Idosos e avós: pilares da memória, dos sonhos e da oração

Instituído pelo Papa Francisco, o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos será celebrado pela 1a vez no domingo, 25

Foto: Vatican Media

“Eu estou contigo todos os dias” (cf. Mt 28,20) é o tema da mensagem do Papa Francisco para o 1o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, instituído pelo Pontífice em janeiro deste ano e que será celebrado no domingo, 25.

A temática, que remete à proximidade do Senhor com os idosos, é também um chamado para que na Igreja e na sociedade como um todo haja permanente acolhida e respeito aos idosos, valorização de seu papel na preservação da memória de um povo, no suporte aos sonhos das novas gerações e na prática da oração.

Salvaguardar as raízes e transmitir a fé

No início da mensagem, o Papa recorda a cada idoso que a Igreja “preocupa-se contigo, ama-te e não quer deixar-te abandonado”, em especial neste tempo de pandemia, que lhes tem acarretado perdas, sofrimentos e um longo período de solidão.

Entretanto, os idosos nunca estão sós, pois jamais são abandonados pelo Senhor, que sempre os chama à vocação de “salvaguardar as raízes, transmitir a fé aos jovens e cuidar dos pequeninos”, independentemente das condições em que estejam: “Não importa quantos anos tens, se ainda trabalhas ou não, se ficaste sozinho ou tens uma família, se te tornaste avô ou avó ainda relativamente jovem ou já avançado(a) nos anos, se ainda és autônomo ou precisas ser assistido, porque não existe uma idade para se aposentar da tarefa de anunciar o Evangelhoda tarefa de transmitir as tradições aos netos. É preciso pôr-te a caminho e, sobretudo, sair de ti mesmo para empreender algo de novo”.

Indispensáveis para edificar a sociedade

Francisco ressalta que os idosos são indispensáveis “para se construir, na fraternidade e na amizade social, o mundo de amanhã”, que terá como pilares três aspectos que eles poderão ajudar a colocar: os sonhos, a memória e a oração.

A respeito do primeiro pilar, o Pontífice destaca a riqueza da aliança entre os jovens e os idosos: “Quem, senão os jovens, pode agarrar os sonhos dos idosos e levá-los adiante? Para isso, porém, é necessário continuar a sonhar: nos nossos sonhos de justiça, de paz, de solidariedade reside a possibilidade de os nossos jovens terem novas visões e, juntos, construirmos o futuro”.

A experiência daqueles que já superaram diferentes situações também ajuda a indicar caminhos diante dos desafios atuais: “Penso como pode ser de grande valor a memória dolorosa da guerra, e quanto podem as novas gerações aprender dela a respeito do valor da paz. E, a transmitir isto, és tu que viveste a tribulação das guerras. Recordar é uma missão verdadeira e própria de cada idoso: conservar na memória e levar a memória aos outros”.

Por fim, o Papa ressalta que a oração do idoso “é um pulmão de que não se podem privar a Igreja e o mundo. Sobretudo neste tempo tão difícil para a humanidade em que estamos – todos na mesma barca – a atravessar o mar tempestuoso da pandemia, a tua intercessão pelo mundo e pela Igreja não é vã, mas indica a todos a serena confiança de um porto seguro”.

A mensagem reforça toda a atenção que o Papa Francisco já demonstrou com os idosos ao longo de seu pontificado, como se detalha a seguir.

Encontro com os idosos e avós

Foto: Pexels Pixaba

Em 28 de setembro de 2014, o Papa se encontrou com idosos na Praça São Pedro e comentou que “a velhice é um tempo de graça, no qual o Senhor nos renova a sua chamada: chama-nos a guardar e transmitir a fé, chama-nos a rezar, especialmente a interceder; chama-nos a ser solidários com os necessitados… Os idosos, os avós têm uma capacidade particular de compreender as situações mais difíceis: uma grande capacidade! E, quando rezam por essas situações, a sua oração é forte, é poderosa!”. Na ocasião, ele também repudiou a indiferença com que alguns são tratados: “Quantas vezes se descartam os idosos com atitudes de abandono que são uma verdadeira e própria eutanásia oculta! É o efeito da cultura do descarte que tanto mal faz ao nosso mundo”.

Catequeses em 2015

Na catequese da audiência geral de 4 de março de 2015, o Pontífice afirmou que a atenção aos idosos distingue o nível de civilidade de um povo: “Numa civilização em que não há espaço para os idosos ou na qual eles são descartados porque criam problemas, tal sociedade traz em si o vírus da morte”.

Francisco também lamentou o fato de nem sempre se dar voz aos mais velhos, que “deveriam ser para toda a sociedade a reserva sapiencial do nosso povo”, uma vez que “antes de nós, percorreram o nosso próprio caminho, estiveram na nossa mesma casa, combateram a nossa mesma batalha diária por uma vida digna”.

Na catequese da semana seguinte, o Papa ressaltou que a velhice é uma vocação, a ser vivida na oração – “a oração dos anciãos e dos avós é uma dádiva para a Igreja, uma riqueza! Uma grande dose de sabedoria também para toda a sociedade humana: sobretudo para aquela que vive demasiado ocupada, absorvida, distraída” – e na orientação às novas gerações. “Podemos recordar aos jovens ambiciosos que uma existência sem amor é uma vida árida. Podemos dizer aos jovens medrosos que a angústia em relação ao futuro pode ser derrotada. Podemos ensinar aos jovens demasiado apaixonados por si mesmos que há mais alegria em dar do que em receber.”

Amoris laetitia

Na exortação apostólica Amoris laetitia, de 2016, o Papa pede de modo especial às famílias que não deixem de cuidar de seus idosos e ressalta a riqueza da convivência intergeracional. “As histórias dos idosos fazem muito bem às crianças e aos jovens, porque os ligam à história vivida tanto pela família como pela vizinhança e o país. Uma família que não respeita nem cuida dos seus avós, que são a sua memória viva, é uma família desintegrada; mas uma família que recorda é uma família com futuro” (AL,193).

Francisco faz ainda referência a um trecho da exortação apostólica Familiaris consortio, de São João Paulo II: “[Ele] convidou-nos a prestar atenção ao lugar do idoso na família, porque há culturas que, ‘especialmente depois de um desenvolvimento industrial e urbanístico desordenado, forçaram, e continuam a forçar, os idosos a situações inaceitáveis de marginalização’ [FC, 27]”.

Fratelli tutti

Na encíclica Fratelli tutti, Francisco aponta que a falta de filhos nas famílias e o abandono dos idosos em uma dolorosa solidão “exprimem implicitamente que tudo acaba conosco, que só contam os nossos interesses individuais (…) Não nos damos conta de que isolar os idosos e abandoná-los à responsabilidade de outros sem um acompanhamento familiar adequado e amoroso mutila e empobrece a própria família. Além disso, acaba por privar os jovens daquele contato que lhes é necessário com as suas raízes e com uma sabedoria que a juventude, sozinha, não pode alcançar”.

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