Dom Odilo: ‘A morte de Jesus na cruz é para nós motivo de esperança’

Arcebispo Metropolitano presidiu a Ação Litúrgica da Paixão de Cristo, na Catedral da Sé, na tarde desta Sexta-feira Santa

Fotos: Luciney Martins/ O SÃO PAULO

“Jesus permanece, diante de Deus, como nosso intercessor por toda a eternidade. Por isso mesmo, no dia de hoje, nós adoramos a cruz de Cristo, dizendo ‘Muito obrigado, Jesus, porque por mim o fizeste, porque por mim também padeceste, porque me amaste até o fim’. É a nossa resposta a Ele que constantemente intercede por nós”.

Assim afirmou o Cardeal Odilo Pedro Scherer na homilia da Ação Litúrgica da Paixão de Cristo, iniciada às 15h da Sexta-feira Santa na Catedral da Sé, quando toda a assembleia de fiéis, em pé e em profundo silêncio, acompanhou a entrada do Arcebispo Metropolitano e dos concelebrantes.

Depois, em frente ao altar, completamente desnudado, eles se prostraram, ao mesmo tempo em que os fiéis se ajoelharam, para meditar, silenciosamente, o mistério da Paixão de Cristo, fazendo memória de quando o Senhor entregou a própria vida para a salvação da humanidade.

“Ó Deus, pela Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, destruístes a morte que o primeiro pecado transmitiu a todo o gênero humano. Concedei que nos tornemos semelhantes a vosso Filho, e assim como trouxemos pela natureza a imagem do homem terrestre, possamos manter pela graça a imagem do homem celeste”, rezou o Arcebispo.

‘ELE MORREU NA CRUZ POR TODOS NÓS’

Na homilia, refletindo sobre o Evangelho da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo (Jo 18,1–19,42), Dom Odilo ressaltou que São João relatou o que testemunhou para que por meio dessa narrativa todos possam crer que Jesus Cristo é o Filho de Deus e para que crendo alcancem a vida eterna.

“Hoje, mais uma vez, recordamos a Morte de Jesus na cruz, um fato já ocorrido, mas que para nós é também um fato presente, porque Ele morreu na cruz por todos nós”, afirmou Dom Odilo, destacando, ainda, que já o profeta Isaías falara do justo que morre injustiçado carregando o peso dos pecados de toda a humanidade: “Ele sofre em silêncio em benefício daqueles que O fazem sofrer. Carregou as nossas culpas e o castigo que devia pesar sobre nós”.

‘ELE NOS AMOU ATÉ O FIM’

O Arcebispo ressaltou, ainda, que Jesus “condenado à morte, torturado, morto na cruz, sepultado, ressuscitado, é o Cristo, o Ungido de Deus, o Filho de Deus que se fez um de nós para nos tornar novamente dignos diante de Deus”.

Ainda hoje, há quem se pergunte por que aceitou passar por tanto sofrimento. “Por que aceitou fazê-lo? A resposta é unicamente esta: porque muito nos ama e nos amou até o fim, até as últimas consequências, por isso se tornou para nós o intercessor, o Sumo Sacerdote do céu”, destacou o Arcebispo.

SINAL DE ESPERANÇA

Dom Odilo comentou, ainda, que por sua Ressurreição, Jesus alcança a vida plena para si e para todos: “A Ressurreição de Jesus é finalmente a resposta que Deus é misericordioso para com toda a humanidade e abre a perspectiva da vida eterna para todos os pecadores, dos quais somos nós também parte”.

O Cardeal também lembrou que nas meditações que escreveu para a Via-Sacra deste ano no Vaticano, o Papa Francisco reflete sobre as quedas de Jesus a caminho do calvário, destacando que estas foram em razão do peso dos pecados da humanidade, mas Ele sempre se levantou por amor a nós. “E o Papa reflete, então: a cada caída, levantemo-nos de novo, cheios de confiança Naquele que por nós caiu primeiro, mas se levantou. Confiemos na misericórdia de Deus”.

O Arcebispo explicou, ainda, que na cruz Cristo ofereceu a toda a humanidade a graça da misericórdia: “A morte de Jesus na cruz é para nós motivo de esperança”, disse, recordando o tema deste Ano Jubilar.

“Jesus na cruz carregou as nossas dores, assumiu as nossas culpas, carregou sobre si as nossas cruzes, mas ressuscitou para que nós tivéssemos esperança no perdão e na misericórdia de Deus, esperança de plena vida”, prosseguiu Dom Odilo, que, por fim, mencionando novamente o Papa Francisco, lembrou que neste Jubileu da Esperança a porta santa é o confessionário, de modo que todos devem buscar pelo sacramento da Reconciliação para alcançar a misericórdia de Deus.

ORAÇÃO UNIVERSAL

Após a homilia, aconteceu um dos momentos mais representativos desta celebração: a Oração Universal, recordando as intenções pelas quais Jesus entregou sua vida em favor da humanidade.

A assembleia reunida rezou pela Santa Igreja; pelo Papa; por todos os membros da Igreja; pelos catecúmenos; pela unidade dos cristãos; pelos judeus (aos quais o Senhor Deus falou em primeiro lugar); pelos que não creem no Cristo (a fim de que possam ingressar no caminho da salvação); pelos que não creem em Deus (para que mereçam chegar ao Deus verdadeiro); pelos governantes (para que Deus lhes dirija o espírito e o coração para a verdadeira paz e liberdade de todos) e por todos que sofrem, a fim de que Deus Pai “livre o mundo de todo erro, expulse as doenças e afugente a fome, abra as prisões e liberte os cativos, vele pela segurança dos viajantes, repatrie os exilados, dê a saúde aos doentes e a salvação aos que agonizam”.

ADORAÇÃO DA CRUZ

Na sequência, pelo corredor central da Catedral, houve a entrada da cruz, ainda encoberta com um tecido. No presbitério, ao declamar “Eis o lenho da cruz, do qual pendeu a salvação do mundo”, o Arcebispo lentamente a desnudou, sendo o primeiro a adorá-la, seguido pelos sacerdotes concelebrantes, diáconos e servidores do altar.

Depois, a cruz foi levada para a frente das escadarias do presbitério. Por cerca de 20 minutos, a multidão de fiéis que lotou a Catedral da Sé realizou a adoração ao Cristo crucificado, ao som de antífonas e cânticos tradicionais da Sexta-feira Santa.

“Que este gesto que acabamos de fazer reacenda em todos a chama viva da esperança”, disse Dom Odilo após a veneração da cruz, feita este ano com a mesma cruz do Jubileu 2025 na Catedral da Sé.

COLETA PARA OS LUGARES SANTOS

Também nesta celebração foi realizada a coleta para os lugares onde Jesus nasceu, viveu e anunciou o Evangelho, e outros mencionados nas Sagradas Escrituras e que remetem às origens da fé cristã.

Conforme ressaltou Dom Odilo, nestes Lugares Santos os cristãos são minoria e a manutenção das estruturas da Igreja e dos trabalhos de evangelização depende quase que inteiramente da solidariedade e apoio dos demais cristãos.

Posteriormente, foi estendida sobre o altar a toalha e o corporal, rezou-se a oração do Pai-Nosso e teve sequência o rito da comunhão, pois ainda que não se celebre a Eucaristia neste dia é feita a comunhão eucarística, com as hóstias que foram consagradas na missa da noite anterior.

CORTEJO COM O SENHOR MORTO E NOSSA SENHORA DAS DORES

Em razão das fortes chuvas na região central da cidade, a tradicional procissão com as imagens do Senhor Morto e de Nossa Senhora das Dores não foi realizada pelas ruas, mas aconteceu um cortejo no interior do templo com as imagens.

“Cristo não morreu e ficou na morte. Ele é a luz do mundo e diz ‘quem me segue não andará nas trevas’”, recordou o Cônego Helmo Cesar Faccioli, Auxiliar do Cura da Catedral, antes do começo do cortejo, após o qual se seguiu a reflexão sobre o Sermão das 7 Palavras, conduzida pelo próprio Cônego e o Padre Luiz Eduardo Pinheiro Baronto, Cura.

Antes proferir a oração sobre o povo, pela qual se concluiu a ação litúrgica, o Arcebispo recordou aos fiéis que o Sábado Santo é dia de vigília, silêncio e de oração para que os cristãos possam bem se preparar para a Solene Vigília Pascal e para o Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor.

No Sábado Santo, 19, Dom Odilo presidirá a Solene Vigília Pascal às 19h na Catedral Metropolitana. No domingo de Páscoa, 20, a missa a ser presidida por ele na igreja-mãe da Arquidiocese será às 11h.

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