A Eucaristia não é uma simples lembrança, é um fato, disse o Papa Francisco no domingo, 14, quando se celebrou a Solenidade de Corpus Christi no Vaticano. “É a Páscoa do Senhor que revive em nós. Na missa, a morte e a ressurreição de Jesus estão diante de nós”, lembrou. Em suas palavras, porém, a Eucaristia também tem um poder medicinal importante: ajuda a “curar” nossa memória ao nos aproximar, concretamente, do amor de Deus.
UM REMÉDIO PARA A MEMÓRIA
“Façam isso em memória de mim”, afirmou Jesus na última ceia, conforme o relato do Evangelho. Sobre essa fala, o Papa disse que Jesus pede que todos se reúnam em comunidade, como um povo único, como família, e celebrem a Eucaristia em sua memória. “Não podemos ignorar: [a Eucaristia] é o memorial de Deus. E cura a nossa memória ferida.” Essa “memória ferida”, explicou o Santo Padre, expressa-se quando as pessoas esquecem todo o bem já recebido de Deus ao longo de suas vidas, e se veem sozinhas no mundo. “Tornamo-nos estranhos de nós mesmos”, definiu ele. Portanto, “fazer memória é voltar a se unir aos laços mais fortes, é sentir-se parte de uma história; é respirar com um povo”. “A memória não é uma coisa privada, é a via que nos une a Deus e aos outros”, resumiu o Papa. Esse “memorial” deixado por Cristo serve para fortalecer nossos laços com Ele e com a comunidade cristã. “Ele não nos deixou só sinais, porque se pode esquecer aquilo que se vê. Deu- -nos um alimento, e é difícil esquecer um sabor. Deu-nos um pão, no qual Ele está vivo e verdadeiro, com todo o sabor do seu amor”, disse o Pontífice.
CURA PARA A NEGATIVIDADE
Jesus também cura a “memória órfã”, isto é, aquela carente de afetos, e a “memória negativa”, que o Papa define como a negatividade “que vem tantas vezes ao nosso coração”. E também a “memória fechada”, que vem do medo e da suspeição em relação aos outros, além da indiferença. Sobre isso, o Papa Francisco afirmou que Jesus afasta de cada um a ideia de que “não somos bons para nada, que só cometemos erros, que somos errados”. Ao se tornar nosso amigo íntimo na Eucaristia, “Ele recorda que somos preciosos: somos os convidados esperados em seu banquete, os companheiros que deseja”. Sempre usando a linguagem médica, insistiu o Papa: “O Senhor sabe que o mal e os pecados não são a nossa identidade, são doenças, infecções. E vem curá-las com a Eucaristia, que contém os anticorpos para nossa memória doente de negatividade. Com Jesus, podemos nos imunizar da tristeza”. A Eucaristia faz de cada um “portador de Deus”, acrescentou Francisco. “Jesus, ao oferecer-se a nós como um simples pão, nos convida também a não desperdiçar a vida, seguindo mil coisas inúteis que criam dependência e deixam o vazio por dentro. A Eucaristia fecha em nós a fome de coisas e acende o desejo de servir”, disse na homilia.