Papa destaca que leigos não são ‘hóspedes’ na Igreja e critica o clericalismo

‘Chegou a hora de pastores e leigos caminharem juntos em cada âmbito da vida da Igreja, em todas as partes do mundo’, disse Francisco em audiência no Vaticano no sábado, 18 de fevereiro

Papa recebe participantes do Congresso dos presidentes e referentes das Comissões para o Laicato das Conferências Episcopais (foto: Vatican Media)

Os leigos não são “hóspedes” na Igreja, mas estão em sua casa: foi o que disse o Papa ao receber em audiência, no sábado, 18, os participantes do Congresso dos presidentes e referentes das Comissões para o Laicato das Conferências Episcopais.

O Congresso é uma iniciativa do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, com a finalidade de refletir sobre a corresponsabilidade de pastores e fiéis a caminharem juntos na Igreja.

Em seu discurso, o Papa se deteve sobre a dimensão “sinodal” desta caminhada, pedindo a superação de modos de agir autônomos, já que a sinodalidade encontra sua fonte e fim último na missão: “pastores e fiéis leigos juntos. Não indivíduos isolados, mas um povo que evangeliza”.

“Esta é a intuição que devemos ter sempre: a Igreja é o santo povo de Deus. Na Lumen gentium 8,12 é isto, não é populismo nem elitismo. Não. É o santo povo fiel de Deus. E isto não se aprende teoricamente, se entende vivendo”.

O SONHO DE UMA IGREJA MISSIONÁRIA

Francisco resgatou sua exortação apostólica Evangelii gaudium, na qual expressa o sonho de uma Igreja missionária, mas para isso a Igreja precisa ser sinodal.

“Sonho uma Igreja missionária. E me vem à mente uma figura do Apocalipse, quando Jesus diz: ‘Estou à porta e bato’. É verdade, era para entrar: ‘Se alguém me abrir, entrarei e comerei com ele’. Mas hoje o drama da Igreja é que Jesus continua a bater à porta, mas a partir de dentro, para que o deixem sair! Muitas vezes a Igreja acaba prisioneira que não deixa o Senhor sair, o tem como propriedade, e o Senhor veio para a missão e nos quer missionários.”

Para o Pontífice, este horizonte oferece a justa chave de leitura para o tema da corresponsabilidade, da valorização dos leigos. Isto não depende de uma alguma novidade teológica nem se trata de “reivindicações” de categoria, mas se baseia numa correta visão da Igreja como Povo de Deus, dos quais os leigos fazem plenamente parte com os ministros ordenados. “Eles não são donos, são os servidores”.

Francisco afirmou que é preciso recuperar uma “eclesiologia integral”, na qual deve ser acentuada a unidade, não a separação. O leigo não é um “não clérigo” ou um “não religioso”, mas batizado como membro do Povo santo de Deus. No Novo Testamento, disse o Papa, não aparece a palavra leigo, mas se fala de fiéis, discípulos, irmãos – termos aplicados a todos: leigos e ministros ordenados.

Portanto, o único elemento fundamental é a pertença a Cristo. Os mártires, por exemplo, não se declaram bispos ou leigos, mas cristãos.

“Também hoje, num mundo que se seculariza sempre mais, o que realmente nos distingue como Povo de Deus é a fé em Cristo, não o estado de vida. Somos batizados cristãos, discípulos de Cristo. Todo o resto é secundário”, seja sacerdote, bispo ou cardeal que seja.

LEIGOS NÃO SÃO ‘HÓSPEDES’ EM SUA PRÓPRIA CASA

Certamente os leigos são chamados a viver sua missão em ambientes seculares, mas isso não exclui que tenham capacidades, competências para contribuir para a vida da Igreja.

Neste processo, a formação dos leigos é indispensável para viver a corresponsabilidade. Formação não só acadêmica, mas prática, pois o apostolado laical é sobretudo testemunho.

“Também neste ponto, gostaria de destacar que a formação deve ser orientada para a missão, não só para as teorias, porque isso acaba nas ideologias. É terrível, é uma peste: a ideologia na Igreja é uma peste.” Por sua vez, os pastores também devem ser formados, desde o seminário, a uma colaboração cotidiana e ordinária com os leigos.

Esta corresponsabilidade permitirá superar dicotomias, medos e desconfianças recíprocas.

“Chegou a hora de pastores e leigos caminharem juntos em cada âmbito da vida da Igreja, em todas as partes do mundo. Os fiéis leigos não são ‘hóspedes’ na Igreja, estão em sua casa, por isso são chamados a cuidar da própria casa.”

Francisco pediu uma maior valorização dos leigos, sobretudo das mulheres, na vida das paróquias e dioceses. E ofereceu exemplos de colaboração com os sacerdotes: na formação de crianças e jovens, na preparação ao matrimônio, no acompanhamento da vida familiar, na organização de iniciativas, trabalhando nos escritórios das dioceses e contribuindo inclusive na formação de seminaristas e religiosos, recordando que um leigo também pode ser diretor espiritual.

CLERICALISMO, UMA PESTE NA IGREJA

“Poderemos dizer: leigos e pastores juntos na Igreja, leigos e pastores juntos no mundo”, concluiu o Papa, citando o livro Meditations sur l’Eglise, em que o Cardeal De Lubac alerta para o clericalismo.

“O clericalismo deve ser expulso. Um sacerdote, um bispo que cai nesta atitude faz muito mal à Igreja. Mas é uma doença contagiosa e pior que um padre ou bispo clerical são os leigos clericalizados: por favor, são uma peste na Igreja. Leigo é leigo.”

Francisco finalizou seu discurso recomendando que todos tenham no coração e na mente esta bela visão da Igreja: “Uma Igreja propensa à missão e onde se unificam as forças e se caminha juntos para evangelizar”.

Fonte: Vatican News

guest
5 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários
Sebastiao Antônio Cardoso Vieira
Sebastiao Antônio Cardoso Vieira
1 ano atrás

Concordo com papa, não deveria chamar as pessoas de Leigo, leigo no meu entender são pesdoas sem instrução escolar, eu mesmo não gosto que mim chamam de leiho dentro da igreja católica.

Adriana Brito
Adriana Brito
1 ano atrás

Papa Francisco, um visionário da Igreja! Excelente colocação para nossos tempos. Caminhar juntos como verdadeiros cristãos para que Jesus seja anunciado a todos sem distinção.

Fernanda Orsi
Fernanda Orsi
1 ano atrás

Maravilhoso!! Quando seremos capazes de realmente ouvir nosso querido Papa Francisco, e sermos Cristãos que seguem Jesus Cristo? E não apenas as nossas próprias crenças???

Carlos
Carlos
1 ano atrás

Todo leigo precisa de formação senao acabam virando donos da igreja. A função do leigo é tão importante quanto a de uma padre, bispo, porém é preciso ter compromisso e saber onde é seu lugar.

Ana Maria França
Ana Maria França
1 ano atrás

Antes do Concílio o Sacerdote celebrava de costas para o POVO . Atualmente ele celebra com os “LEIGOS” que ficam dentro do presbitério. Os demais continuam sendo “apenas” POVO. Papa está pedindo para todo LEIGO ser POVO e vice- versa; e para todo POVO exercer o “ seu” sacerdócio, incluindo os Sacerdotes. Todos somos BATiZADOs…e este CORPO tem diferentes “órgãos e membros”! Alguma vez alguém já nos disse isto … bom lembrar!♥️