Depois de presidir na Basílica de São Pedro a Celebração Eucarística no Jubileu dos Reclusos (leia mais detalhes abaixo), o Papa Leão XIV rezou o Angelus da janela do apartamento pontifício com os 20 mil fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, no domingo, 14.

Antes da oração mariana, a inspirar sua reflexão, foi o Evangelho de Mateus (Mt 11,2-11) proposto pela liturgia do dia, cuja narrativa “leva-nos a visitar João Batista na prisão, onde se encontra detido por causa da sua pregação. Apesar disso – observa o Papa – ele não perde a esperança, tornando-se para nós um sinal de que a profecia, embora acorrentada, continua a ser uma voz livre em busca de verdade e justiça”.
Na prisão, João Batista ouve ‘falar das obras de Cristo’, que são diferentes das que ele esperava. Então, manda perguntar-lhe: ‘És Tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?’: “Quem busca a verdade e a justiça, quem espera pela liberdade e pela paz, questiona Jesus. É mesmo Ele o Messias, ou seja, o Salvador prometido por Deus pela boca dos profetas?”
E a resposta de Jesus – explicou Leão XIV – orienta o olhar para aqueles que Ele amou e serviu:
“São eles – os últimos, os pobres, os doentes – que falam por Ele. Cristo anuncia quem Ele é através das suas ações. O que Ele faz é para todos nós um sinal de salvação. Com efeito, quando encontra Jesus, a vida sem luz, sem palavra e sem sabor reencontra sentido: os cegos veem, os mudos falam, os surdos ouvem. A imagem de Deus, desfigurada pela lepra, recupera integridade e saúde. Até os mortos, totalmente insensíveis, voltam à vida. Este é o Evangelho de Jesus, a boa nova anunciada aos pobres: quando Deus vem ao mundo, vê-se!”.
A palavra de Jesus – acrescentou o Papa – liberta-nos da prisão do desconforto e do sofrimento: todas as profecias encontram Nele o esperado cumprimento: “Na verdade, é Cristo quem abre os olhos do homem à glória de Deus. Ele dá voz aos oprimidos, silenciados pela violência e pelo ódio; Ele vence as ideologias que impedem de ouvir a verdade; Ele cura das aparências que deformam o corpo. Assim, o Verbo da vida nos redime do mal, que conduz o coração à morte”.
Nesse sentido, como discípulos do Senhor, “somos chamados neste tempo de Advento a unir a espera do Salvador à atenção ao que Deus faz no mundo. Poderemos, então, experimentar a alegria da liberdade que encontra o seu Salvador: ‘Gaudete in Domino semper – Alegrai-vos sempre no Senhor’.
“É precisamente com este convite que começa a Santa Missa de hoje, 3º domingo do Advento, chamado por isso domingo Gaudete. Alegremo-nos, pois, porque Jesus é a nossa esperança, sobretudo nas horas de provação, quando a vida parece perder sentido e tudo se nos apresenta mais sombrio, quando nos faltam palavras e temos dificuldade em ouvir o próximo”, disse ainda.
Por fim, o Papa desejou que a Virgem Maria, modelo de expectativa, atenção e alegria, nos ajude a imitar a obra do seu Filho, partilhando com os pobres o pão e o Evangelho.
JUBILEU DOS RECLUSOS: ANISTIA E INDULTO
“Muitos ainda não compreendem que depois de cada queda deve ser possível levantar-se, que nenhum ser humano se reduz ao que fez e que a justiça é sempre um processo de reparação e reconciliação (…). Como sabemos, na sua origem bíblica, o Jubileu era precisamente um ano de graça em que a cada um se oferecia, de muitas maneiras, a possibilidade de recomeçar”.
O Jubileu dos Reclusos e de todos os envolvidos no mundo carcerário, celebrado neste final de semana, foi o últimos dos grandes eventos jubilares. E não por acaso, a escolha da data recaiu no 3o Domingo do Advento – o domingo Gaudete – começou explicando Leão XIV na homilia da missa na Basílica de São Pedro, na presença de 5 mil fiéis. Outros 2,5 mil acompanhavam a celebração da Praça São Pedro por telões.

Leão XIV destacou que ao aproximar-se o encerramento do Ano Jubilar, é preciso reconhecer que, apesar do empenho de muitos, ainda há muito a fazer no mundo carcerário: “O cárcere é um ambiente difícil, onde mesmo os melhores propósitos podem encontrar inúmeros obstáculos”, mas precisamente em função disso, “não devemos cansar-nos nem desanimar ou recuar, mas avançar com tenacidade, coragem e espírito de colaboração”.
“Com efeito – sublinha – muitos ainda não compreendem que depois de cada queda deve ser possível levantar-se, que nenhum ser humano se reduz ao que fez e que a justiça é sempre um processo de reparação e reconciliação”.
“Quando, mesmo em condições difíceis, se conservam a beleza dos sentimentos, a sensibilidade, a atenção às necessidades dos outros, o respeito, a capacidade de misericórdia e perdão, então, da terra dura do sofrimento e do pecado, brotam flores maravilhosas e, mesmo entre as paredes das prisões, amadurecem gestos, projetos e encontros únicos em humanidade”, prosseguiu o Pontífice.
Ao mencionar a profecia de Isaías proclamada na liturgia do dia, Leão XIV recordou o “compromisso de promover em todos os ambientes – hoje com destaque particular para as prisões – uma civilização fundada sobre novos critérios e, em última instância, sobre a caridade”.
“Com este objetivo, o Papa Francisco desejava, em particular, que por ocasião do Ano Santo fossem também concedidas ‘formas de anistia ou de perdão da pena, que ajudem as pessoas a recuperar a confiança em si mesmas e na sociedade’, e oferecer a todos oportunidades concretas de reinserção. Estou confiante de que em muitos países se dará seguimento ao seu desejo”, lembrou.

Por fim, Leão XIV destacou que a tarefa que o Senhor confia a reclusos e responsáveis pelo mundo carcerário não é fácil: “Os problemas a enfrentar são numerosos. Pensemos na sobrelotação, no empenho ainda insuficiente para garantir programas educativos estáveis de reabilitação e oportunidades de trabalho. E, a nível mais pessoal, não esqueçamos o peso do passado, as feridas a curar no corpo e no coração, as desilusões, a paciência infinita que é necessária – consigo mesmo e com os outros – quando se empreende um caminho de conversão, e a tentação de desistir ou deixar de perdoar. Não obstante o Senhor continua, acima de tudo, a repetir-nos que uma só coisa é importante: que ninguém se perca e que todos ‘sejam salvos’”.
Isso “é quanto deseja o nosso Deus, nisto consiste o seu Reino, em tal sentido se orienta a sua ação no mundo. Ao aproximar-se o Natal, queremos abraçar também nós e ainda com mais força o seu sonho, constantes no nosso empenho e confiantes. Porque sabemos que, mesmo diante dos maiores desafios, não estamos sozinhos: o Senhor está próximo, caminha conosco e, com Ele ao nosso lado, algo de belo e alegre acontecerá sempre”, concluiu.
Fonte: Vatican News





