O cardeal José Tolentino de Mendonça comentou a visita do Papa Francisco à Penitenciária Feminina Giudecca, que acolhe o Pavilhão da Santa Sé na Bienal de Veneza. O prefeito do Dicastério para a Cultura e a Evangelização destacou a mensagem sobre a dignidade humana do Papa, a importância da arte em retratar essa temática e também a contribuição da artista brasileira Sônia Gomes, cuja obra simboliza a transformação das dores em esperança.
O cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação e curador do pavilhão da Santa Sé na 60ª edição da Bienal de Veneza, comentou a passagem do Papa Francisco no último domingo pela Penitenciária Feminina Giudecca, que abriga a mostra “Com os meus olhos”, resultado de um encontro profundamente humano entre os artistas e as mulheres que cumprem suas sentenças na casa de detenção.
Em entrevista à Rádio Vaticano / Vatican News, o cardeal português afirma que a visita do Papa àquelas mulheres é uma espécie de parábola: “Francisco é um visitador global de cárceres, já visitou quase vinte cárceres, mais do que um por ano durante seu pontificado”, enfatiza Tolentino ao sublinhar que a presença do Pontífice para aquelas detentas foi como se elas estivessem recebendo um pai: “Essa atitude do Santo Padre dá um exemplo enorme a toda a comunidade cristã e à comunidade humana, para dizer que não podemos descartar ninguém, mas temos de abraçar e dar novas oportunidades a todos. Isso, penso eu, que as mulheres detidas neste cárcere entendem muito bem.”
A mensagem do Papa Francisco
O prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação recorda a frase do Papa que ecoou durante a cerimônia de acolhimento da JMJ de 2023 e, segundo Tolentino, também na Penitenciária Feminina Giudecca, essa fala de Francisco faz todo o sentido: “A mensagem é aquela que o Papa Francisco repete tantas vezes, que é colocar a pessoa humana no centro e que ‘todos todos todos’ têm uma dignidade que nós precisamos abraçar. Ainda me recordo que na Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, o Papa disse aos jovens: ‘há só um momento em que podemos olhar para o outro de cima para baixo, é quando nos inclinamos para ele para lhe dar a nossa mão e o fazer levantar’. Penso que esta é a mensagem do Pavilhão da Santa Sé, onde a arte contemporânea vem ao encontro de um lugar de dor e de sofrimento, mas também um lugar de esperança, um lugar humano que é preciso habitar, que são os cárceres, as prisões.”
Enxergar a dignidade através da arte
Ao falar do tema da exposição: “Com os meus olhos”, o cardeal destaca que a arte tem como dom trabalhar o olhar das pessoas, de modo profundo e límpido, e isso está ligado à capacidade de enxergar tantas situações com mais profundidade.
“A arte nos faz ver o detalhe, nos faz ver o todo no mínimo, o máximo naquilo que é o mínimo, e penso que este é também a contribuição dos artistas. E muitos deles trabalharam isso de modo específico, fizeram suas obras em diálogo com as detentas.”
A presença de uma artista brasileira
O curador do pavilhão da Santa Sé na Bienal de Veneza também recorda que entre as obras de arte que compõem a mostra, há a contribuição de uma brasileira, Sônia Gomes, que está exposta na capela Maria Madalena, localizada no interior da penitenciária, que está desconsagrada. E foi neste local, inclusive, que o Papa Francisco recebeu os artistas durante sua visita à Veneza.
Tolentino recorda que a obra de arte da artista brasileira é um convite para olhar para o alto, onde estão penduradas as roupas das encarceradas, reunidas em tecidos coloridos, que em seu formato lembram os casulos das lagartas que um dia se transformarão em borboletas:
“A grande artista brasileira, Sônia Gomes, traz à memória das mulheres do continente sul-americano para dizer quanto as nossas esperanças e as nossas dores são destinadas a uma metamorfose. Em que os casulos que por vezes chamamos de problemas podem gerar borboletas, se nós acreditamos, se vivemos também com fé.”
Fonte: Vatican News