‘EM PAUSA’ PARA OUVIR O ESPÍRITO SANTO
Para enfatizar a importância do atual caminho sinodal, na sessão de abertura da atual assembleia geral, o Papa Francisco afirmou, no dia 4, que a Igreja atualmente faz “uma pausa” para se colocar plenamente “à escuta do Espirito Santo”. Em suas palavras, é preciso “discernir as vozes do Espírito daquelas que não são do Espírito, que são mundanas”.
“A Igreja, uma só harmonia de vozes, em muitas vozes, realizada pelo Espírito Santo: é assim que devemos conceber a Igreja”, declarou o Papa. “Cada comunidade cristã, cada pessoa tem a sua peculiaridade, mas estas particularidades devem ser incluídas na sinfonia da Igreja e a sinfonia certa é criada pelo Espírito: não podemos fazê-lo. Não somos um parlamento, não somos as Nações Unidas, não, é outra coisa. O Espírito é a origem da harmonia entre as igrejas”, completou.
O Sucessor de Pedro afirmou, ainda, que mais do que falar, a prioridade do Sínodo é escutar. “A Igreja parou, como pararam os apóstolos depois da Sexta-feira Santa, aquele Sábado Santo, fechados, mas eles pararam por medo, nós não. Mas está parada. É uma pausa para toda a Igreja, na escuta. Esta é a mensagem mais importante”, disse.