Exaltemos a Cruz gloriosa de Jesus, sinal do imenso amor de Deus

Luciney Martins/O SÃO PAULO

“A Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa glória; Nele está nossa vida e ressurreição; foi Ele que nos salvou e libertou”.

A antífona de entrada da missa da Festa da Exaltação da Santa Cruz, em 14 de setembro, sintetiza as razões pelas quais os cristãos em todo o mundo exaltam a Cruz de Cristo e o porquê de a Igreja Católica reservar um dia no calendário litúrgico para esta solene celebração.

“É pela Cruz de Cristo que o Reino de Deus vai ser definitivamente estabelecido: ‘Regnavit a ligno Deus – Deus reinou desde o madeiro’”, aponta o parágrafo 550 do Catecismo da Igreja Católica (CIC).

ORIGENS

A origem da Festa da Exaltação da Santa Cruz relaciona-se à consagração de dois templos em Jerusalém, em 13 de setembro do ano de 335: a Igreja da Ressurreição, perto do Santo Sepulcro; e a Igreja do Martírio, construída sobre o Gólgota. No dia seguinte, em solene cerimônia, a imperatriz Helena, mãe do imperador Constantino, apresentou a cruz em que Cristo fora crucificado, a qual teria sido encontrada no ano 320.

A partir de então, o culto à Cruz de Cristo foi impulsionado por uma série de homilias e iconografias. No ano de 614, porém, o rei persa Cosroes II duelou contra Roma e, após triunfar em Jerusalém, levou consigo a Cruz de Jesus. Heráclio, imperador romano de Bizâncio, propôs um pacto de paz com Cosroes II, mas diante da negativa, guerreou com os persas e obteve a restituição da Cruz, levando-a de volta para Jerusalém.

SINAL DA REDENÇÃO E DO AMOR

Ao longo dos séculos, os Papas dedicaram reflexões sobre a Exaltação da Santa Cruz. São João Paulo II, na missa de 14 de setembro de 1984, durante viagem apostólica ao Canadá, ressaltou que “a cruz é o sinal da redenção, e a redenção contém a promessa da ressurreição e do início de uma vida nova: a elevação dos corações humanos… A elevação de Cristo na cruz constitui o início da elevação da humanidade por meio da cruz. E a realização última da elevação é a vida eterna”.

Ainda segundo o Pontífice, a Cruz contém em si o mistério da salvação, a elevação do amor ao ponto supremo da história: “na Cruz, o amor é sublimado, e a Cruz é ao mesmo tempo sublimada por meio do amor. E do alto da cruz, o amor desce até nós”.

A Cruz também sinaliza a profunda humilhação de Cristo, mas, ao ser levantada, ela “deixa de ser sinal de uma morte ignominiosa e se torna sinal de ressurreição, isto é, de vida”, explicou São João Paulo II.

Por todas estas razões, o Papa polonês enfatizou que a Festa da Exaltação da Santa Cruz “é como que o compêndio de todo o mistério pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo” e exortou os cristãos a ressaltarem o valor da cruz na sociedade: “Falemos da Cruz de modo particular a todos aqueles que sofrem e transmitamos a sua mensagem de esperança aos jovens. Continuemos a proclamar o seu poder salvador até os confins da terra: Exaltatio Crucis! – a glória da Santa Cruz!”.

‘ERGUER COM OUSADIA ESTA CRUZ GLORIOSA’

Também o Papa Bento XVI discorreu sobre o significado da Santa Cruz. Uma destas ocasiões foi na missa de 14 de setembro de 2008, em Lourdes, na França, quando lembrou que, por amor à humanidade, Deus entregou Seu próprio Filho até a morte de cruz: “Nesta Cruz, Jesus tomou sobre si o peso de todos os sofrimentos e injustiças da nossa humanidade. Carregou as humilhações e as discriminações, as torturas padecidas, pelo amor de Cristo, em tantas regiões do mundo por nossos irmãos e irmãs sem número”.

Por essa razão, “a Igreja nos convida a erguer com ousadia esta Cruz gloriosa, a fim de que o mundo possa ver até onde chegou o amor do Crucificado pelos homens, por todos os homens. Ela nos convida a dar graças a Deus, porque de uma árvore que trouxera a morte surgiu novamente a vida. É sobre este madeiro que Jesus nos revela a sua soberana majestade, nos revela que Ele é exaltado na glória. Sim, ‘Vinde, adoremo-Lo!’”, disse Bento XVI.

POR QUE ‘EXALTAR’ A CRUZ?

Esta foi a pergunta que o Papa Francisco fez aos fiéis no Angelus de 14 de setembro de 2014, prontamente respondendo-a: “Não exaltamos uma cruz qualquer, ou todas as cruzes: exaltamos a Cruz de Jesus, porque nela se revelou ao máximo o amor de Deus pela humanidade”.

Francisco recordou ainda que a Cruz de Jesus exprime toda a força negativa do mal, mas, ao mesmo tempo, toda a mansidão onipotente da misericórdia de Deus: “A Cruz parece decretar a falência de Jesus, mas, na realidade, marca a vitória. No Calvário, quantos O escarneciam dizendo: ‘Se és Filho de Deus, desce da cruz’ (cf. Mt 27,40). Mas era verdade o contrário: precisamente porque era o Filho de Deus, Jesus estava ali, na cruz, fiel até o fim ao desígnio de amor do Pai”.

“Daquela Cruz brota a misericórdia do Pai que abraça o mundo inteiro. Por meio da Cruz de Cristo, o maligno é vencido, a morte é derrotada, a vida nos é doada, a esperança nos é restituída… Eis por que a Igreja ‘exalta’ a Santa Cruz, e eis por que nós cristãos abençoamos com o sinal da cruz. Ou seja, nós não exaltamos as cruzes, mas a Cruz gloriosa de Jesus, sinal do amor imenso de Deus, sinal da nossa salvação e caminho rumo à ressurreição”, detalhou.

TOMAR A PRÓPRIA CRUZ E SEGUIR A CRISTO

Cada cristão é chamado a renunciar a si mesmo, tomar a própria Cruz e seguir o Cristo (cf. Mc 8,34).

“Ele que Se uniu, de certo modo, a cada homem, a todos dá a possibilidade de se associarem a este mistério pascal, por um modo só de Deus conhecido. Convida os discípulos a tomarem a sua cruz e a segui-Lo porque sofreu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigamos os seus passos” (CIC 618).

A CRUZ NA PERSPECTIVA DOS SANTOS

Santo Inácio de Antioquia, no século I, afirmava que a Cruz é escândalo para os que não creem, mas é salvação e vida eterna para todos os seguidores de Cristo.

São Justino, no século II, dizia que quando Cristo foi crucificado sobre o madeiro, redimiu a humanidade que estava banhada em gravíssimos pecados e a purificou pela água e a converteu em casa de oração e de adoração.

Santo Irineu, no século III, afirmava que a morte de Cristo na cruz foi a morte do justo pelos injustos; e que, assim, tornou perfeitamente justos aqueles que Nele creem, os quais podem sofrer a perseguição e a morte.

São Cirilo de Jerusalém, que viveu no século IV, mencionava que o cristão não deveria ter vergonha de confessar o crucifixo, e em qualquer ocasião traçar com os dedos o sinal da cruz, que é uma ajuda eficaz e gratuita, uma graça de Deus, marca dos fiéis e terror dos demônios.

São Leão Magno, papa no século V (440-461), dizia que todas as dificuldades e as esperanças humanas têm o seu fundamento na cruz de Cristo, pois é do alto do lenho em que esteve Cristo crucificado que vem a força para os trabalhos, a superação dos desafios e concretização das realizações humanas e eclesiais.

Fonte: “A celebração da exaltação da Santa Cruz”, artigo de Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA), publicado em 2021 no portal da CNBB

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