Papa Francisco: ‘As religiões estão a serviço da paz e da fraternidade’

Pontífice participou de evento que recordou histórico encontro convocado por São João Paulo II em 1986

Papa participa de cerimônia inter-religiosa pela paz, em Roma (Foto: Vatican Media)

O Papa Francisco participou nesta terça-feira, 20, de dois eventos que marcaram o Encontro Internacional de Oração pela Paz no Espírito de Assis, com o tema “Ninguém se salva sozinho – Paz e Fraternidade”, promovido pela Comunidade Santo Egídio.

Esta iniciativa anual de oração e diálogo em prol da paz, entre os fiéis de várias religiões, recorda o encontro convocado por São João Paulo II, em 1986, em Assis, na Itália.

O Pontífice esteve em uma oração ecumênica com representantes de outras denominações cristãs, na Basílica de Santa Maria em Aracoeli, em Roma. Em seguida, aconteceu uma cerimônia com representantes de diferentes tradições religiosas na Praça da Prefeitura de Roma, com a presença do Presidente da República Italiana Sergio Mattarella.

SALVA-SE A SI MESMO

Em sua homilia, na Basílica de Santa Maria o Papa recordou o trecho da Paixão do Senhor, quando Jesus vive o momento mais elevado da dor e do amor e muitos, sem piedade, lhe diziam: “Salve-te a ti mesmo!”

“Trata-se de uma tentação crucial que ameaça a todos, mesmo a nós cristãos: a tentação de pensar só em se defender ou ao próprio grupo, pensar apenas nos próprios problemas e interesses, quando tudo mais não importa. É um instinto muito humano, mas mal, e constitui o último desafio a Deus crucificado”, frisou o Papa.

Segundo o Pontífice, “no Calvário aconteceu o grande duelo entre Deus que veio nos salvar e o homem que quer salvar-se a si mesmo, entre a fé em Deus e o culto do eu, entre o homem que acusa e Deus que desculpa. E chegou a vitória de Deus; a sua misericórdia desceu sobre o mundo. Da cruz, brotou o perdão, renasceu a fraternidade.”

O AMOR APAGA O ÓDIO

Líderes cristãos participam de oração ecumênica (Foto: Vatican Media)

“‘A cruz nos torna irmãos’. Os braços de Jesus, abertos na cruz, assinalam uma mudança radical, porque Deus não aponta o dedo contra ninguém, mas abraça a cada um. Pois só o amor apaga o ódio, só o amor vence completamente a injustiça. Só o amor dá espaço ao outro. Só o amor é o caminho para a plena comunhão entre nós”.

Francisco concluiu, convidando todos a pedirem “a Deus crucificado a graça de sermos mais unidos, mais fraternos. Quando nos sentirmos tentados a seguir as lógicas do mundo, recordemos as palavras de Jesus:

“‘Quem quiser salvar a sua vida, há de perdê-la; mas, quem perder a sua vida por causa de Mim e do Evangelho, há de salvá-la’. Quanto mais estivermos agarrados ao Senhor Jesus, tanto mais seremos abertos e ‘universais’, porque nos sentiremos responsáveis pelos outros”.

PAZ E FRATERNIDADE

Na cerimônia inter-religiosa, na praça do Capitólio, no centro de Roma, o Papa Francisco em seu discurso manifestou alegria e gratidão a Deus por este momento de oração e pela presença do Patriarca Ecumênico Ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu I. “Muito aprecio o fato de que ele e outras personalidades, não obstante as dificuldades de viajar, tenham querido participar deste encontro de oração”, disse o Santo Padre.

Francisco recordou que ao olhar para trás, é possível se deparar com fatos dolorosos como conflitos, terrorismo ou radicalismo, às vezes, em nome da religião, mas também é possível reconhecer os passos frutuosos no diálogo entre as religiões. “É um sinal de esperança que nos incita a trabalhar juntos como irmãos”, acrescentou.

Citando um trecho de sua Encíclica “Fratelli tutti”, Francisco recordou que a diversidade de religião não justifica a indiferença nem a inimizade. Antes pelo contrário, a partir da fé religiosa, é possível tornar-se artesãos da paz e não espectadores inertes do mal da guerra e do ódio.

“As religiões estão a serviço da paz e da fraternidade. Por isso, este encontro impele os líderes religiosos e todos os fiéis a rezarem insistentemente pela paz, não se resignarem jamais com a guerra e agirem mediante a força suave da fé para pôr fim aos conflitos.”

UMA PRIORIDADE POLÍTICA

Pontífice discursa na Praça da Prefeitura de Roma (Foto: Vatican Media)

O Santo Padre recordou que o mundo tem uma sede de paz, pois muitos países sofrem com guerras, muitas vezes, esquecidas e que causam muito sofrimento e pobreza e salientou que hoje, as tribulações da guerra são agravadas pela pandemia de coronavírus e pela impossibilidade, em muitos países, de se ter acesso aos tratamentos necessários.

Por fim, Francisco destacou que os conflitos continuam e que à guerra é dever inadiável de todos os responsáveis políticos perante Deus, pois a paz é a prioridade de qualquer política. “Deus pedirá contas a quem não procurou a paz ou fomentou tensões e conflitos, de todos os dias, meses, anos de guerra que assolaram os povos”, completou.

“A fraternidade, que brota da consciência de sermos uma única humanidade, deve penetrar na vida dos povos, nas comunidades, no íntimo dos governantes, nos foros internacionais. Estamos juntos, nesta tarde, como pessoas de diferentes tradições religiosas, para comunicar uma mensagem de paz. Isto mostra claramente que as religiões não querem a guerra; pelo contrário, desmentem quem sacraliza a violência, pedem a todos que rezem pela reconciliação e atuem para que a fraternidade abra novas sendas de esperança”, concluiu o Papa.

(Com informações de Vatican News)

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