Papa exorta jovens universitários da América a construírem pontes entre os povos

Reprodução da Loyola University Chicago

O Papa Francisco participou de um diálogo virtual com estudantes universitários do continente americano na quinta-feira, 24 de fevereiro. A iniciativa intitulada “Construindo Pontes Norte-Sul” foi promovida pela Loyola University Chicago e pela Pontifícia Comissão para a América Latina (CAL).

Durante mais de uma hora de conversa, o Pontífice e os estudantes falaram sobre a não violência, os migrantes, o meio ambiente, o relacionamento com os idosos e as novas tecnologias. Logo no início, foi feita uma oração a Nossa Senhora Rainha da Paz, pedindo especialmente pelo povo ucraniano, vítima da operação militar russa.

Conectado diretamente da Casa Santa Marta, sua residência no Vaticano, Francisco respondeu a perguntas de jovens de diferentes nacionalidades da América, entre os quais, a brasileira Marina Pascual Pizoni, estudante da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje) em Belo Horizonte (MG). Também participaram imigrantes e refugiados de outros continentes que atualmente vivem na América.

Divididos em quatro blocos e conectados com celulares, tablets e computadores, eles contaram brevemente ao Papa sua própria história, denunciaram as emergências em seus países e apresentaram projetos desenvolvidos nos últimos anos.

Logo no início de sua fala, o Santo Padre destacou a necessidade de se construir pontes entre os diferentes povos, expressão que ele usa com frequência em seus pronunciamentos e documentos. “Construir pontes é parte integrante da identidade cristã. Cristo veio para construir pontes entre o Pai e nós. Um cristão que não sabe construir pontes esqueceu seu Batismo”, disse.

MIGRANTES

No diálogo, foi dado amplo espaço ao tema da migração. Um jovem da América do Sul relatou a discriminação sofrida por sua família. “Não somos estupradores, assassinos, viciados em drogas. Somos sonhadores trabalhadores que oferecem o melhor de nós mesmos”, disse.

Em sua resposta, Francisco reiterou os quatro verbos que considera úteis para enfrentar o que ele descreveu como “um dos dramas mais graves” deste século. “Estamos vendo pessoas que deixam suas terras por problemas políticos, guerras, problemas econômicos e culturais. O princípio é muito claro: o migrante deve ser acolhido, acompanhado, promovido e integrado”, salientou, lembrando: “Eu mesmo sou filho de migrantes”, membro de uma família que deixou o Piemonte [na Itália] quando “meu pai era um jovem contador de 22 anos”.

O Pontífice recordou que os Estados Unidos, por exemplo, são “um país de migrantes: irlandeses, italianos…” e “até minha terra, a Argentina, é um coquetel de migrantes”. O Papa acrescentou que essa questão interpela a todos, especialmente os estudantes universitários que devem enfrentar, estudar e assumir o problema por meio de três linguagens “da cabeça, do coração e das mãos”, sem correr o risco de se tornar “frio, sem coração”.

REDE PARA SUPERAÇÃO DAS DESIGUALDADES

Os estudantes compartilharam suas impressões e sugestões para a superação da pobreza e das desigualdades sociais. Um jovem estudante da Universidade Católica de Honduras destacou que uma das motivações do fluxo migratório em sua região é a pobreza extrema, especialmente nas comunidades rurais.

“Propomos uma rede entre o mundo universitário, a Igreja, as empresas públicas e privadas e a sociedade civil, com o objetivo proeminente de realizar uma reativação econômica e social de cada um desses territórios, com um trabalho árduo e dinâmico que, por um lado, o estudo sistemático da situação econômica e social das comunidades rurais e sua influência na economia geral de cada país permita o desenvolvimento de um trabalho genuíno. Tudo isso, por meio de um acompanhamento psicossocial e recursos de formação e de introdução ao mundo do trabalho em colaboração com as universidades”, sugeriu o hondurenho.

NÃO VIOLÊNCIA

Ouvindo atentamente e tomando nota dos relatos dos jovens, o Pontífice respondeu às indagações de cada um, como a da estudante brasileira que denunciou a “violência dura e selvagem” vivida no País. O Papa enfatizou que a violência deve ser combatida com a “não violência ativa”. “Este é o maior desafio que se espera de vocês, a denúncia da violência… A violência destrói, não constrói, e vemos isso nas ditaduras militares e não militares ao longo da história. Precisamos da profecia da não violência. É muito mais fácil dar um tapa quando se leva um tapa do que dar a outra face”, disse o Pontífice, advertindo contra o “jogo da hipocrisia”, que, segundo ele, “envenena” a vida.

CUIDADO DA CRIAÇÃO

O Santo Padre também falou da harmonia em relação à criação, questão que mais de um estudante propôs em seu discurso. Foram citados números dramáticos: 20 milhões de pessoas por ano que fogem de suas terras devido às mudanças climáticas; uma previsão de 1 bilhão e 400 milhões de refugiados climáticos até 2060. O Papa reiterou seu convite ao cuidado da “casa comum” e lembrou um ditado espanhol: “O Senhor sempre perdoa, nós per- doamos às vezes, a natureza nunca perdoa”.

RAÍZES

O encontro virtual também foi oportunidade de refletir sobre o diálogo entre gerações, tema bastante caro a Francisco, estimulado por um jovem que utilizou a palavra “raízes” em sua fala. “Uma das coisas suicidas para uma sociedade é quando ela nega suas raízes. Todos devem cuidar de suas raízes. Por isso, insisto no diálogo entre idosos e jovens. Os idosos são as raízes, todos os frutos vêm das raízes”, afirmou o Papa que, novamente, se referiu aos migrantes, encorajando-os a se integrar aos países de acolhimento, porém, sem esquecer suas raízes.

IGREJA EM SAÍDA

Por fim, refletindo sobre o tema da sinodalidade, o Santo Padre renovou seu apelo a toda a Igreja para que seja cada vez mais “em saída”, expressão utilizada desde o início de seu pontificado.

Recordando uma passagem do livro do Apocalipse de São João, em que Jesus diz “Eis que estou à porta e bato. Se alguém a abrir eu entrarei”, o Santo Padre afirmou: “Jesus quer entrar na vida de cada um de vocês”, sublinhando que a Igreja tem o dever de ir ao encontro das pessoas para permitir que Jesus entre na vida delas.

(Com informações de Vatican News)

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