Papa chama colonização dos indígenas de ‘genocídio’ e reitera que não pretende renunciar

Vatican Media

O Papa Francisco disse que a palavra “genocídio” pode ser usada para definir o processo de colonização dos indígenas na América do Norte. No voo de retorno de Iqaluit, no norte do Canadá, até Roma, ele afirmou que, embora “genocídio seja uma palavra técnica”, pode-se dizer que os fatos acontecidos ali tenham sido nesse sentido. 

“Tirar crianças das famílias, mudar a cultura, mudar a mente, mudar as tradições, mudar uma raça, digamos… é verdade, sim, é um genocídio”, declarou o Pontífice, no sábado, 30 de julho. 

Durante o voo, em que tradicionalmente os jornalistas fazem perguntas ao Papa, ele afirmou novamente que não tem intenção de renunciar, mas que isso pode mudar a qualquer momento. Francisco tentou minimizar a questão dizendo que “mudar de Papa não seria uma catástrofe”. Como jesuíta, é alguém que está em constante discernimento, completou. 

No entanto, o Papa, que passou a maior parte do tempo sentado em cadeira de rodas durante a semana no Canadá, admitiu que terá que reduzir o ritmo de atividades, principalmente as viagens internacionais. Ele explicou que as dores no joelho ainda incomodam, mas uma cirurgia com anestesia na sua idade – 85 anos – seria arriscada. 

Repercussão positiva da viagem, mas se espera mais avanços na reconciliação com indígenas 

A passagem do Papa Francisco pelo Canadá produziu muitas imagens positivas e frases de grande efeito na imprensa internacional. A percepção que prevalece nos principais jornais e agências de notícias é que a intenção do Pontífice de promover a reconciliação com os indígenas da América do Norte é autêntica, e não apenas um gesto de “relações públicas”. 

A viagem parecia ser “monotemática”, com ênfase no pedido de desculpas do Papa às comunidades indígenas pelo envolvimento de membros da Igreja no processo de colonização europeia, que levou à destruição de tradições e culturas indígenas e, também, a muitas mortes. 

No entanto, a imprensa internacional também destacou a mensagem sobre a questão ambiental – sobre a qual Francisco apresenta os indígenas como modelos a serem imitados – e a relação entre as gerações, especialmente no papel das mulheres na transmissão da fé. O Santo Padre também demonstrou apreço pela variedade cultural que a fé cristã pode assumir. 

Também repercutiu bastante a fala do Papa Francisco sobre sua saúde e uma possível renúncia – o que, por enquanto, ele descarta. 

Uma repercussão imprevista foi o questionamento, seja de jornalistas, seja de associações ligadas aos indígenas, da chamada “Doutrina do Descobrimento”. Trata-se de uma doutrina implantada no período colonial, pelas monarquias europeias e por meio de bula papal de Nicolau V, em 1452. 

À época, o documento papal foi usado pelos colonizadores europeus para subjugar povos que não eram cristãos e impor sua cultura e religião, nas Américas, na África e na Ásia. Cogita-se que o Papa Francisco possa, em um novo passo no processo de reconciliação com os indígenas e, simbolicamente, revogar tal documento – embora, por enquanto, o Vaticano não tenha sinalizado nada. De acordo com a imprensa canadense, os bispos do país farão uma solicitação nesse sentido. 

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