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Leão XIV aos bispos italianos: ‘Continuem próximos das famílias, dos jovens, dos idosos e de quem vive sozinho’

Indicações, ideias, sugestões, visão de uma Igreja viva que vive entre as pessoas para desenvolver “uma cultura do encontro”, em puro estilo sinodal, apesar de este ser “um tempo marcado por fraturas” e no qual é preciso ser “artesãos da amizade, da fraternidade”.

Fotos: Vatican Media

No discurso do Papa Leão XIV, que marca a conclusão da 81ª Assembleia Geral da Conferência Episcopal Italiana (CEI), há uma perspectiva, há um caminho principal que a Igreja italiana, da qual ele é primaz, é chamada a percorrer.

O Pontífice chegou à Basílica de Santa Maria dos Anjos por volta das 9h30 locais, da quinta-feira, 20, após prestar homenagem ao túmulo de São Francisco situado na cripta da Basílica inferior. Um aplauso de todos os prelados, reunidos na cidade da Úmbria desde 17 de novembro, acompanhou a entrada do Papa, que se dirigiu à Porciúncula levando um buquê de rosas amarelas e brancas.

Um gesto, explicaram os franciscanos, realizado por todos os Pontífices em memória do que aconteceu a São Francisco. O frade se jogou sobre um arbusto de rosas com espinhos, mas os espinhos caíram e ele não se feriu. Para agradecer, Francisco levou as rosas sem espinhos à Nossa Senhora dos Anjos.

PARTIR DE UM ATO DE FÉ

“Estou feliz com esta primeira parada, ainda que muito breve, em Assis, um lugar de profundo significado pela mensagem de fé, fraternidade e paz que transmite, da qual o mundo precisa urgentemente”, declarou Leão XIV no início de seu discurso.

Hoje é, de fato, um tempo de fraturas, tanto “em contextos nacionais quanto internacionais”, onde uma linguagem marcada por “hostilidade e violência” emerge cada vez mais, onde os mais vulneráveis ​​são deixados para trás, onde a liberdade é ameaçada pela “onipotência tecnológica” e onde a solidão reina suprema.

“A Palavra e o Espírito ainda nos impelem a sermos artesãos da amizade, da fraternidade e de relações autênticas em nossas comunidades, onde, sem hesitação ou medo, devemos escutar e harmonizar as tensões, desenvolvendo uma cultura de encontro e, assim, nos tornando uma profecia de paz para o mundo”, prosseguiu.

FUSÕES DIOCESANAS

O Papa recordou as diretrizes sugeridas na audiência de junho passado, com particular ênfase no anúncio, na paz, na promoção da dignidade humana, na cultura do diálogo e na visão antropológica cristã. Agora, é necessário que os bispos tracem diretrizes pastorais “num espírito verdadeiramente sinodal, dentro e entre as Igrejas do nosso país”. Isto exige dar cada vez mais forma a uma “Igreja colegial” e, portanto, não recuar na questão das fusões diocesanas, unindo esforços e tornando “as nossas identidades religiosas e eclesiais mais abertas”.

O desejo do Pontífice é que os prelados apresentem propostas para o futuro das pequenas dioceses com recursos humanos limitados, a fim de avaliar como avançar e construir “comunidades cristãs abertas, hospitaleiras e acolhedoras, em que as relações se traduzam numa corresponsabilidade mútua a favor do anúncio do Evangelho”.

CONSULTA POPULAR

No estilo sinodal, lê-se a indicação do Pontífice para acolher as solicitações do povo de Deus. Ele convidou a reforçar a coordenação entre o Dicastério para os Bispos e a Nunciatura Apostólica para promover “maior participação de pessoas na consulta para a nomeação de novos Bispos, além de ouvir os Ordinários em exercício nas Igrejas locais e aqueles que se preparam para concluir seu serviço”.

APRENDER A SE DESPEDIR

Leão XIV exortou a combater a inércia que atrasa a mudança, a “aprender a se despedir”, como recomendou o Papa Francisco. Portanto, afirmou ele, “é bom respeitar a regra dos 75 anos para a conclusão do serviço dos Ordinários nas dioceses, e somente no caso dos cardeais se poderá considerar uma continuação de seu ministério, possivelmente por mais dois anos”.

O Papa pediu à Igreja que se lembre do caminho trilhado pelo Concílio Vaticano II, marcado pelas Conferências Eclesiais Nacionais.

“A Igreja na Itália pode e deve continuar promovendo um humanismo integral, que ajude e apoie os percursos existenciais dos indivíduos e da sociedade; um sentido do humano que exalte o valor da vida e o cuidado de cada criatura, que intervenha profeticamente no debate público para difundir uma cultura da legalidade e da solidariedade”, afirmou.

Em relação aos desafios apresentados pelas novas mídias, ele sugeriu não se limitar ao uso desses instrumentos, mas “educar as pessoas para habitar a mídia digital de uma forma humana, sem permitir que a verdade se perca em meio à proliferação de conexões, para que a internet possa realmente ser um espaço de liberdade, responsabilidade e fraternidade.”

AO LADO DOS POBRES

“Caminhar juntos, caminhar com todos, significa também”, enfatizou o Papa, “ser uma Igreja que vive entre as pessoas, acolhe as suas perguntas, consola o seu sofrimento e partilha as suas esperanças.”

“Continuem próximos das famílias, dos jovens, dos idosos e de quem vive sozinho. Continuem se dedicando ao cuidado dos pobres: as comunidades cristãs profundamente arraigadas no território, os muitos agentes pastorais e voluntários, as Caritas diocesanas e paroquiais já fazem um excelente trabalho nesse sentido, e sou grato a vocês”, comentou.

ACOLHER E OUVIR AS VÍTIMAS DE ABUSO

Sobre o tema do abuso, ele recomendou que se preste atenção aos pequenos e vulneráveis, para que uma cultura de prevenção possa se desenvolver cada vez mais.

“Acolher e ouvir as vítimas são as marcas autênticas de uma Igreja que, por meio da conversão comunitária, reconhece as feridas e trabalha para curá-las”, disse.

A ESCOLHA DA FRATERNIDADE

Concluindo seu discurso, o Papa Leão XIII inspirou-se no estilo sinodal de São Francisco e seus companheiros, recordando que a escolha da fraternidade, que é o coração do carisma franciscano, foi inspirada por uma fé intrépida e perseverante. Ele espera que os fiéis sigam o exemplo do padroeiro da Itália com escolhas inspiradas por “uma fé autêntica e sejam, como Igreja, sinal e testemunha do Reino de Deus no mundo”.

Ao final do encontro com os bispos da CEI, que durou cerca de meia hora, o Papa conversou com os franciscanos da Porciúncula, cerca de sessenta no total. Cumprimentou-os um a um, trocando algumas palavras, e depois dirigiu-se a eles brevemente, revelando que não era sua primeira vez em Assis. Ele costumava ir a Santa Maria dos Anjos para encontrar paz e disse estar feliz por ter voltado, desta vez de vestimenta branca. Convidado pelos frades para participar das comemorações dos 800 anos da morte de São Francisco, o Papa confirmou seu desejo de retornar a Assis mais uma vez.

Logo após a parada em Santa Maria dos Anjos, Leão foi para o Estádio Migaghelli de onde decolou para Montefalco, onde celebrou a Santa Missa no Mosteiro das religiosas agostinianas. Ele permanece para o almoço e depois retorna de helicóptero ao Vaticano.

Fonte: Vatican News

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