O SÃO PAULO recorda os principais documentos escritos pelo Pontífice, que morreu no sábado, 31 de dezembro
Com a Encíclica “Spe Salvi” (“Salvos pela graça”), a segunda do pontificado de Bento XVI, publicada em novembro de 2007, o Pontífice desejou ajudar a humanidade a superar as estreitezas e limites da sua própria condição. A carta contém 77 páginas e é dividida em oito partes.
Os capítulos são: “A fé é esperança”; “O conceito de esperança baseado na fé do Novo Testamento e na Igreja primitiva”; “A vida eterna”; “É individualista a esperança cristã?”; “A transformação da fé-esperança cristã no tempo moderno”; “A verdadeira fisionomia da esperança cristã”; “Locais de aprendizagem e de exercício da esperança”, e “Maria estrela da esperança”.
O texto do documento começa com a passagem da carta do apóstolo Paulo aos romanos, que diz que “na esperança fomos salvos”, e afirma que o que distingue os cristãos é que sabem que sua vida “não acaba no vazio”. É justamente do início do texto em latim, como acontece tradicionalmente, que decorre o título Spe salvi.
Os “locais de aprendizagem e de exercício da esperança” são subdivididos em três partes: a oração; o agir e sofrer; e o julgamento de Deus.
Sobre o Julgamento de Deus (juízo final), Bento XVI escreve que a fé nesse julgamento é antes de tudo a esperança, e reitera que “existe ressurreição da carne, justiça e o fim do sofrimento”.
“Deus é e cria justiça. Este é nosso consolo e nossa esperança. Mas sua justiça também está na graça”, destaca o Papa.
Bento XVI afirma, ainda, que “no final, no banquete eterno os maus não se sentarão indistintamente na mesa junto às vítimas, como se nada tivesse acontecido”.
“O Evangelho não é só uma comunicação de coisas que se podem saber, mas comporta fatos e muda a vida. Quem tem esperança vive de outra maneira, uma vida nova”, escreve o Pontífice.
Bento XVI afirma que Jesus não trouxe ao mundo uma mensagem sócio-revolucionária, como a de Espártaco, ou de “libertação política”, como Barrabás, mas deu algo muito maior: o encontro com o Deus vivo, com uma esperança mais forte que o sofrimentos da escravidão e que por isso transforma de dentro a vida e o mundo.
O Pontífice acrescenta que Cristo torna o homem verdadeiramente livre, e que o ser humano não é escravo do universo, nem das leis e da casualidade da matéria: “Não são os elementos do cosmos que comandam o mundo e o homem, mas é um Deus pessoal que governa as estrelas, ou seja, o universo. Somos livres porque o céu não está vazio, porque o Senhor do universo é Deus, que em Jesus se revelou como amor”.
Após discorrer pela história, o Papa afirma que há dois períodos de “concretização política” da esperança: a Revolução Francesa, “que considerou a razão e a liberdade como estrela-guia a ser seguida no caminho da esperança”, e o marxismo.
Segundo o papa, porém, o ‘erro fundamental de Marx foi esquecer o homem e sua liberdade”. “Marx achou que uma vez solucionada a economia tudo seria resolvido. Seu erro foi o materialismo”, afirma Bento XVI, acrescentando que o homem precisa de Deus, pois caso contrário fica sem esperança.
Bento XVI afirma que o homem nunca pode ser redimido somente por fora, e que quem promete um mundo melhor que durará para sempre faz uma “falsa promessa”.
Sobre isso, acrescentou que também se enganam os que acham que o conhecimento científico pode redimir o homem, já que isso só pode ser feito por Deus, “que redime por amor”. A ciência, segundo o papa, também pode destruir a humanidade e o mundo.