Em seu último compromisso no país europeu, o Pontífice encontrou-se com o mundo universitário e da cultura na Universidade Péter Pázmány
Ao cair da tarde do domingo, 30, em Budapeste, o Papa concluiu a viagem apostólica à Hungria, iniciada na sexta-feira, 28.
Da Universidade Católica Péter Pázmány, onde encontrou o mundo acadêmico e universitário (leia detalhes abaixo), o Pontifície deslocou-se ao Aeroporto Internacional de Budapeste, distante 20 km, onde foi acolhido na pista pela presidente Katalin Novák, pelo vice-primeiro ministro e por crianças que agitavam bandeiras do Vaticano e da Hungria.
O Santo Padre recebeu uma rosa branca, agradecimentos por sua vista e generosidade e saudou o séquito local e a delegação húngara, sendo o último a embarcar. Não houve discursos.
Atento à situação atual, o Papa visitou o país como “construtor de pontes entre os povos”, com um olhar voltado a um futuro de paz e fraternidade, a paz que foi um tema recorrente em seus seis pronunciamentos. A Hungria faz fronteira com a Ucrânia e acolhe milhares de refugiados da guerra.
Em sua alocução antes de rezar o Regina Coeli na manhã deste domingo, pediu à Virgem Santa para “infundir nos corações dos homens e dos líderes das nações o desejo de construir a paz, de dar às jovens gerações um futuro de esperança, não de guerra; um futuro cheio de berços, não de túmulos; um mundo de irmãos, não de muros.
“Tomar a vida em suas próprias mãos para ajudar o mundo a viver em paz” foi por sua vez seu convite aos cerca de 12.000 jovens reunidos no Palácio dos Esportes de Budapeste, no sábado, 29.
“O zelo pela missão é anestesiado pelo nosso viver na segurança e na comodidade, enquanto a poucos quilômetros daqui a guerra e o sofrimento estão na ordem do dia”, sublinhou o Pontífice que, entre os testemunhos dos jovens, ouviu também o deTodor Levcsenko, de 17 anos, da Eparquia de Munkachevo, na Ucrânia.
E foi na história húngara, seus personagens ilustres, seus santos e em suas raízes cristãs que o Pontífice buscou inspiração em seus pronunciamentos para encorajar o presente a ter esperança em um futuro de paz e fraternidade entre os povos.
ENCONTRO COM O MUNDO DA CULTURA E UNIVERSITÁRIOS
Na tarde do domingo, 30, o último compromisso do Papa na Hungria foi um encontro com o mundo universitário e da cultura, na Faculdade de Tecnologia da Informação e Biônica da Universidade Católica Péter Pázmány.
No início de seu discurso, o Pontífice afirmou que a cultura é como um grande rio – fazendo alusão ao Danúbio que corta a capital Budapeste – “que percorre várias regiões da vida e da história relacionando-as, permite navegar pelo mundo e abraçar países e terras distantes, sacia a mente, irriga a alma, faz crescer a sociedade.”
Citou ainda Romano Guardini, e as duas formas de conhecimento por ele destacadas: aquele conhecimento humilde e relacional e o que não observa, mas analisa. Guardini não demoniza a tecnologia, diz Francisco, mas, nesta segunda forma, alerta para o risco de ela se tornar reguladora, se não dominadora, da vida: “O saber requer uma semeadura diária que, mergulhando nos sulcos da realidade, dá fruto.”
“A vida pode permanecer vivível? É uma questão que será bom pormo-nos, especialmente neste lugar onde se aprofundam a informática e as ciências biónicas”, refletiu o Santo Padre, aprofundando a questão que pode nascer do risco de uma vida “enquadrada num sistema de máquinas”, causando solidão e a erosão dos laços comunitários.
“Quantos indivíduos isolados – muita rede social, mas pouco sociais – recorrem, como num círculo vicioso, às consolações da tecnologia para preencher o vazio que sentem, correndo de forma ainda mais frenética, enquanto, súcubos dum capitalismo selvagem, sentem como mais dolorosas as suas fragilidades, numa sociedade onde a velocidade exterior anda de mãos dadas com a fragilidade interior.”
Não querendo ser pessimista, o Papa afirma ter-se demorado em “tons sombrios” porque é precisamente em tal contexto que melhor resplandecem os papéis da cultura e da universidade. E ressaltou então o seu papel: “A universidade é o lugar onde o pensamento nasce, cresce e matura aberto e sinfônico.”
“De fato a universidade, como o próprio nome indica, é o lugar onde o pensamento nasce, cresce e matura aberto e sinfônico. Não monocorde, não fechado. Aberto e sinfônico. É o ‘templo’ onde o conhecimento é chamado a libertar-se dos limites estreitos do ter e do possuir para se tornar cultura, isto é, «cultivação» do homem e das suas relações fundantes: com o transcendente, com a sociedade, com a história, com a criação.”
“É verdade! Os grandes intelectuais são humildes.” Ressaltou ainda o Pontífice, sublinhando que, de fato, quem ama a cultura nunca sente ter chegado ao fim acomodando-se, mas sente dentro de si uma saudável inquietação.
Por fim, Francisco deixou aos presentes duas frases orientadoras: “Conhece-te a ti mesmo”, o oráculo de Delfos, e “a verdade vos tornará livres”, palavras ditas por Jesus no evangelho de São João (8,32), alertando o povo da Hungria do risco de passarem do comunismo ao consumismo, com a falsa ideia de liberdade. E deixou seus votos para a Universidade Péter Pázmány e para todas as Universidades: “que sejam um centro de universalidade e liberdade, um fecundo estaleiro de humanismo, um laboratório de esperança.”
Fonte: Vatican News