Na audiência com o Papa Leão XIV, o Cardeal Jaime Spengler o convidou para visitar o Brasil durante a Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, em novembro. ‘Está aberta a possibilidade de acordo com a agenda do Papa’, afirmou o Presidente do Celam e da CNBB

“Um chamado por justiça climática e a casa comum: conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções” é o título do documento que os presidentes do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam), Cardeal Jaime Spengler; da Federação das Conferências Episcopais da Ásia, Cardeal Filipe Neri António Sebastião do Rosário Ferrão; e do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar, Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, apresentaram ao Papa Leão XIV, na terça-feira, dia 1º, com reflexões, sob a perspectivas da Igreja no ‘Sul global’, para a Conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP30), que acontecerá em novembro, em Belém (PA).
Além das mudanças climáticas, foram levados ao Pontífice temas comuns a estes três continentes, como os apontados na constituição apostólica Praedicate Evangelium, sobre a reforma da Cúria Romana, que traz implicações para todo o contexto eclesial, analisando como cooperar para a aplicação deste documento nas realidades locais. Também se mencionou os grupos de trabalho criados a partir do Sínodo sobre a Igreja sinodal (2021-2024).
Na ocasião, o Cardeal Spengler, que também é presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), convidou o Papa Leão XIV para visitar o Brasil durante a realização da COP30, convite que o governo brasileiro também já fizera anteriormente. “Está aberta a possibilidade de acordo com a agenda do Papa. Ele tem sim consciência da importância e do lugar da palavra da Igreja nesse contexto de COP30. Vejamos qual será a resposta e a posição do Papado a partir do nosso convite”, detalhou o Purpurado.
Preocupações centrais

Em coletiva de imprensa após a audiência com o Leão XIV, Dom Jaime destacou que o texto é fruto de “um discernimento espiritual e comunitário entre as igrejas irmãs do ‘Sul global’. O Arcebispo de Porto Alegre (RS) criticou que falsas soluções para as questões climáticas estejam sendo apresentadas ignorando o componente ético da atual crise. “Como podemos aceitar que a solução climática seja um negócio para poucos e um sacrifício para os povos originários e locais?”, indagou, questionando que o que se propõe com o documento é que o “capitalismo verde”, dê lugar a uma transição energética “justa, popular e comunitária”.
Por sua vez, o Cardeal Ferrão recordou que a Ásia tem vivido constantemente com inundações, migrações forçadas, perdas de vidas em meio ao crescimento de “megaestruturas minerais para ‘baterias verdes’ que não respeitam a dignidade humana”. O Purpurado ressaltou que os países do ‘Norte global’ terão uma dívida ecológica com o ‘Sul global’ estimada em 192 bilhões de dólares até 2050 e que devem garantir um financiamento climático justo e sem gerar novas dívidas aos países mais pobres. Ele lembrou que no documento estão propostas alternativas para crescimento econômico, programas educativos, ações de espiritualidade ecológica e redes inter-religiosas pela vida.
Já o Cardeal Ambongo Besungu recordou que embora a África seja um continente rico em recursos, sua população se mantém majoritariamente na pobreza devido a décadas de exploração das potências mundiais. “Não aceitamos que se sacrifiquem comunidades inteiras em nome da transição energética nem que nossos bosques se convertam em ativos financeiros enquanto falta água potável à população”. Ele lembrou que o que se propõe no documento é uma transformação centrada na vida, no direito dos povos indígenas e dos migrantes climáticos e na equidade intergeracional.
A elaboração do documento foi coordenada pela Pontifícia Comissão para a América Latina (PCAL). Na coletiva de imprensa, Emilde Cuda, secretária deste organismo, sublinhou que a apresentação do texto meses antes da COP30 tem um poder simbólico de “derrubar muros” acerca das questões que aborda. “Nossa missão é pastoral: tocar o coração também dos que hoje estão em posições de decisão. Muitos deles também são católicos e este é um chamado para todos”.
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(Com informações de Vatican News e CNBB)