Papa: as cinzas recordam-nos a esperança a que somos chamados

Na homilia da missa com o tradicional rito de imposição das cinzas, presidida pelo Cardeal De Donatis, na Basílica de Santa Sabina, o Papa Francisco recorda que “feitos de cinzas e de terra, tocamos a fragilidade ao experimentarmos a doença, a pobreza, o sofrimento que, por vezes, se abate inesperadamente sobre nós e sobre as nossas famílias”. “Colocadas sobre a nossa cabeça reavivam em nós a memória do que somos e também a esperança do que seremos”, escreve o Pontífice.

Reprodução Vatican News

O penitencieiro-mor, Cardeal Angelo De Donatis, delegado do Papa Francisco, presidiu a missa com o tradicional rito de imposição das cinzas, na Basílica de Santa Sabina, em Roma, na tarde desta quarta-feira, 05.

A homilia do Papa Francisco foi lida pelo purpurado italiano. O Santo Padre recorda, no texto, que as cinzas sagradas, “colocadas sobre a nossa cabeça reavivam em nós a memória do que somos e também a esperança do que seremos”. Elas nos lembram que “somos pó, mas situam-nos no caminho da esperança a que estamos chamados, porque Jesus desceu ao pó da terra e, através da sua Ressurreição, leva-nos com Ele para o coração do Pai”.

“É assim que se abre o caminho da Quaresma até à Páscoa, entre a memória da nossa fragilidade e a esperança de que, no fim do caminho, o Ressuscitado estará à nossa espera”, escreve o Pontífice.

Expostos às “poeiras finas” que poluem o mundo

Segundo o Papa, “é preciso conservar a memória. Recebemos as cinzas inclinando a cabeça, como que para nos olharmos a nós mesmos, para nos olharmos por dentro. As cinzas ajudam-nos a fazer memória da fragilidade e da insignificância da nossa vida: somos pó, fomos criados do pó e voltaremos ao pó”.

“Feitos de cinzas e de terra, tocamos a fragilidade ao experimentarmos a doença, a pobreza, o sofrimento que, por vezes, se abate inesperadamente sobre nós e sobre as nossas famílias. Percebemos que somos frágeis também quando, na vida social e política do nosso tempo, nos encontramos expostos às “poeiras finas” que poluem o mundo: a contraposição ideológica, a lógica da prevaricação, o regresso de velhas ideologias identitárias que teorizam a exclusão dos outros, a exploração dos recursos da terra, a violência nas suas diversas formas, a guerra entre os povos. Tudo isto são “poeiras tóxicas” que turvam o ar do nosso planeta e impedem a coexistência pacífica, enquanto a incerteza e o medo do futuro crescem dentro de nós todos os dias.”

Quaresma, convite a reavivar em nós a esperança

“Esta condição de fragilidade lembra o drama da morte, que nas nossas sociedades da aparência tentamos exorcizar de muitas maneiras e até apartar da nossa linguagem, mas que se impõe como uma realidade que temos de levar em consideração, como um sinal da precariedade e da transitoriedade de nossas vidas”, recorda o Papa. “Assim, apesar das máscaras que usamos e dos artifícios criados muitas vezes habilmente para nos distrair, as cinzas recordam-nos quem somos e isto nos faz-nos”, escreve Francisco.

O Papa recorda no texto que a Quaresma é “um convite a reavivar em nós a esperança. Se recebemos as cinzas com a cabeça inclinada para reavivar a memória do que somos, o tempo quaresmal não quer deixar-nos de cabeça baixa, antes pelo contrário, exorta-nos a levantar a cabeça para Aquele que se ergue das profundezas da morte, levando-nos também das cinzas do pecado e da morte para a glória da vida eterna”.

“As cinzas recordam-nos então a esperança a que somos chamados, porque Jesus, o Filho de Deus, misturou-se com o pó da terra, elevando-o ao céu. Ele desceu às profundezas do pó, morrendo por nós e reconciliando-nos com o Pai, como ouvimos ao apóstolo Paulo: «Aquele que não havia conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós».”

Esmola, oração e jejum

“Irmãos e irmãs, com as cinzas sobre a cabeça, caminhamos em direção à esperança da Páscoa”, escreve o Papa. “Convertamo-nos a Deus, voltemos a Ele com todo o coração, coloquemo-Lo de novo no centro da nossa vida, para que a memória do que somos – frágeis e mortais como cinza lançada ao vento – seja finalmente iluminada pela esperança do Ressuscitado.”

“Dirijamos a nossa vida para Ele, tornando-nos sinal de esperança para o mundo: aprendamos por meio da esmola a sair de nós mesmos para partilhar as necessidades uns dos outros e alimentar a esperança de um mundo mais justo; aprendamos por meio da oração a descobrir-nos necessitados de Deus, aprendamos por meio do jejum que não vivemos apenas para satisfazer necessidades, mas que temos fome de amor e de verdade, e só o amor de Deus e de uns pelos outros pode verdadeiramente saciar-nos e dar-nos esperança num futuro melhor.”

Fonte: Vatican News

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