Papa: acima das nossas estratégias, o amor a Deus e ao próximo

Papa preside a missa de encerramento da 16ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, cujos trabalhos se deram ao longo de outubro, com participantes de diferentes partes do mundo
Fotos: Vatican Media

Princípio e fundamento da fé cristã, o mandamento do amor é aquele que deve orientar a vida de todo cristão, inclusive no percurso sinodal. Assim notou o Papa Francisco durante a missa de conclusão da 16ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, na manhã do domingo, 29 de outubro. “Amar a Deus com toda a vida e amor ao próximo como si mesmo. Não as nossas estratégias, não os cálculos humanos, não as modas do mundo, mas amar a Deus e ao próximo: aí está o coração de tudo”, disse.

Duas palavras de ação, observou ele, orientam esse estilo de vida cristão: adorar e servir. Adorar a Deus é a primeira resposta ao seu “amor gratuito e surpreendente”. Adorar, definiu o Pontífice, é “reconhecer na fé que só Deus é o Senhor e que da ternura do seu amor dependem as nossas vidas, o caminho da Igreja, as sortes da história. Ele é o sentido de viver”.

Esse amor a Deus, porém, deve se manifestar também na relação como o próximo, acrescentou, no serviço. “Talvez tenhamos tantas ideias bonitas para reformar a Igreja, mas lembremos: adorar a Deus e amar os irmãos com o seu amor. Essa é a grande e perene reforma”, afirmou. Basta construir uma Igreja “adoradora e servidora”, que ao mesmo tempo se coloca aos pés de Deus, mas também “lava os pés da humanidade ferida, acompanha o caminho dos frágeis, dos fracos e dos descartados, vai com ternura ao encontro dos mais pobres. É o que Deus mandou.”

‘ABRIRAM-SE NOVOS ESPAÇOS NA IGREJA’, DIZ CARDEAL GRECH AO FIM DE ASSEMBLEIA

Uma experiência de escuta em profundidade, o atual sínodo sobre a sinodalidade “abriu novos espaços” na Igreja, declarou o Cardeal Mario Grech, Secretário-geral do Sínodo, no sábado, 28 de outubro, durante a coletiva de imprensa em que se apresentou o documento de síntese desta etapa. “Abrimos espaço em nossos corações para escutar os outros, havia escuta recíproca, partilha. Está mais fácil de se comunicar”, declarou.

“Havia uma grande generosidade entre os membros, que abriram espaço uns aos outros. Emerge, ainda, a ideia de que na Igreja há espaço para todos, temos que criar espaços para todos, ninguém excluído”, disse. “Estamos buscando viver o Evangelho de Cristo. Que todos se sintam acolhidos em sua própria casa”, completou.

Além do Cardeal Grech, participaram da coletiva o Cardeal Jean-Claude Hollerich, que é o Relator-geral do Sínodo, e o Padre Giacomo Costa, Secretário especial.

Dias antes, em 25 de outubro, a assembleia sinodal havia publicado uma “Carta ao povo de Deus”, na qual se dirige, de forma sucinta, a todos os que de alguma forma participaram do processo até aqui. “Dia após dia, ouvimos o urgente apelo à conversão pastoral e missionária. Porque a vocação da Igreja é anunciar o Evangelho não centrando-se em si mesma, mas colocando-se a serviço do amor infinito com que Deus ama o mundo”, diz o texto.

SÍNTESE APROVADA

Já o documento aprovado ao fim da última sessão da 16ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, que se concluiu oficialmente com a missa do domingo, 29 de outubro, não é bem um “documento final”, como se costumava ver em assembleias anteriores, mas um “relatório síntese” que apresenta os principais temas discutidos ao longo deste mês de intenso trabalho entre os mais de 360 participantes. Essa assembleia foi realizada após dois anos da abertura do Sínodo sobre a Sinodalidade, em outubro de 2021.

O documento é dividido em quatro partes: uma sobre “O rosto da Igreja sinodal”; a segunda sobre “Todos discípulos, todos missionários”; e a terceira, “Tecer laços, construir comunidades”. A conclusão foi intitulada “Para prosseguir o caminho”, e sinaliza que as questões abertas neste sínodo serão mais aprofundadas na última assembleia, de outubro de 2024, que reunirá os mesmos participantes no Vaticano.

Todos os pontos do documento foram aprovados com mais de dois terços dos votos dos membros da assembleia, de acordo com o Vaticano. Nas palavras do Cardeal Grech, os pontos em que houve alguma divergência entre os participantes revelam simplesmente que “há questões que ainda estão abertas” e precisam de mais diálogo e reflexão.

“Depois de um mês de trabalho, o Senhor agora nos chama a voltar às nossas Igrejas para transmitir a todos vocês os frutos do nosso trabalho e continuarmos juntos a jornada”, diz o documento. “Aqui em Roma éramos poucos, mas o sentido do caminho sinodal anunciado pelo Santo Padre é o de envolver a todos os batizados. Desejamos fervorosamente que isso aconteça e queremos que aconteça. Comprometemo-nos a tornar isso possível. Neste relatório resumido, reunimos os elementos principais que surgiram no diálogo, na oração e na discussão que caracterizaram estes dias. Nossas histórias pessoais enriquecerão esta síntese com o tom da experiência vivida, que nenhuma página pode restituir”, lê-se no texto.

UM MÉTODO A SE ADAPTAR

“Nem sempre é fácil ouvir ideias diferentes [das nossas]”, afirma o documento de síntese. “Mas a graça do Senhor nos permitiu viver uma verdadeira experiência de sinodalidade.” Nesse sentido, o Sínodo adotou, nesta assembleia, um método novo para esse tipo de reunião: a chamada “conversa no Espírito” ou “conversa espiritual”. Trata-se de um formato de diálogo adaptado a partir da tradição dos exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola.

Neste caso, momentos de fala e de escuta foram intercalados por minutos de silêncio, enfatizando a necessidade de se valorizar a fala de cada pessoa e permitindo que todos fossem ouvidos sem interrupções. Uma das justificativas da Secretaria do Sínodo para se usar esse método é que ele permitiria aos participantes entrar em profundidade nos temas a serem abordados, além de possibilitar aos membros da assembleia estabelecer uma relação de confiança e autenticidade.

O documento síntese, no entanto, afirma que os membros do Sínodo sentiram ser preciso aperfeiçoar e continuar a ajustar o método para as diferentes realidades e necessidades.

Considerando a complexidade e o número de temas específicos abordados pelo Sínodo – que vão desde a valorização da ministerialidade dos leigos em equilíbrio com a promoção das vocações sacerdotais e religiosas, incluindo o papel das mulheres, até questões ligadas à abertura aos que se sentem marginaliza- dos, a mobilização dos jovens, as estruturas de decisão, entre outros, O SÃO PAULO perguntou aos organizadores do Sínodo presentes na coletiva de imprensa se o mesmo método será o mais adequado para a próxima assembleia sinodal, em que mais decisões serão tomadas.

Em resposta, Padre Giacomo Costa afirmou que a “conversa espiritual” não é o único método possível para o discernimento coletivo e provavelmente não será usado da mesma forma na próxima assembleia. “Foi um método realmente importante, pois nos ajudou a tocar em nós, pontos essenciais. Mas não por acaso o Santo Padre havia decidido que a primeira assembleia deste Sínodo fosse para abrir as questões e a segunda para iniciar a fechá-las”, disse. “O método, na nossa impressão geral, permitiu deixar espaço para o Espírito intervir.”

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