Papa à comunidade católica na Turquia: ‘A lógica da pequenez é a verdadeira força da Igreja’

Durante o encontro com bispos, sacerdotes, religiosos e agentes pastorais em Istambul, o Pontífice recordou as profundas raízes cristãs da região e encorajou a pequena comunidade católica do país a cultivar esperança, serviço e renovada missão

Fotos: Vatican Media

No segundo dia de sua viagem apostólica à Turquia, o Papa Leão XIV reuniu-se, na manhã da sexta-feira, 28, com bispos, sacerdotes, diáconos, consagrados e agentes pastorais na Catedral do Espírito Santo, em Istambul. Participaram do encontro cerca de 800 pessoas, incluindo os fiéis dentro e fora da igreja.

“Agradeço ao Senhor que me permite, na minha primeira Viagem Apostólica, visitar esta ‘terra santa’ que é a Turquia, onde a história do povo de Israel se encontra com o Cristianismo nascente, o Antigo e o Novo Testamento se abraçam, e se escrevem as páginas de numerosos Concílios.”

Em seu discurso, o Pontífice evocou a densidade histórica da fé naquele território, lembrando que lá “o povo de Israel se encontra com o Cristianismo nascente” e que, desde Abraão até os Apóstolos, esta terra viu surgir algumas das páginas mais decisivas da história da salvação. A memória desses acontecimentos, porém, não deve ser mero orgulho arqueológico — exortou o Papa — mas inspiração viva para o presente.

A FORÇA QUE NASCE DO PEQUENO

Ao falar da identidade e da missão da Igreja no país, o Papa destacou um critério evangélico que define o verdadeiro modo de Deus agir ao longo da história: “A lógica da pequenez é a verdadeira força da Igreja. Efetivamente, esta não reside nos seus recursos e nas suas estruturas, nem os frutos da missão da Igreja derivam do consenso numérico, poder econômico ou relevância social. Em vez disso, ela vive da luz do Cordeiro […] e é novamente chamada a sempre confiar na promessa do Senhor: ‘Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino’.”

Leão XIV reconheceu que a comunidade católica na Turquia é numericamente pequena, mas insistiu que ela permanece “fecunda como semente e fermento do Reino”. Por isso, convidou todos a testemunhar o Evangelho com “alegria e esperança confiante”, observando que já hoje surgem sinais promissores, como o crescente número de jovens que procuram a Igreja com perguntas e inquietações espirituais.

PRIORIDADES PASTORAIS

O Santo Padre indicou âmbitos fundamentais para a missão da Igreja na Turquia: o diálogo ecumênico e inter-religioso, a transmissão da fé à população local e o serviço pastoral aos refugiados e migrantes. Ao mesmo tempo, encorajou a perseverança no trabalho catequético, especialmente no acompanhamento dos muitos jovens que procuram a Igreja com perguntas e inquietações, sinal promissor que exige escuta e criatividade missionária.

Sobre a pastoral relacionada aos migrantes e refugiados, o Papa destacou que a presença muito significativa de pessoas deslocadas no país interpela diretamente a comunidade católica, chamada “a acolher e servir aqueles que estão entre os mais vulneráveis”. Recordou ainda que muitos agentes pastorais vêm de outras nações, o que torna essencial o esforço “especial e decidido de inculturação”, para que a fé seja comunicada de modo enraizado na língua, nos costumes e na sensibilidade do povo turco. Essa inculturação, afirmou, é condição para um anúncio verdadeiramente fecundo do Evangelho.

CONCÍLIO DE NICEIA E OS DESAFIOS TEOLÓGICOS DE HOJE

Por ocasião dos 1.700 anos do Primeiro Concílio de Niceia, celebrado em território turco, o Papa apontou três desafios atuais para a Igreja universal. O primeiro é a necessidade de redescobrir a essência da fé cristã em torno do Credo, “bússola” que orienta discernimentos e preserva a unidade. O segundo, combater o que chamou de um “novo arianismo”, quando Jesus é admirado apenas como figura histórica, mas não reconhecido plenamente como Filho de Deus.

“Niceia lembra-nos: Cristo Jesus não é uma figura do passado, é o Filho de Deus que está no meio de nós, que guia a história para o futuro que Deus nos prometeu”, enfatizou.

O terceiro desafio diz respeito ao desenvolvimento da doutrina, que – explicou – cresce como um organismo vivo, mantendo a verdade essencial da fé ao mesmo tempo em que aprofunda sua forma de expressão.

Antes de encerrar, o Papa recordou a figura de São João XXIII, que serviu na Turquia e demonstrou profundo afeto pelo país e seu povo. Inspirado por esse exemplo, o Papa exortou a Igreja local a manter viva a alegria:

“Desejo que sejam animados por esta paixão, que conservem a alegria da fé, que trabalhem como pescadores intrépidos no barco do Senhor. Que Maria Santíssima, a Theotokos, interceda por vocês e os proteja”, concluiu Leão XIV.

Fonte: Vatican News

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