
Dez anos se passaram desde a publicação do primeiro documento elaborado pelo Papa Francisco, a exortação apostólica Evangelii gaudium (Alegria do Evangelho), datada de 24 de novembro de 2013. Um simpósio organizado na sexta-feira, 24, pelo Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral reuniu especialistas para refletir sobre o documento, considerado “programático” para o pontificado de Francisco.
Em mensagem aos participantes do evento, o Papa reforçou o convite feito há dez anos, de iniciar “uma nova etapa no anúncio do Evangelho”, na qual se propunha “recuperar a alegria missionária dos primeiros cristãos, cheios de coragem, incansáveis no anúncio e capazes de grandes resistências ativas”, e de reformar as estruturas injustas, promovendo uma nova mentalidade na Igreja e no mundo.
“O anúncio do Evangelho no mundo de hoje continua a exigir de nós uma resistência profética contracultural ao individualismo hedonista pagão”, escreveu o Santo Padre na exortação. Além disso, o Papa pediu que “tenhamos os mesmos sentimentos de Jesus Cristo”, porque “a nossa missão evangelizadora e a nossa vida cristã não podem ignorar os pobres”. Para isso, Francisco sugeriu a criação de “novas estruturas sociais” que se baseiam numa “nova mentalidade” para “renunciar à autonomia absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacar as causas estruturais da desigualdade”.
AS BASES PARA O MAGISTÉRIO DE FRANCISCO
Em comentário durante o simpósio, o Cardeal Michael Czerny, Prefeito do Dicastério, afirmou que na Evangelii gaudium o Papa Francisco estabeleceu as bases para desenvolver o seu magistério ao longo dos últimos dez anos. “A luz da fé conduz à alegria do Evangelho, e da alegria do Evangelho, acolhido e vivido, nasce a consciência de que somos chamados a nos reconhecermos e a vivermos uns com os outros como irmãos”, disse o Cardeal.
Ele afirmou, ainda, que o Papa Francisco, como Bispo de Roma, sintetiza e ilustra o fruto do debate eclesial que teve lugar em Aparecida, durante a Conferência (Celam), em 2007. “Trazendo o tesouro experiencial da Igreja latino-americana da periferia para o centro, ele imagina o caminho a ser seguido por toda a Igreja Católica e afirma profeticamente: ‘Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo’ (cf. EG 27)”, declarou o Cardeal Czerny.
O programa delineado na Evangelii gaudium, disse o Cardeal, “atualiza e esclarece” a afirmação do Concílio Vaticano II, por meio da constituição pastoral Gaudium et spes, de que é preciso “aprofundar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho” (GS 4). Nesse sentido, na visão do Cardeal Czerny, “é por meio do diálogo e do encontro com a história e com o mundo de hoje, fragmentado e abalado como que passando por uma terceira guerra mundial em pedaços, que a Igreja está amadurecendo sua consciência de que, para aderir e se conformar a Cristo, o Senhor, ela é chamada a se lançar novamente como o Povo de Deus, ao lado de toda a família humana”.