No Sínodo, oração pela paz e olhar da Igreja para suas estruturas e os mais vulneráveis

Em coletiva de imprensa, na quarta-feira, 11, um dos participantes da assembleia sinodal, o Cardeal Gérald Cyprien Lacroix ressaltou: ‘não esperemos mudanças doutrinárias, mas aprendamos a caminhar juntos’

Na manhã da quinta-feira, 12, na Sala Paulo VI, antes do início dos trabalhos de mais um dia da 16a assembleia geral do Sínodo dos Bispos, com o tema sobre a sinodalidade, foi feita uma oração pela paz, especialmente pelas regiões do mundo atualmente dilaceradas por conflitos.

O Cardeal Louis Raphaël Sako, Patriarca de Bagdá dos Caldeus, liderou a oração da manhã e convidou todos os presentes a “rezar pela paz no mundo, especialmente na Terra Santa, mas também na Ucrânia. A violência no Iraque, no Irã, no Líbano”.

“As pessoas estão esperando com grande esperança para viver com dignidade e fraternidade e não sempre com medo e preocupação. Solidariedade também significa solidarizar-se com todos aqueles que têm medo e sofrem”, afirmou.

Margaret Karram, palestina, presidente do Movimento dos Focolares, fez em seguida uma outra oração. “Senhor, nós te pedimos pela Terra Santa, pelo povo de Israel e da Palestina que está sob o domínio de uma violência sem precedentes, pelas vítimas, especialmente as crianças, pelos feridos, pelos reféns, pelos desaparecidos e suas famílias”.

Ela também lembrou de todos os outros países do Oriente Médio que vivem em terror e destruição: “Ajude-nos, Senhor, a nos comprometermos com a construção de um mundo fraterno para que esses povos e aqueles que se encontram nas mesmas condições de conflito, instabilidade e violência possam encontrar o caminho do respeito aos direitos humanos, onde a justiça, o diálogo e a reconciliação são as ferramentas indispensáveis para a construção da paz”.

CAMINHAR JUNTOS

Os trabalhos da quarta-feira, 11, foram abertos com uma meditação do Cardeal Arthur Roche, que evocou o “perigo de uma guerra sangrenta” com a violência em Gaza e Israel.

Na coletiva de imprensa, o Presidente da Comissão de Informação, Paolo Ruffini, e a Secretária, Sheila Pires, apresentaram os trabalhos da assembleia entre a tarde de terça-feira, 10, e a manhã da quarta-feira, 11, centrados em temas como os conflitos no mundo, a pobreza e os abusos.

Também participaram do encontro com a imprensa o Cardeal Gérald Cyprien Lacroix, Arcebispo de Québec, no Canadá; Grace Wrakia, da Oceania, que testemunhou a voz das “pequenas” comunidades de Papua Nova Guiné; e Luca Casarini, ativista e fundador de “Mediterranea Saving Humans”, uma ONG que nasceu em 2018 em resposta às milhares de mortes no Mediterrâneo e que hoje se dedica a salvar vidas no mar.

Paolo Ruffini foi o primeiro a tomar a palavra, relatando sobre um pequeno ‘Círculo Menor’ estabelecido na terça-feira na Casa Santa Marta, quando um grupo de pessoas pobres de Roma foi convidado a almoçar com o Papa e o Cardeal Konrad Krajewski. A eles chegou a ser perguntado “o que esperavam da Igreja” e “a resposta”, segundo Ruffini, “foi: ‘amor. Somente amor”.

Ao todo, 339 membros estavam presentes na Congregação da terça e 345 na manhã da quarta-feira.

Aos jornalistas, o Cardeal Lacroix afirmou que a metodologia usada neste Sínodo “tem como objetivo ouvir o Senhor, sua Palavra, sua presença em cada pessoa batizada, e isso nos permite estar abertos ao outro e aos outros”.

Ao ouvir a Palavra de Deus, dos irmãos e das irmãs, “podemos encontrar nuances, mudar o que pensamos e é assim que vemos que Deus está trabalhando e está trabalhando em todas as pessoas”, disse o Arcebispo de Quebec, ressaltando, porém: “não esperemos mudanças doutrinárias, mas aprendamos a caminhar juntos”.

A VOZ DAS ‘PEQUENAS’ ILHAS DA OCEANIA

Este Sínodo também tem dado voz àqueles que até agora permaneceram em segundo plano sob a ótica da comunidade global. Grace Wrackia, a esse respeito, expressou gratidão ao Papa por ter convidado representantes das Ilhas Salomão e de Papua Nova Guiné para o Sínodo. “Por tantos anos, nós ouvimos e agora gostaríamos de falar, e gostaríamos que vocês ouvissem, porque temos algo a dar ao mundo. É a nossa maneira de viver, viver em comunhão, viver juntos e construir relações”.

FORTES APELOS À PAZ

Ao listar os tópicos abordados pelos Círculos e Congregações, Ruffini explicou que muitos discursos abordaram o tema da paz e das pessoas que sofrem com a guerra: “foi feita referência a como os cristãos podem ser um sinal de paz e reconciliação em um mundo desfigurado por guerras e violência”. Foram também lançados “fortes apelos” pelos países assolados por conflitos e pelo “sofrimento em algumas Igrejas Orientais”.

UMA IGREJA HUMILDE PARA OS POBRES

Outro tema que emergiu, disse Sheila Pires, foi “o desejo de uma Igreja em favor dos pobres, humilde, itinerante, que caminha com os pobres”. Pobres que “têm muitas faces”: os excluídos, os migrantes, as vítimas das mudanças climáticas e até mesmo as mulheres e religiosas em algumas partes do mundo consideradas “cidadãs de segunda classe”. “Foi dito que elas deveriam ser protegidas dos abusos”, explicou.

REFLEXÕES SOBRE ABUSOS

O tema dos abusos também ganhou centralidade nas reflexões: “falou-se da nossa credibilidade sendo questionada por escândalos como aqueles do abuso sexual e da necessidade de erradicar todo abuso sexual, de poder e espiritual e fazer de tudo, continuar fazendo de tudo, para estar perto das vítimas”, disse Ruffini.

Nos grupos e nas intervenções, a questão da identidade sexual foi então abordada. Foi dito que ela deve ser abordada “com responsabilidade e compreensão, permanecendo fiel ao Evangelho e aos ensinamentos da Igreja”, explicou o prefeito para a Comunicação.

As perguntas que os participantes do Sínodo fizeram a si mesmos foram “como incorporar o cuidado pastoral com relação ao amor entre casais homossexuais, entre os divorciados, enquanto permanecem fiéis aos ensinamentos da Igreja”.

MIGRANTES

Quanto à questão dos migrantes, alguns bispos – como foi explicado na coletiva de imprensa – “pediram ajuda a outras conferências episcopais” que estão em situações melhores do ponto de vista da integração e do acolhimento. Uma maneira de “poder se beneficiar” das habilidades desenvolvidas para garantir que as pessoas acolhidas possam se integrar à sociedade. Também foi reiterada “a necessidade de os migrantes e refugiados respeitarem as leis dos países em que se encontram”.

Sobre o tema da migração, o testemunho de Luca Casarini emblemático. O ativista também refletiu sobre a questão da pobreza: “nós, no meio do mar, encontramos esses irmãos e irmãs e, naquele momento, você encontra duas pobrezas”.

Por um lado, a pobreza econômica e social que obriga as pessoas a “deixar sua terra, sua família, sua memória”, suas únicas riquezas; por outro lado, a pobreza desoladora de uma parte do mundo que agora considera o “horror normal”. “Não somos mais capazes de chorar por uma criança que morre”, disse Casarini. “Essas duas pobrezas se ajudam mutuamente e abrem espaço para algo que devemos buscar desesperadamente hoje no mundo do ódio, o amor. Foi assim que conheci Jesus e Deus”.

Fonte: Vatican News

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