Francisco: juízos e preconceitos só aumentam as distâncias

“Contrastes e palavras duras não ajudam. Colocar as pessoas em guetos não resolve nada. Quando se cultiva o fechamento, mais cedo ou mais tarde acaba por explodir a raiva”, disse ainda Francisco, reiterando que “o caminho para uma convivência pacífica é a integração.

Vatican Media

O Papa Francisco encontrou-se com a Comunidade Cigana, no bairro Luník IX, em Košice, na Eslováquia, na tarde da terça-feira, 14.

“Na Igreja, ninguém deve se sentir estranho nem marginalizado. E não se trata apenas dum modo de dizer, mas é o modo de ser da Igreja. Pois ser Igreja é viver como convocado por Deus, sentir-se eleito na vida, fazer parte da mesma equipe”, disse Francisco no início de sua saudação.

“A Igreja é uma família de irmãos e irmãs com o mesmo Pai, que nos deu Jesus como irmão para compreendermos quanto Ele ame a fraternidade. E deseja que a humanidade inteira se torne uma família universal. Vocês nutrem um grande amor e respeito pela família, e olham a Igreja a partir desta experiência. Sim, a Igreja é casa, é casa de vocês. Sejam bem-vindos! Sintam-se sempre de casa na Igreja e nunca tenham medo de habitar nela. Que ninguém afaste vocês ou qualquer outra pessoa da Igreja”, disse o Papa à Comunidade Cigana.

O Evangelho nos diz para «Não julgar». “O Evangelho não deve ser atenuado, não deve ser aguado”. Jesus nos diz para não julgar, mas “quantas vezes não só falamos sem provas ou por ouvir dizer, mas consideramos também ter razão quando somos juízes implacáveis dos outros. Indulgentes conosco mesmos, inflexíveis com os outros. Quantas vezes os juízos não passam realmente de preconceitos, quantas vezes adjetivamos! Deste modo desfiguramos com as palavras a beleza dos filhos de Deus, que são nossos irmãos. Não se pode reduzir a realidade do outro aos próprios modelos pré-concebidos, não se pode rotular as pessoas. Antes de mais nada, para conhecê-los realmente, é preciso reconhecê-los: reconhecer que cada um traz em si a beleza incancelável de filho de Deus, no qual se espelha o Criador.”

“Queridos irmãos e irmãs, muitas vezes vocês foram objeto de preconceitos e juízos cruéis, estereótipos discriminatórios, palavras e gestos difamatórios. Com isso, todos ficamos mais pobres, pobres em humanidade. O que precisamos para recuperar a dignidade é passar dos preconceitos ao diálogo, dos fechamentos à integração.”

“Juízos e preconceitos só aumentam as distâncias. Contrastes e palavras duras não ajudam. Colocar as pessoas em guetos não resolve nada. Quando se cultiva o fechamento, mais cedo ou mais tarde acaba por explodir a raiva”, disse ainda Francisco, reiterando que “o caminho para uma convivência pacífica é a integração. É um processo orgânico, lento e vital, que começa com o conhecimento mútuo, prossegue com a paciência e estende o olhar para o futuro”.

E a quem pertence o futuro? Às crianças. São elas que nos orientam: os seus grandes sonhos não podem esfacelar-se contra as nossas barreiras. Querem crescer juntas com os outros, sem obstáculos nem restrições. Merecem uma vida integrada e livre. São elas que motivam opções clarividentes; não buscam o consenso imediato, mas olham para o futuro de todos. Pelos filhos, tomam-se decisões corajosas: pela sua dignidade, pela sua educação, para crescerem bem enraizados nas suas origens, sem ao mesmo tempo lhes ser vedada qualquer possibilidade.

O Papa agradeceu às pessoas que “realizam este trabalho de integração que, além de exigir não pouca fadiga, por vezes é objeto também de incompreensão e ingratidão, até mesmo da Igreja”. Agradeceu também aos sacerdotes, religiosos e leigos que dedicam o seu tempo oferecendo um desenvolvimento integral aos irmãos e irmãs, e “por todo trabalho com os marginalizados”, refugiados e presos. “A estes, em particular, e a todas as pessoas no mundo carcerário expresso a minha proximidade”, concluiu Francisco.

(Com informações de Vatican News)

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