Confissão: o sacramento da conversão e da reconciliação com Deus

Luciney Martins/O SÃO PAULO

A Quaresma é um período propício para uma série de exercícios a serem feitos pelos cristãos. Uma dessas práticas é a Confissão. Ela, contudo, não é exclusiva para o tempo quaresmal e deve fazer parte da vida cotidiana de todo fiel batizado.

Instituída por Jesus Cristo, a Confissão é um dos sete sacramentos da Igreja, também conhecida como o sacramento da Penitência, da Reconciliação, do Perdão dos Pecados e da Conversão. Sua origem é narrada no Evangelho de João (cf. 20,22-23), quando Jesus ressuscitado apareceu aos apóstolos e soprou sobre eles dizendo: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, serão retidos”. Participantes do sacerdócio de Cristo, os bispos, sucessores dos apóstolos, e padres, seus colaboradores, receberam este ministério de perdoar os pecados in persona Christi (na pessoa de Cristo).

QUAIS SÃO OS PASSOS PARA UMA BOA CONFISSÃO?

O diligente exame de consciência; a contrição (ou arrependimento), que é perfeita quando motivada pelo amor a Deus, e imperfeita, se fundada sobre outros motivos, e que inclui o propósito de não mais pecar; a acusação dos pecados; a satisfação, ou seja, a penitência indicada pelo sacerdote, como forma de reparar o dano causado pelo pecado; dar graças pelo perdão recebido; e renovar o propósito de não pecar novamente.

O QUE CONFESSAR?

A Confissão não pode ser confundida com aconselhamento, direção espiritual ou terapia. A matéria desse sacramento são os pecados cometidos por pensamentos, palavras, ações ou omissões. A Igreja ensina que pecado é, antes de tudo, uma ofensa a Deus que rompe a comunhão do ser humano com Ele e, ao mesmo tempo, um atentado à comunhão com a Igreja.

Portanto, o penitente deve confessar todos os pecados graves (mortais) ainda não confessados, isto é, aqueles em que há matéria grave, plena consciência e consenso deliberado, podendo se referir diretamente a Deus, ao próximo ou a si mesmo.

A Igreja também recomenda que os fiéis tenham o hábito de confessar regularmente os pecados leves (veniais), ou seja, aqueles que possuem matéria leve, ou mesmo grave, mas sem pleno conhecimento ou sem total consentimento, que, embora não rompam a aliança com Deus, enfraquecem a caridade na alma.

CURA

Ao lado da Unção dos Enfermos, a Reconciliação é um dos chamados sacramentos de cura. Além de receber o perdão dos pecados e a reconciliação com Deus e com a Igreja, o cristão recupera, por este sacramento, a graça santificante perdida pelo pecado, a paz e a serenidade da consciência, a consolação do Espírito e o acréscimo das forças espirituais para o combate ascético.

FORMAÇÃO E DISPONIBILIDADE

Durante o curso de extensão sobre o sacramento da Confissão, promovido pela Faculdade de Teologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e pela Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, em junho de 2023, o Cardeal Odilo Pedro Scherer ressaltou a necessidade de uma formação adequada aos fiéis acerca desse sacramento. Ele enfatizou a importância da tomada de consciência a respeito do sentido do pecado, da justiça e do julgamento de Deus.

O Arcebispo de São Paulo apontou, ainda, a necessidade de maior disponibilidade de sacerdotes para o atendimento de Confissões. “Nas igrejas em que há padres para atender Confissões, sempre há fiéis se confessando. Por isso, a Igreja prescreve aos padres que disponibilizem horários para o atendimento de Confissões dos fiéis e os tornem conhecidos”, enfatizou.

“É preciso que haja uma boa pastoral da Penitência, que inclua uma preparação das pessoas antes de se dirigirem à Confissão, para conhecerem as condições mínimas para fazer uma boa Confissão”, orientou o Cardeal Scherer, elencando como condições essenciais a fé no perdão de Deus, a consciência do pecado, o arrependimento sincero e o firme propósito de não tornar a pecar.

SUGESTÃO DE ROTEIRO PARA O EXAME DE CONSCIÊNCIA

  • Neguei ou abandonei a minha fé? Tenho a preocupação de conhecê-la melhor? Recusei-me a defender a minha fé ou fiquei envergonhado dela? Existe algum aspecto da minha fé que eu ainda não aceito?
  • Disse o nome de Deus em vão? Recorri a práticas religiosas incompatíveis com a fé católica? Manifestei desrespeito pelas pessoas, lugares ou coisas santas?
  • Faltei voluntariamente à missa aos domingos ou nos dias de preceito?
  • Recebi a Sagrada Comunhão tendo algum pecado grave não confessado? Recebi a Comunhão sem agradecimento ou sem a devida reverência?
  • Fui impaciente, fiquei irritado ou fui invejoso?
  • Guardei ressentimentos ou relutei em perdoar?
  • Fui violento nas palavras ou ações com outros?
  • Tive ódio ou juízos críticos, em pensamentos ou ações? Olhei os outros com desprezo?
  • Falei mal dos outros, transformando o assunto em fofoca?
  • Não cultivei relações fraternas nos ambientes do meu convívio social?
  • Alimentei preconceitos para com aqueles que vivem e pensam de forma diferente?
  • Prejudiquei a comunhão e unidade da Igreja, cedendo às polarizações ideológicas, preconceitos e intolerância para com os irmãos?
  • Abusei de bebidas alcoólicas? Usei drogas?
  • Colaborei ou encorajei alguém a fazer um aborto ou a destruir embriões humanos, a praticar a eutanásia ou qualquer outro meio de acabar com a vida?
  • Pequei contra a castidade com palavras, pensamentos, desejos ou ações impuras?
  • Realizei leituras ou acessei conteúdos imorais, como a pornografia?
  • Cometi fornicação ou adultério?
  • Se sou casado, procuro amar o meu cônjuge mais do que a qualquer outra pessoa? Coloco meu casamento em primeiro lugar? E os meus filhos? Tenho uma atitude aberta para novos filhos?
  • Trabalho de modo desordenado, ocupando tempo e energias que deveria dedicar à minha família e aos amigos?
  • Fui orgulhoso ou egoísta em meus pensamentos e ações? Deixei de ajudar os pobres e os necessitados? Gastei dinheiro com o meu conforto e luxo pessoal, esquecendo as minhas responsabilidades para com os outros e para com a Igreja?
  • Cedi à preguiça? Preferi a comodidade em vez do serviço aos demais?
  • Disse mentiras? Propaguei conscientemente notícias falsas, calúnias e difamações?
  • Fui desonesto e preguiçoso no meu trabalho? Fui justo na relação com meus subordinados?
  • Roubei ou recebi dinheiro ilícito?
  • Cumpri com meus deveres cívicos?
  • Descuidei da minha responsabilidade de aproximar de Deus os outros, com o meu exemplo e a minha palavra?

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